Wednesday, June 29

À distância

Quando sabem que não moro no mesmo país que o meu namorado, com frequência me perguntam: "mas não é difícil"? 

Tenho tido muitas dificuldades em responder a esta pergunta, e matutado como me preparar para responder melhor. As primeiras vezes, quase involuntariamente respondi que não, e até acrescentei um "pelo contrário". Pois difícil remete-me para algo complicado, que exige uma luta constante e uma certa dose de infelicidade, e nada disto se assemelha ao que eu sinto. Mas depressa reparei que esta resposta suscitava um olhar que é um misto de incredulidade e de lástima - o que me confundiu um pouco, até perceber que uma resposta assim desprendida leva o meu interlocutor a assumir que a relação ou não é muito próxima, ou eu não estou muito investida nela (que me da igual). Quando compreendi isto, comecei a acrescentar "quer dizer, sim, claro... é difícil", tentando mitigar os estragos causados e pensando que, realmente, as saudades são apertadas e que não podemos ir comer um gelado juntos num dia de sol só porque sim, o que também se pode chamar de difícil.  

Mas nenhuma destas respostas, sinto, é suficiente - ou acertada. Porque quando me perguntam se é difícil, a única resposta que para mim faz sentido é outra pergunta: E o que é amar, é difícil, é fácil? Mais importante do que isso, talvez: e amar, vale a pena, esse viver intensamente alegria e mágoa? 

Afinal, amar à distância continua a ser só amar. E já devíamos ter aprendido com Jobim que "Que todo grande amor/Só é bem grande se for triste". Por isso, da próxima vez que me perguntarem, talvez responda somente "é amor".

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Long distance

When people know I do not live in the same country as my boyfriend , I’m often asked, "but  isn’t it hard"?

I have had many difficulties in answering this question, and I’ve been thinking how to prepare myself a better answer. The first few times, almost involuntarily, I said no it isn’t, and even added a "on the contrary". Because hard brings to my mind the idea of something complicated, which requires a constant struggle and a certain amount of unhappiness, and none of this is similar to what I feel. But soon I noticed that this answer provoked a look that is a mixture of incredulity and pity - which confused me a bit, until I realized that such a quick non-thinking answer makes the person talking to me assume that the relationship is either not very close, or I I'm not too invested in it (that for me, me da igual). When I realized this, I began to add "I mean, yes, of course... it's difficult," trying to mitigate the damage caused and thinking that, indeed,  the missing is strong and we cannot go get ice cream together on a sunny day just because we want to, which can also be called difficult.

But none of these answers, I feel, is enough - or right. Because when people ask me if it is difficult, the only answer that for me makes sense is another question: What is love, is it difficult, is it easy? More importantly, perhaps, and to love, it is worth, this living intensely joy and sorrow?

After all, distance relationships are still just love. And we should have learned from Jobim by now that "Every great love /Is only great if it is sad." So, the next time someone asks me, perhaps I will answer solely "it is love."

Thursday, June 23

Monday, June 6

Mas do outro lado a luta


Não deixeis um grande amor

Aos poucos apercebi-me do modo
desolado incerto quase eventual
com que morava em minha casa

assim ele habitou cidades
desprovidas
ou os portos levantinos a que
se ligava apenas por saber
que nada ali o esperava

assim se reteve nos campos
dos ciganos sem nunca conseguir
ser um deles:
nas suas rixas insanas
nas danças de navalhas
na arte de domar a dor
chegou a ser o melhor
mas era ainda a criança perdida
que protesta inocência dentro do escuro

não será por muito tempo
assim eu pensava
e pelas falésias já a solidão
dele vinha

não será por muito tempo
assim eu pensava
mas ele sorria e uma a uma
as evidências negava

por isso vos digo
não deixeis o vosso grande amor
refém dos mal-entendidos
do mundo

José Tolentino Mendonça, A Noite Abre Meus Olhos

You don't know what love is


Custa sempre ter de dizer isto a alguém de que se gosta, cuja felicidade procuramos. Eppur si muove, quanto casos de relações que começaram com o pé esquerdo vi florescem em algo belo? Já pensei nesta questão várias vezes, e a resposta é nenhuma. A não ser que consideremos sucesso algo como o J. e a M., mas eu prefiro chamar-lhe comodismo cobarde (de outra geração? Mas se eu ainda o vejo na nossa...). Se é triste, doloroso? É. E traz uma sensação de inevitabilidade estranha, de ter de ser perfeito, desde sempre, para dar certo - e não é isso, só é preciso que não seja
muito errado, desde o princípio. 

Durante muito tempo questionei-me o que é que isto significava, dar muito errado, como é que sabemos se o errado que sentimos é muito, pouco, suficiente. Sinto que estou hoje mais perto do que alguma vez estive da resposta, e contudo ainda - desconfio - estou tão longe. E a minha resposta está, isso com certeza, a anos luz da resposta de qualquer outra pessoa. Mas o problema mantém-se o mesmo: o que dizer àquele amigo com os blues no olhar, o dilema entre despedaçar mais um bocadinho de esperança ou manter a ilusão de que tudo pode, ainda, vir a dar certo.

PS: Kudos para quem me enviou esta imagem, que consegue juntar de uma forma irresistível o horror do escatológico com o terror do coração partido. E eu sei, sem sombra de dúvida, que essa dor é a pior que existe.

Thursday, June 2

Feira do Livro 2016


Há coisas que nunca mudam :)