Sunday, December 23

Espírito do Natal Presente

Não sei se sou a única a mudar de canal quando chega o noticiário repleto de centros comerciais e prendinhas para a nora. Ou a contemplar aqueles pais natais minúsculos pendurados como sob uma autêntica tortura com quase pena. Certo é que não desejo nunca bom natal a ninguém no fim de uma conversa, e normalmente só me resta adicionar "igualmente...", baixinho, com o ar culpado de quem não se lembrou da palavra passe essencial para as boas relações comerciais nesta quadra.

Mas também já fui apanhada pelo espírito, e heis-me aqui crucificada sob azevinho, papel de embrulho e bolo rei.

Saturday, December 22

Half a year holding hands




"Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que tua pele ser pele da minha pele"

David Mourão-Ferreira

Tuesday, December 18

"voar é uma simples coisa comparando com Blimunda."

in Memorial do Convento, José Saramago

Bichinho verde

"Faça-se a quem se queira a fineza de achar que mais alguém o há-de querer também. Desconfiar de quem se ama significa dizer, de uma maneira perversa mas verdadeira: "Se calhar estarias melhor com outra pessoa mas eu, com outra pessoa, estaria sempre pior." Quem tem ciúmes tem medo de perder (...). Quem tem medo de perder obviamente preza o que tem. Logo, ter ciúmes de alguém é dar-lhe o justo valor."

In Os Meus Problemas, de Miguel Esteves Cardoso

Boa desculpa?

Sunday, December 16

Ódios de Estimação

Sempre fui adepta da franqueza absoluta. Daquela que dói e fere algumas vezes, daquela que faz rir também, quando nos perguntam o que achamos do cachecol e respondemos simplesmente que é horrível. Nunca percebi porque é que algumas pessoas preferem falar do ausente, do que acabou de sair ou está mesmo a apenas alguns metros de distância (factor que adiciona o seu quê de adrenalina). Precisei mesmo de ajuda para entender o gozo; afinal é mais fácil falar de outrem e por favor que ele não esteja presente!, já imaginaram se por acaso tem razão e eu não, que chatice se estiver logo ali para me corrigir, assim ao menos temos o tempo que demoram as notícias a chegar (que nunca é muito, então agora com o evento da globalização), e a adulteração destas pelo volútel ouvido humano.

Para quê fazermos barulho, cenas públicas e outras vergonhas quando podemos conversar tranquilamente sobre vidas que desconhecemos mas onde estamos doidos por meter o bedelho, que é a única coisa que estamos sempre prontos a meter em todo o lado? ("Bedelho: s.m:tranqueta ou ferrolho de porta que se levanta por meio da aldrava; rapazelho; criançola; fedelho;pequeno trunfo, no jogo de cartas; Fig:meter o -: intrometer-se sem ser chamado." in Dicionário Priberam)

Para deixarmos de fingir que somos os guardiões da pureza dos outros.

Eu sou pela liberdade de se dizer uma palavra feia quando alguém se mete na nossa vida. E de a dizer à frente de quem lá se meteu.
Detesto mesquinhice.

(Com um beijo à Mad que definiu o conceito)


http://unifr.ch/ddp1/derechopenal/legislacion/pt/CPPortugal.pdf

Sunday, December 9


Foto tirada no Castelo de S.Jorge. Agosto 2007

Friday, December 7



Dado a conhecer por Amélia Pais, http://barcosflores.blogspot.com/

Monday, November 26

Ode à eternidade

"Si nous habitons un éclair, il est le coeur de l'éternel" René Char

Lado lunar de uma estrela ardida, sento-me nas arcadas.
Falo para as paredes para o tecto para o céu
Aquele que tu vês invertido numa lógica que escapa
Aos alcances humanos, prova irrefutável da tua divindade.

Como tudo o que não sou e que gostava de ser
Te falo e te imploro, responde, cala
E a medida do meu amor é não se medir
Por tempo, espaço ou outra convenção qualquer
Daquelas que eles inventaram para ser relativas.

Vejo-te usar a luz ao pulso, o meu coração à banda,
Ficam-te bem.
Quem me dera não ser este pensamento, esta idade,
Presa por candeias de fumo que mais não fazem
Senão perder-nos em nevoeiro.

Quando afinal.

