Sunday, January 26


Scorch'em

Saturday, January 18

I know not who you are, nor how I came to find you, but may I just say... Hi. How ya doin'?

Antes de mais, uma declaração de interesses: sou uma grande fã da Disney. Não acredito na velha conversa do filmes-machistas-com-visões-arcaicas-que-influenciam-as-mulheres-a-papéis-passivos, porque não influenciam nem mais nem menos do que todas as outras coisas com que aprendemos a realidade, e também eles evoluíram para combater os estereótipos — mas são filmes de animação para meninas e meninos, onde a fantasia impera e a simplificação de papéis é inevitável, as crianças pensam assim mesmo. Ao crescermos, tudo o que não é Disney impõe-se, quem é influenciável ou submisso se-lo-á sempre, não é mais filme ou menos filme destes que balançar uma pessoa definitivamente para o lado negro ou louco da força. Gosto de pensar que sou um produto da Disney que não saiu assim tão mal :P

Isto dito, simplifico ao falar em Disney, porque na verdade gosto de filmes de animação de outras companhias também (não distingo a Pixar, a Dreamworks ou sequer se são marcas ou produtoras). Mas dois dos meus filmes preferidos são mesmo da Disney, e é sobre eles que me queria debruçar. Porque reflecti e creio que percebi, finalmente, as razões por trás das minhas preferências (ou creio, pelo menos, ter descoberto pistas importantes). De lado fica, portanto, aquele que acho que é um dos melhores filmes de animação de sempre, o Finding Nemo, porque nada de pessoal tenho a dizer quanto a ele (é simplesmente muito bom).

Quando era pequena, o meu favorito era a Mulan. Vi-o no cinema no Colombo, com a minha mãe e irmã (portanto com 8 anos), e depois elas compraram-me o VHS. Dobrado em português, mas uma daquelas dobragens à antiga, deliciosas, nada dos exageros cheios de momices das dobragens que se fazem hoje. Aquela história da mulher guerreira, ainda por cima passada no Oriente, cultura tão diferente e tão interessante para mim (por causa da minha irmã, que me ia passando essas suas influências também), atraiu-me muito. Dei por mim a vê-lo duas vezes seguidas na madrugada, por puro prazer. Creio que percebi logo então que era o meu preferido, embora não o tenha racionalizado nestes termos. Mas nunca liguei nenhuma à cassete da Cinderela, por exemplo, que devo ter visto (apenas) umas três vezes; o Rei Leão era um máximo, mas eram leões, afinal, não pessoas (descobri há uns dias atrás que é na verdade uma metáfora baseada no Hamlet! It doesn't get more human than this), e também o Jungle Book, os Aristogatos e a Dama e o Vagabundo, sem humanos; a Pochaontas era um máximo, mas a cassete avariou à segunda visualização, até hoje não consegui decorar a música principal, portanto não deu para me apaixonar; o Corcunda de Notre Dame, na minha opinião, acabava mal (e foi o primeiro filme da Disney que trouxe para mim uma perspectiva mais negra, com aquele padre obcecado e uma linda cigana que ficava com o lindo soldado em vez do corcunda que tinha tão bom coração mas era feio, coitado).

Mas a Mulan, a Mulan era corajosa e maria-rapaz, amiga de um cavalo, de um dragão e de um grilo da sorte. More importantly: o dilema dela era querer ser melhor filha, e isso foi uma obsessão que vivi intensamente quando era pequena. Não só porque os meus pais faziam questão de mo fazer sentir, não são eles os únicos, sequer os principais, culpados; a minha imaginação exacerbada e as leituras que já nessa altura fazia (condessa de ségur, se acham que a disney influencia imaginem esta senhora) ajudaram a que achasse sempre que estava a falhar, como filha. E esse problema era mais importante para mim do que encontrar o príncipe perfeito. Depois da Ariel, que já se sentia incompreendida pelo pai (e eu queria tanto ser sereia!), a Mulan foi a minha segunda grande paixão, pois conseguiu honrar os pais e os antepassados, e pelo meio ainda salvar a China e conhecer um general dreamy. Na altura não pensava nisto assim, limitava-me a sentir-me finalmente compreendida por alguém e cantava por todo o lado "não posso ser quem eu não sou, e este reflexo é de quem". Agora percebo.

