Thursday, September 25

Não deixou de me fazer chorar



"Jura que não vais ter uma aventura
Porque eu hei-de estar sempre à altura
De saber
Que a solidão é dura
E o amor é uma fervura
Que a saudade não segura
E a razão não serena"

Tuesday, September 23


Foi mal

"Ni una sola palabra más
No mas besos al alba
Ni una sola caricia habrá
Esto se acaba aquí
No hay manera ni forma
De decir que sí

Si alguna vez
Creíste que por ti
O por tu culpa me marché
No fuiste tú
Por eso y más
Perdóname"

"Um dos pedidos mais recorrentes entre casais desavindos é o de perdão. O perdão pode pedir-se, expor-se, implorar-se, chorar-se aos soluços até que - por vezes - acaba por se impor naturalmente.
Decerto que casos há em que não vale nada, zero. Em determinadas situações menores, declara-se apenas como um tímido pedido de desculpas que se eleva à categoria de mártir. À outra parte compete então proclamá-lo, com todas as letras, respondendo solenemente à "pergunta-monumento": perdoas? E normalmente sim, resposta afirmativa em grande parte dos momentos, quando se sente que há gente. Pelas peças da memória que o tempo faz ruir, pela destreza com que o distanciamento consegue fazer separar as águas, na clareza do sofrimento do outro à nossa porta. Abundantemente, sim, perdoa-se. Já esquecer são outras águas, zonas de navegação sombria de alguém consigo mesmo na intimidade. Não tenho memória de alguém perguntar como ponto de partida ou como fim de exposição da legítima defesa: esqueces?
  (...)
Mas no íntimo de quem sabe, na esfera privada, esquecer não é direito ou prerrogativa. Às vezes é só um golpe de sorte ou uma partida que a vida nos prega.
O direito ao esquecimento dos outros não está nas nossas mãos, não somos nós que o decidimos. É exactamente por esse facto que a pergunta é tão poucas vezes ensaiada, pé de chumbo de qualquer vontade por mais que se queira ou por melhor que se faça. Quem manda na memória, quem proclama o esquecimento? Podemos convocar as forças mais íntimas e as mais férreas vontades: esquecer não está no nosso domínio, não é uma manifestação do nosso arbítrio, não é matéria para o ser humano. Para quem vive e respira, esquecer só pode ser fingir que não aconteceu. Esquecer é mentira. Só se esquece porque desaparece. E desaparecer não é matéria para a humanidade."

Miguel Guedes no JN 

Friday, September 19


Mudanças (e mais um texto sobre nada)

Passou um ano desde que estou no escritório. É inacreditável, porque o tempo aqui pára - e parece que estou no mesmo sítio (mental) que há um ano atrás, ou pelo menos as mudanças físicas não chegaram para imprimir adequadamente no consciente as outras, mais subterrâneas, que tenho a certeza que também ocorreram.

Continuo a sentir-me noob, a lutar entre a vontade de ser responsável e a dificuldade em cumprir um horário que não existe. Gosto mais de algumas pessoas do que antes, isso é verdade, porque o tempo consolida as relações (infelizmente também gosto menos de algumas, em quem aprendi a não confiar). E finalmente ganhei a opinião unânime de fazer um bom trabalho. Sim, provavelmente esta é a maior mudança que senti, e aquela a que tento ter menos apego: porque vou mudar, já já, para um novo andar, com novas pessoas, novas regras e novos desafios, e preciso endurecer e fazer o caminho novamente.

Já não me custa assim tanto trabalhar para os mauzões; reparei que na maior parte das vezes a Câmara até tem razão e o trabalhador tem a mania da perseguição ("puseram fita-cola nos armários para me humilhar!"...), as privatizações são decididas pelo Governo anyway, e o resto do trabalho que faço é tão irrelevante para os destinos da nação que me sinto menos política e mais advogada. Principalmente depois de receber a primeira sentença a dar razão a um recurso que fiz, e que bem que soube! Estranho, porque criei a convicção muito firme de que não quero ser advogada, e contudo fiquei contente, com a sensação de dever feito. Deve ser porque de facto, como já me disseram, a mal ou a bem fiz este curso, dediquei estes anos da minha vida a preparar-me para uma profissão, e não é tão óbvio como me parecia renegá-la.

Mas a minha relação com a Ordem continua longe de pacífica, e mal vejo a hora de parar de uma vez por todas de estudar. Desencontros, porque eu quero finalmente parar de estudar, justamente quando a pessoa com a qual agora partilho a vida volta a fazê-lo. E eu não quero na verdade parar de estudar; quero, isso sim, estudar pela primeira vez o que mais me agradar, sem outros deveres não-profissionais a espreitarem por trás de cada página (e já agora: http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=1932). Ele perguntou-me, há dias, porque não escreves? Respondi com a verdade mais óbvia - a omnipresente falta de tempo - e depois lembrei-me de que vou até escrevendo neste blog, ah, mas poderá isto considerar-se escrita? E não era a estes apontamentos que ele se referia, era até mais à poesia, que tanto me habitou quando era mais nova e que fui aos poucos deixando.

Creio que não há resposta para estas coisas, ou há, muitas respostas, algumas contraditórias, por isso é como se não houvesse uma mais importante. Porque eu não tenho tempo mas teria se tirasse de outros lados, não tiro por conforto e conveniências mas seria por essas razões que eu devia escrever, então é um círculo vicioso que se encosta no facto de eu passar o dia a escrever e a ler no meu trabalho para me escusar destas tarefas. O que acontece, quando não me escuso, são anotações de ideias sentidas ao jeito desta, Oshando o meu blog, que fiz só para isto: para depositar todas as palavras sem sentido nem métrica que me apetecer, juntamente com a facilitação de forma de outros conteúdos, para uma arrumação sistemática e de fácil consulta (para mim e para os outros, com quem me quero partilhar).

Quanto à poesia, sempre senti que regressava a ela na reverbação das minhas leituras - e essas não têm sido propriamente poéticas. Tenho-me reinventado: mais prática nos telefonemas para sítios burocráticos do que nunca, mais conhecedora de elementos musicais e de video-jogos, ao mesmo tempo que perco o caminho das mundividências literárias tugas, por exemplo. Menos contestatária da profissão, porque é a única forma de ter dinheiro para fazer o que gosto (podendo mandar os pais bugiar). Cada vez menos agarrada a certezas  - porque até aqueles que julgávamos irrepreensíveis fazem merda - e mais determinada de que somos nós, navegando no meio dos destroços, quem decide do caminho.

O yoga da querida e dura Conceição, esse sim, faz falta, e porém a única coisa a impedir-me de regressar sou eu mesma, e as dificuldades que antecipo. Acho que esta é a story of our lives: somos os únicos responsáveis pelas nossas pequenas infelicidades, que guardamos como prémios para podermos lamentar-nos no dia em que outra coisa qualquer não correu exactamente como gostaríamos, e não as resolvemos por medo das mudanças que essa resolução causaria. 

Medo das mudanças, sempre.

Monday, September 15

Vannelope


Without the glasses

Wednesday, September 3

translator time machine frickin pussycat