Tu eu qual é a diferença
Se do teu peito ao meu a distância é nula,
Se os teus reflexos iluminam ou obscurem os meus sentidos
E o braço que levas ao chão é para me amparar a queda.

Maneira de Ser/Estar, Hora Momento,
Ensina-me!
Faz-me ver por onde errei até ti.
(Caminhos de que não me lembro.)

Porque os meus passos não foram certos como
Os teus nem o almejam ser,
Na palma da tua mão repousam todos os sonhos do mundo
E neles constróis esta mulher-criança.

Perdi muitas oportunidades, de ser quem era e de ser quem sou,
Fui muito o que esqueci e que talvez nunca tenha sido.
Ajuda-me a voltar a não ser o que não queira
E a encontrar o que afinal serei um dia, este ou outro qualquer
Em que me encontre contigo como agora.

Ambrósio, apetecia-me algo (para a minha mãe)

"Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. (...)"

Excerto de Tabacaria, Álvaro de Campos

Monday, November 19

Ícaro

Olho, e o que vejo são marés
Que te levam e te trazem na espuma
Dos dias passados e das noites vindouras.
Vieste da Vida para os meus braços
Ou renasceste dela para o Mundo?
Pareces um anjo que se esqueceu
De como seria usar as asas para voar.

Thursday, November 15

Primeiros Exemplares II


Rua Sésamo

Às vezes
tenho quase a certeza
de que sou o protagonista
e não uma das outras marionetas

Às vezes
rio com a evidência
de que nunca passei de uma marioneta
com a mania do protagonismo.

Paulo Tavares, in Pêndulo

Monday, November 12

Primeiros exemplares


O orgulho por via indirecta, e ser o primeiro testemunho publicitário.

Monday, November 5

Definitely no

Do grego Ataraxia: «impassibilidade». Introduzido por Demócrito, e utilizado sobretudo pelos epicuristas e estóicos, o termo significa tranquilidade da alma - ausência de perturbação. Os estóicos identificam a ataraxia com a apatia, isto é, a serenidade intelectual, o domínio de si, o estado da alma que se tornou estranha às desordens das paixões e insensível à dor, rejeitando a procura da felicidade; já que as "coisas" não podem ser de outro modo, o mais sensato é acomodarmo-nos.
Os cépticos e os epicuristas procuram o mesmo através da ataraxia, atitude que, sem renunciar à amizade, à compaixão, ao prazer ou à dor, não permite a perda do equilíbrio espiritual. Epicuro entende que se chega à felicidade pelo prazer, mas, porque alguns prazeres se revelam nefastos, é necessáriofazer uma "triagem", rejeitando aqueles que não são naturais ou não são necessários à nossa paz: o prazer é, então, ausência de perturbações passionais da alma.

Thursday, November 1

Part I - Soirée


Um computador no colo. Uma porta aberta para uma infinidade de janelas manipuláveis. Flash. O som clicante de uma exploração abusiva. Uma tentativa de escrita. Bebedeiras psicológicas -Hoje não sei se estou cá, se estou lá- Sentimentos partilhados numa comunhão de dores corporais. Insultos. Apenas formas de usar as palavras como se usa o olhar para falar coisas que não se dizem. Estados de nebulosidade, de sombra. Leves ronronares, pesados risos. Papéis de chocolate deixados no sofá, nos bolsos do casaco. Velocidade, objectiva, focagem. Pedaços soltos de pedras e prisão de ventre. Hoje não é definitivamente dia para absolutismos, sejamos vagos e poéticos como Caeiro, pensar é não compreender, Tenho demasiado sono Faz frio Não confio em ti Dá-me o que de meu a mim pertence Ai que és sempre a mesma coisa Dá-me Agora fizeste-me lembrar alguém. Baladas sob o sol, sumo vermelho debaixo dos pés que o pisam porque a gente não passa do chão e ainda não aprendeu a voar como os pássaros. Vícios particulares, compreensões inexplicadas por sorrisos oblíquos. Os piratas também têm cemitério, deixa-me respirar do vale para a montanha esta liberdade campestre, água fria uma vela e um pedaço de bôla.

Escreve um livro.