E percebo principalmente porque é que a minha nova paixão da Disney, mais recente, tem um estilo muito diferente: enquanto a Mulan empreendia a sua viagem de descoberta e de amadurecimento sozinha, a Rapunzel sai - finalmente - do castelo graças à ajuda de um tipo que não sabe muito bem o que anda a fazer. Ela podia ter saído antes, só não se atreveu a isso até ele aparecer e aí ter o ensejo para partir. E não há como não me sentir, uma vez mais, identificada: fechada na castelo do Trigache até conhecer alguém a quem quis o suficiente para o seguir em perigosas aventuras para lá do terreno conhecido. Claro que estou a exagerar; não é uma coisa completamente óbvia que goste tanto deste filme por causa disto, quando também tanto me atraíram os desenhos, tão bonitos, e achei que era um dos mais divertidos, com piadas mesmo engraçadas. Mas tem piada que assim seja, e faz sentido para mim, porque também a Rapunzel era uma rapariga super interessante aos 18 apesar de estar sempre fechada na torre (teve tempo para ler, para pensar, para se expressar artisticamente) e conheceu um rapaz mais velho que, apesar dessa diferença de idades, também precisava de aprender umas coisas :)

A Tiara, apesar da heroína mais esforçada, não me provocou este interesse. A Anna, apesar de cheia de boas intenções e a coisa mais espevitada de há alguns filmes da Disney, tão-pouco me fez sentir identificada, mesmo tendo uma irmã chamada Elsa que é a rainha do gelo. Talvez porque a idade de me importarem tanto as relações familiares já passou, e há algum tempo que a minha Elsa deixou de se fechar na torre de gelo e de espalhar picos para me afastar, procurando proteger-me à sua maneira. Também porque este filme, ao contrário dos outros, não consegue apagar as notas tristes do início mesmo com o típico final feliz: começa com uma nota dura, da infância de duas meninas que era feliz até ao acidente, e depois é impossível esquecer que se passaram anos de solidão e separação, mesmo depois de os pais morrerem. Esta ideia é muito forte, por estarem tão amorosamente retratadas as pequenas princesas, e durante o filme não o consegui esquecer, mesmo até ao final, com tanta appraisal ao amor fraternal. Sim, mas e a infância que elas passaram separadas e o tempo que já não volta atrás?!, apetecia-me dizer aos produtores. Estive a ler algumas críticas de pessoas crescidas, e é engraçado como muitas consideram esta dureza do filme o seu grande ponto a favor, ao lado da beleza nórdica onde se inspirou.

Já o Brave tinha procurado fazer isto, a princesa não se apaixona por ninguém, o importante é a sua relação com a mãe; mas não tinha tido tanto sucesso, talvez porque toda a mitologia do filme, o estilo, a narrativa, não são típica Disney, e mesmo as personagens parecem diferentes. A Merrida é muito bonita, com aquele cabelo fulvo, mas não tem uma compleição e uns olhos disney, e a história é tão mais forte do que o normal, juntando ao mesmo tempo elementos Mulan com ursos super ferozes e bruxas horríveis, que deve ter afastado a audiência habitual. Parece-me agora, à distância, que talvez seja um filme incompreendido injustamente, mesmo por mim, que só o vi uma vez e não fiquei convencida (pensei Disney série B, mas não me parece que chegue, é só o choque de uma cultura também profundamente diferente).

Mas voltemos ao Frozen: Disney a evoluir, mais uma vez, porque o príncipe perfeito — SPOILER para todos aqueles que não viram o trailer e/ou não percebem nada da forma como funcionam estas coisas, porque os outros já o intuíam — afinal estava só a enganar a menina ingénua que nada sabia do mundo. Rude awakening. Podiam compensar isto com um camponês adorável, já que lindo é inverosímil, mas não, tinham de o fazer clumsy de nariz batatuto e, segundo a sua família troll, malcheiroso… Nesta parte acho que não conseguiram descolar da ideia que tinham de pintar duas personagens masculinas completamente opostas e demonstrar até que ponto as aparências iludem e a beleza é interior, e bláblá, não gostei!

Também a viagem de Annna com Kristoff está estranha, parece mal-colada, sem que se consiga dar a sensação de duração física e psicológica que permite a duas pessoas aproximarem-se gradualmente e formarem uma ligação especial. O que não conseguiram fazer aqui mas está tão, tão bom no Tangled, onde é palpável o crescimento das personagens à medida que empreendem aquela viagem até à cidade, tão perto mas parece tão longe. E a perfeição quando vemos ambos a apaixonarem-se: Rapunzel naquela sequência à noite, à beira do fogo, tão verosímil e tão feminina! O ambiente, um rapaz durão e misterioso mas sensível por dentro que nos revela algo íntimo e embaraçoso (Eugene!) e nos faz sentir vontade de corresponder, por isso a confidência — o meu cabelo cura! — que leva a uma ainda maior proximidade (qualquer mulher é uma língua-barata que abre o coração àquele por quem se começa a enamorar).

