Tuesday, April 29

Obsidiana

tudo o que peço é que te acerques
de uma janela, e te vires para o exterior,
como se só visses, e não olhasses.

E que, como de surpresa,
me deixes também acercar por detrás;
não para olhar o mesmo que tu não olhas,
ou para ver através de ti; mas para, tão só,
para a frente projectado, te tocar.

Como se o teu corpo, de costas,
fosse o espelho onde se mostra
o lado invísivel.

Vítor Oliveira Jorge in Pedras Preciosas

Friday, April 25

Efeméride (das que mais importante é recordar)

Trova do vento que passa
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
(...)

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

Monday, April 14

Olhos Abertos - Um ano depois

Um mover de olhos, brando e piadoso,
Sem ver de quê; um riso brando e honesto,
Quase forçado; um doce e humilde gesto,
De qualquer alegria duvidoso;

Um despejo quieto e vergonhoso;
Um repouso gravíssimo e modesto;
Üa pura bondade, manifesto
Indício da alma, limpo e gracioso;

Um escolhido ousar; úa brandura;
Um medo sem ter culpa; um ar sereno;
Um longo e obediente sofrimento

Esta foi a celeste fermosura
Da minha Circe, e o mágico veneno
Que pôde transformar meu pensamento.

Luís V. Camões

Sunday, April 13

Le coquelicot


Parmi
Le blé promis
À la faux
À la farine, au pain,
Le coquelicot
Nous dit: souviens -
Toi, la sève
Est un sang comme le tien,
D'amour, de cri, de rêve.

Frédéric Kiesel

Monday, April 7

Thursday, April 3

Amorosa Anticipación

Ni la intimidad de tu frente clara como una fiesta
ni la costumbre de tu cuerpo, aun misterioso y tacito y de niña,
ni la sucesion de tu vida asumiendo palabras o silencios
seran favor tan misterioso como mirar tu sueño implicado
en la vigilia de mis brazos.
Virgen milagrosamente otra vez por la virtud absolutoria del sueño,
quieta y resplandeciente como una dicha que la memoria elige,
me daras esa orilla de tu vida que tu misma no tienes.
Arrojado a quietud, divisare esa playa ultima de tu ser
y te vere por vez primera, quiza,
como Dios a de verte, desbaratada la ficcion del Tiempo,
sin el amor, sin mi.

Jorge Luís Borges