Fontelo, 5 de Outubro de 2007
(Foto tirada a 6/10/07)

Wednesday, October 17

Paroles d'hirondelle et bouvreuil


Ses mains sont des fleurs d'hiver
Qui me survolent jusqu'au printemps.
Je ne savais pas qu'il était possible
D'avoir des doigts comme les siens,
Des bras qui m'embrassent avec tendresse,
Un regard qui me fait brûler
Dans une nuit de tous les sens.

Il est ma fin, ma vie, mon destin,
Son corps entière me fait rêver.
Tout ce que je peux espérer de lui
C'est qu'il ne me laisse pas tomber.

Tuesday, October 9

"Contigo ao lado, as palavras fazem todo o sentido porque posso contrariar qualquer sentido das palavras."

Parting (the art of saying goodbye)

He. Dear, I must be gone
While night Shuts the eyes
Of the household spies;
That song announces dawn.

She. No, night's bird and love's
Bids all true lovers rest,
While his loud song reproves
The murderous stealth of day.

He. Daylight already flies
From mountain crest to crest

She. That light is from the moon.

He. That bird...

She. Let him sing on,I offer to love's play
My dark declivities

Yeats, in A woman young and old

Wednesday, September 26

Eu? Portuguesa.

Do país do bacalhau, do fado e da saudade.

Diálogos

"(...) Debalde lhe lembrava que os astros influem no destino de cada um, mas nada decidem, e que tão forte, tão misterioso como eles, regulando a nossa vida, obedecebdo a leis mais complicadas do que as nossas, é essoutro astro vermelho que palpita no mais escuro do corpo, suspenso da sua gaiola feita de ossos e carnes."
Marguerite Yourcenar, A Obra ao Negro

Instinto e amor.

"Homem livre é aquele que quer sem a arrogância da arbitrariedade. Crê na realidade, quer dizer, no elo real que une a dualidade real do eu e do Tu. Crê no Destino e crê que o Destino precisa dele... Porque aquilo que deve acontecer não acontecerá se ele não estiver decidido a querer o que é capaz de querer."
Martin Buber, Eu e Tu

Monday, September 24

As Palavras Interditas

Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela as
primeiras luzes das colinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade

Monday, September 3

Gato que brincas na rua


La nuit n'est autre chose qu'un chat noir, de dimensions telles, qu'il masque le soleil, et que les hommes ne peuvent voir qu'un des ses yeux: la lune. Quand il fait jour, c'est que le chat n'est pas là.

Les Pensées du chat noire- Jules Jouy
Há Tarantino. E há todos os outros.
(imagem agradecidamente subtraida ao Desgraça Completa)

Friday, August 31

De um castelo para a mesa

Amo-te no alto da tua ausência, por
Palavras que não são minhas, mas
Escritas antes de mim para te descrever.
Procuro o teu cheiro por entre as
Páginas que compõem o poema e encontro-o
Na curva das coisas que deixámos, talvez.
Para trás esquecidas de enamoramento.
E será ilusão do anoitecer, aquele
Momento onde tudo parece feito
Ser encontrado outra vez, quando
Ninguém nunca soube o que procurava.
E é nesse momento de revelação numa
Noite cheia de sol e de sussurros
Que vejo a transparência da tua imagem desaparecer
Por detrás dum gesto esboçado no meu corpo.

23 Agosto 2007

Friday, August 10

Guantanamera

Ser imigrante é não ser de lá nem de cá. É falar um pouco de duas línguas, misturá-las ao sabor das palavras e esquecer como se costumáva escrever "a minha terra", mas continuar orgulhoso dela. É uma infância de trabalho prematuro, é não saber por que equipa gritar no calor do mundial. Que prendas levar para a família das férias e dos feríados. É formar uma nova família que não queremos deixar no momento de voltar para casa.
Imigrar é uma necessidade involuntária ou prazentosa que dá origem a ainda mais amor ou a desprendimento. Arriscamo-nos a nunca regressar, mesmo que não tenhamos verdadeiramente partido.
21-07

Tuesday, July 10

Everytime we say goodbye

Eu sou o caminho e um peregrino e todas as velas que alguma vez se fizeram ao mar
in As Pontes de Madison Country

(France, here I come)

Sunday, July 8

II
Houses and rooms are full of perfumes, the shelves are crowded with perfumes,
I breathe the fragrance myself and know it and like it,
The distillation would intoxicate me also, but I shall not let it.

The atmosphere is not a perfume, it has no taste of the distillation, it is odorless,
It is for my mouth forever, I am in love with it,
I will go to the bank by the wood and become undisguised and naked,
I am mad for it to be in contact with me.

The smoke of my own breath,
Echoes, ripples, buzz'd whispers, love-root, silk-thread, crotch and vine,
My respiration and inspiration, the beating of my heart, the passing of blood and air through my lungs,
The sniff of green leaves and dry leaves, and of the shore and dark-color'd sea-rocks, and of hay in the barn,

The sound of the belch'd words of my voice loos'd to the eddies of the wind,
A few light kisses, a few embraces, a reaching around of arms,
The play of shine and shade on the trees as the supple boughs wag,
The delight alone or in the rush of the streets, or along the fields and hill-sides,
The feeling of health, the full-noon trill, the song of me rising from bed and meeting the sun.

Have you reckon'd a thousand acres much? have you reckon'd the earth much?
Have you practis'd so long to learn to read?
Have you felt so proud to get at the meaning of poems?

Stop this day and night with me and you shall possess the origin of all poems,
You shall possess the good of the earth and sun, (there are millions of suns left,)
You shall no longer take things at second or third hand, nor look through the eyes of the dead, nor feed on the spectres in books,
You shall not look through my eyes either, nor take things from me,
You shall listen to all sides and filter them from your self.

Walt Whitman, Canto de Mim Mesmo

My wonder

"O sete é um número mágico. Há sete dias numa semana, sete maravilhas do Mundo, sete cores no arco-íris, sete notas numa escala. Cada período lunar dura sete dias e e o mês lunar 28 (quatro vezes sete).
Hipócrates defendia que O número sete, através das suas virtudes ocultas, conserva tudo na Natureza. Administra a vida e o movimento. Influencia até os seres celestiais. "

in Reader's Digest, Julho de 2002

Tuesday, July 3

D'este viver aqui neste papel descripto

Ela vem "ver o que escrevi todos os dias para saber como é que estou, embora não diga nada". Por isso deixo aqui uma frase para que a leia, e nunca se esqueça que me terá sempre a seu lado.
Vivemos tanta coisa juntos que é isso que ponho debaixo da cabeça, como um travesseiro, para poder dormir. Lobo Antunes

Just like heaven


"Aqueço-me com isto. Ao seu calor
O nosso sangue é um e amadurece
Boa-noite meu amor.
Boa-noite, que amanhece."
Pedro Támen

Saturday, June 30

Sway


Dançar é partilhar o espaço pessoal com alguém. Não é de todo fácil, mas acontece melhor quanto melhor se conhece a pessoa com quem o estamos a partilhar, ou quanta mais intimidade temos, ou quanto mais hábito e experiência, ou tudo junto. Não é preciso música para dançar, nem sequer é preciso conhecer os passos. É preciso ritmo. Querer, desejo, liberdade. Um par. Há quem diga que se dança tanto melhor quanto mais se consegue desenhar em gestos a vontade de estar nos braços da outra pessoa. Certo é que dançamos todos os dias, até com o padeiro. A vida é o estilo de dança mais difícil de todos.

Che


Porque sou jovem, e os jovens pensam que vão mudar o mundo...


"Toda a nossa acção é um grito de guerra (...) Em qualquer lugar que nos surpreenda a morte, bem vinda seja, sempre que esse nosso grito de guerra tenha chegado a um ouvido receptivo e outra mão se estenda para empunhar as nossas armas."

Friday, June 22

"A luta entre o pouco que somos e o muito que quereríamos alcançar, "sonhos de voar" (...) mas a palavra vertigem é a que melhor resume o susto implícito da loucura, embora disfarçado, um medo que se esconde para que os outros não se assustem."
in A Rainha das Neves de Carmen M. Gaite

I surrender, dear

"É como o processo de nascimento de dois corpos celestes que órbitam um com o outro enquanto deambulam pelo universo. A coincidência - ou não - inicial passa a dar lugar a um fenómeno natural. Mesmo acabando as aparentes coincidências o processo perdura nos corpos e na viagem. No tempo e no espaço."

Sunday, June 17

Quem és tu?
Perturbas-me, interferes.
Ainda não estou pronta para me dar.
Provocas-me.
Não te quero magoar, mas sinto-te.
Continuo a olhar para trás
Se me chamarem respondo a outro nome
Provoca-me.
Leva-me contigo.
Vou deixar-me e sigo-te.
Quero encontrar-te.

There's so much about me you don't know yet!
I'm afraid you'll run away.
Stay.
Take me to that place where words aren't necessary.

Saturday, June 16


"Quando chove o meu coração não é meu. Gostaria de não ter coração - que outra pessoa qualquer, que gostasse de mim o tivesse." Miguel Esteves Cardoso

À l'ombre de la lune

À l'ombre de la lune, comble d'infortune, j'ai tissé le fil qui nous défait
dans les langueurs marines des nareés salines, ja'i gâche le grand amour, le vrai
car l'unique inoubliable amour est si friable, il se délit ao vent
rien ne sera jamais plus comme avant, comme avant...

À l'ombre de la lune, je comble mes lacunes, je bats la campagne à grand regret
dans les vapeurs soudaines de ces soireés mondaines, j'ai gachê le grand amour, le vrai,
car l'unique inoubliable amour est si friable, il se délit ao vent
rien se sera jamais plus comme avant...

Françoise Hardy

Sunday, June 10

Roland Garros


As férias começaram e já há tempo para seguir umas partidas de ténis. E para ver os melhores jogadores ganharem.
Este é para todos aqueles que duvidaram.

Tuesday, June 5

Rondel de L'Adieu

Partir, c'est mourir un peu,
C'est mourir à ce qu'on aime:
On laisse un peu de soi-même
En toute heure et dans tout lieu.

C'est toujours le deuil d'un voeu,
Le dernier vers d'un poème:
Partir c'est mourir un peu.

Et l'on part, et c'est un jeu,
Et jusqu'à l'adieu suprême
C'est son âme que l'on sème
Que l'on sème à chaque adieu:
Partir, c'est mourir un peu.

Edmond Haraucourt

Thursday, May 31

O Beijo


"La méthode utilisée par Rodin pour faire ses sculptures de grande taille consistait à employer des sculpteurs qui taillaient à l'échelle un modèle plus petit dans un matériau plus facile à tailler que le marbre et une fois terminées, Rodin donnait la dernière touche lui-même."

Fly me to the moon
Let me sing among those stars
Let me see what spring is like
On jupiter and mars
In other words, hold my hand
In other words, baby kiss me
Fill my heart with song
Let me sing for ever more
You are all I long for
All I worship and adore
In other words, please be true
In other words, I love you

Sinatra

la recta es la expressión del infinito




"Duas linhas paralelas encontram-se no infinito"
Euclides

Wednesday, May 23

Quem de nós dois

Quero poder voar, quero conseguir sonhar com outros caminhos. Outros destinos, ao virar de cada esquina. Porque ficar presa a cadeias que são de fumo? Se as fases da lua dependem do brilho do sol estão erradas, e enganam-se a cada noite de luar que passa. Ser opção não se tolera. Pelo menos não se devia. Estou farta de usos e abusos. E de não passar incolúme, sabendo o que me espera a seguir e dando a volta por outro lado. Que não passe por ti. Porquê que todos os pedaços me levam , me trazem para este beco? Outra e outra vez. Até aprender a esquecer. E a lembrar só o que é bom de lembrar. para que os gestos não sejam rudes, e os olhares desviados. Ou para serem em si mesmos, por si mesmos, somente.

A vida podia ser linear. Perdia a graça, deixava de viver, mas tinhamos as respostas. Não havia sequer perguntas. Linear. Para não haverem áreas cinzentas, e o amigo ser amigo simplesmente. Pra ouvir o que tem de ser ouvido, e nem se perceber o que não faz diferença. -Sou incapaz de arder- Ser os sentimentos à flor da pele. Lágrimas pela paixão defunta. Sem amarguras recalcadas. Como alguns, transparente. -Não és um homem. Nunca serás. Deixa-te de merdas. Não és para mim- Se não são capazes de reconhecer uma falta, ausência condensada que se transforma em saudade, não sentem o momento em que se formam nuvens na atmosfera -"Tirar as papoilas que estão no meio do trigo"- Parte da natureza, é o mesmo que não me reconhecer na inclinação do vento. Não se ama quem não reconhece a mesma canção. O cheiro, o toque, a marca tão profunda do andar, os passos deixados na areia. -É tão mau fechar a alma. Fechá-la, repentinamente insensivel ao calor de uma presença. Sabes que a culpa é tua- A vontade de deixar a onda afastar-se, chorando apenas a ua ausência. Ou quem sabe saudade. A saudade de algo mais antigo, anterior a ti; Um querer viver sem questionar isso. Depois, quem sabe o que virá. Quem derá saber!... Perder a fala num desespero de manhã ansiado. -Suspira. Nem mesmo o teu suspiro quebra a madrugada- The eternal sunshine of the spotless mind. palavras dolorosas mudam o mundo, por isso toma cuidado com o que dizes. para que nunca venha um golpe que não esperas. -Vinga-te. Vinga-te no tempo que perdemos e que nunca vamos ter. Vinga-te na minha imagem. Ela não se pode defender- Se pararmos o curso do rio, seremos a espuma efémera? Porque ela é-o sempre. E o seu amor não dói.

(Março/2007)

Saturday, May 19

Stain Boy


"Of all the super heroes,
the strangest one by far,
doesn't have a special power,
or drive a fancy car.
Next to Superman and batman,
I guess he must seem tame.
But to me he is quite special,
and Stain Boy is his name.
He can't fly around tall buildings,
or outrun a speeding train,
the only talent he seems to have
is to leave a nasty stain.
Sometimes I know it bothers him,
that he can't run or swim or fly,
and because of this one ability,
his dry cleaning bill is sky-high."


Tim Burton

My Interpretation

"We are, with no shadow of doubt reflections of the eyes that look upon us."

Vivemos paralelamente entre dois mundos como estranhos
e só a invenção pode constituir a fábula
de uma unidade que será sempre incerta ou futura ou improvável

António Ramos Rosa

-Que te parece. Se ainda por cima é só uma cena, aquela, deveras nó-na-garganta, aperto-no-peito e arrepio pela espinha!
- Tens a certeza de que te queres ir embora?...

A alma é um vento. Pode cobrir mar e terra. Mas não é da terra nem do mar. A alma é um vento. E nós somos um agitar de folha, nos braços da ventania.
Mia Couto

"Recordam-me os tempos em que estavamos naquelas ameias de castelos nórdicos e esperávamos pelo fim da guerra comemorando ao som de belas melodias... Comemorando o quê? Não sei, mas éramos princesas..." Mi ma bo.

Dói tanto crescer.

Sunday, May 13

"Existir é isso: beber-se a si próprio sem ter sede"

Jean Paul-Sartre in A idade da razão
Perdi-me dentro de mim.
Já não sei o que sinto.
Fujo, escondo meu olhar
E à minha alma minto.

Passo vazia pela madrugada
Vejo pássaros de mil cores
Mas tudo que ouço à minha volta
É o rosário de minhas dores.

Oh, quem me dera ser ave
Que voasse livre e sem destino!
Ou fera selvagem que pudesse
Soltar seu grito felino!

Poderia também ter nascido
Como doce amor-perfeito
Só para que me prendesses
E apertasses em teu peito.
(28-03-2006)

Saturday, May 12

Portas do Sol



Santarém é um livro de pedra em que a mais interessante e mais poética parte das nossas crónicas está escrita.
Almeida Garrett

A Une Terre D'Aube

"Apaisé maintenant, te souviens-tu
D'un temps où nous luttions à grandes armes,
Que restait-il
Dans nos coeurs qu'un désir de nous perdre, infini?"
Yves Bonnefoy

Friday, May 11

Acordar - Álvaro de Campos


"Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras,
Acordar da Rua do Ouro,
Acordar do Rossio, às portas dos cafés,
Acordar
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme,
Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono.
Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar,
Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo.
À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se
Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma,
E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo.

Uma espiritualidade feita com a nossa própria carne,
Um alívio de viver de que o nosso corpo partilha,
Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode acontecer de bom,
São os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada,
Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes,
Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vão leste-oeste,
Seja

A mulher que chora baixinho
Entre o ruído da multidão em vivas...
O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito,
Cheio de individualidade para quem repara...
O arcanjo isolado, escultura numa catedral,
Siringe fugindo aos braços estendidos de Pã,
Tudo isto tende para o mesmo centro,
Busca encontrar-se e fundir-se
Na minha alma.

Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo
Do que as que vi ou verei.
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.

Wednesday, May 9

Pourquoi pas

Porque foi talvez a melhor resposta que já me deram.

"O que é a escrita, o que é a poesia? Escrevemos para nós, claro. Um acto de revelação pessoal. Uma frase que descobri há pouco tempo ao preparar uma aula de inglês (aprende-se muito nestas coisas): "How can I know what I think until I see what I say?".
Mas, ou porque queremos mudar o mundo, ou porque queremos comunicar alguma coisa, escrevemos, tentando aproximar o que dizemos daquilo que queremos e gostaríamos de dizer, e isso explica os blogs. Transmitir uma mensagem implica a escrita e os blogs porque o conteúdo de uma ideia é inseparável da forma."
Luís Lucas

A garfada perfeita


"-São sempre assim quando vem cá alguém ou é só por ser eu?...
- É mesmo por seres tu. Eu não acredito que compraram compota!
- Não sabia que ia lanchar com os meus sogros?!"

Inevitável

Apagar-te seria, na melhor das hipóteses, a salvação possivel. Esquecer-te o crime que minha alma não se permite cometer. Diz-me, achas que vale a pena continuar esta farsa do tu não sentes e eu não sei. Sabes que sinto. Jogos atrás de jogos, a vida num tabuleiro sem regras e com um único tirano. Que não pode. Essa é a maior ironia, que ele tenha nas mãos o coração de resposta e não possa.
Mas eu sim.
Corro para enganar o tempo, abraço pra matar o esquecimento.As saudades teimam em vir para impedir o girar do mundo. O beijo proibido que aflora á superficie do movimento,quando o desejo se torna mais forte que a sensatez. E a resposta que a tua boca recusa. Tudo são luas que alternam as minhas marés. Sou gaivota que odeias, folha que glorificas e maça que não queres provar. Teu anjo na escuridão e companheira dos teus mundos solitários. Sigo o teu caminho porque não conheço outro.
Vou continuar a querer-te nas palavras sombrias, no gosto amargo da eternidade que me recusas, até que saibas que não o posso evitar.

Nada a fazer... Quero-te sem apelo nem agravo.
03-09-2006

Sunday, May 6

Luz (a ideia de um céu)

Eu vi um anjo
Descer de uma trepadeira vinda do céu.
Olhos estrelas brilhantes
Cabelos que de oiro se agitam
Numa promessa de sonho infinito
Alcançado na palma da mão.
Em vez do som de sinos
Esperado por todos os acreditados enganos
Uma harpa de flores tingida
Faz soar o peso dos anos
Perdidos á espera desta aparição.
Há quem diga que luzes
Nesse dia iluminaram o mar
E milhares de vozes se uniram
E num cântigo único surgiram
De anjos, homens e fadas
Disfarçados na quietude embalada
De um desejo e de um bater de asas.
16-11-06

Encore toi

No te quiero sino porque te quiero
y de quererte a no quererte llego
de esperarte cuando no te espero
pasa mi corazón del frío al fuego.

Te quiero sólo porque a ti te quiero,
te odio sin fin, y odiándote te ruego,
y la medida de mi amor viajero
es no verte y amarte como un ciego.

Tal vez consumirá la luz de enero,
su rayo cruel, mi corazón entero,
robándome la llave del sosiego.

En esta historia sólo yo me muero
y moriré de amor porque te quiero,
porque te quiero, amor, a sangre y fuego.

Soneto LXVI, Pablo Neruda

Better Together



"Parece que ando sempre a correr mas não há desculpa... E estou sempre a falar de ti! Gosto muito de ti!"... Sinto a tua falta.

"Talvez por não saber falar de cor, imaginei.
Triste é o virar de costas, o último adeus sabe Deus o que quero dizer.
Obrigado por saberes cuidar de mim, tratar de mim, olhar para mim...
Escutar quem sou e se ao menos tudo fosse igual a ti..."

L'autre côté de la lune, celui, c'est le mien


"Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar.
As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie - nem sequer mental ou de sonho -, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.
Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso."

Bernardo Soares in "Livro do Desassossego"