Depois a vez de Flynn: plena luz do dia, porque os homens não ligam tanto a essa história dos ambientes e gostam de ver bem, e porque as coisas já tinham sido set in motion nos dias anteriores. Primeiro a coragem dela, a alegria, como se visse sempre o bem onde as coisas podiam correr muito mal. Depois a forma como aparece diferente de como era até aí, mais velha com aquele penteado (não é só uma menininha), cheia de flores e de uma nova segurança e até, se quisermos puxar a corda, uma imagem maternal, por estar a brincar no meio da praça rodeada de pequenas pessoas que conquista, além das pessoas mais velhas a quem encanta. E a nós é-nos dado esse prazer voyeur de ver, tão claramente graças às novas tecnologias 3D usadas nestas personagens, os olhos e a boca de Flynn a apaixonarem-se. É esse o grande trunfo do filme, na minha opinião: a atracção deles não é descabida, resulta da viagem que fizeram, vemos os momentos que levam a ela, e depois culmina numa confirmação mútua que vem selar a atracção (o que há de mais atractivo do que alguém que nos corresponde?) naquela cena no barco, super romântica (aahhhh, é a reacção de qualquer pessoa com coração…).

Frozen não consegue fazer isto: de repente Kristoff, por razão nenhuma, aparece apaixonado. O que é inverosímil desde o início, porque haveria um rapaz da idade dele ignorar tão soberanamente uma rapariga tão bonita que conhece no meio do nada? Só vejo duas explicações: diferente orientação sexual, ou muita excentricidade pouco saudável. Pois este mesmo excêntrico de repente, sem vermos nenhuma evidência disso, percebe (talvez empurrado pelos trolls?) que ela é bonita, divertida, simpática e com bom coração. A irmã é muito mais irresistível, mas pronto, é uma rainha má e cheia de gelo, percebe-se que não chegue a formar-se um bond. E mesmo assim, isso até seria verosímil, e um bom twist (mais um laço de amor que iria ajudar Elsa a aprender a controlar os seus poderes, enquanto Anna aproveitava para crescer mais um bocadinho e perceber que não se casa com alguém que se conhece no mesmo dia, não lhe fazia mal nenhum). Mas Frozen não arrisca ser assim tão original, e acaba a ser ridículo: Anna acredita no amor do príncipe, vai a correr para ele, mas oops, afinal ele é evil, Olaf ajuda-a a perceber que Kristoff está apaixonado por ela (quando é que isto aconteceu, exactamente?!) e isso basta para que ela sinta o mesmo por ele? É mesmo uma rapariga sedenta de afectos, esta moça. Não me parece bem feito. E é curioso como o calcanhar de Aquiles do filme pode resultar precisamente da vontade dos seus produtores de não fazerem a narrativa girar à volta de uma história de amor. Pelo meio o filme fica numa tensão paradoxal entre dar atenção a um e a outro aspecto, não conseguindo nunca aperfeiçoar nenhum — mesmo a história das irmãs parece fraca, quando a certa altura percebemos que nunca vai sair da mesma nota de uma Anna-saudosa-e-admiradora-da-irmã-que-sempre-viu-à-distância (não deveria ela estar revoltada também, ressentida? Isso nunca se vê) e de uma Elsa-fria-que-quer-fugir-para-proteger-mesmo-quando-já-se-sabe-tudo.

Claro que é um bom filme, ainda assim. A história é gira, com as personagens pequenas no início que vão crescer para se tornarem jovens adultos interessantes; a paisagem é breathtaking, tem um single fantástico (Let it go), mesmo se as outras músicas são apenas engraçadinhas, e o vilão é original, embora igualmente mortífero. O fim não me consegue convencer, porém: se as irmãs são a história principal, porque não aparecem juntas no final, criando uma nova intimidade que se julgava perdida para sempre? Lá está, o esforço de se concentrarem em dois aspectos ao mesmo tempo leva os produtores a simplificar: vá, vamos mostrar agora estes dois felizes e apaixonados, para voltar o foco para o amor, senão lá se vai a audiência que fugiu com o Brave. Não, a história podia ter terminado sem eles, já percebemos que o Kristoff gosta e a Anna não é indiferente, agora deixem-lhes tempo e espaço para a nossa imaginação os aproximar de uma forma mais natural.


É presumível que a Disney vá continuar a sua série adjectivada — Brave, Tangled, Frozen — que põe a tónica no facto de não haver necessariamente uma personagem principal que é uma princesa e cujo destino de vida é apaixonar-se e casar. A separar esta nova tradição dos velhos Disney está a Princesa e o sapo, que também é refrescante, ainda que, ao mesmo tempo que procura lavar preconceitos, caia também neles (porque é que a única princesa negra da história tem logo de ser uma pobretanas que tem de trabalhar no duro e ver as louras deste mundo triunfar até que o seu trabalho duro + a sorte de encontrar um príncipe com pele do mesmo tom lhe venham trazer tudo aquilo que sempre quis?).

Também é expectável que continue a contar contos de fadas adaptados, que continuem a buscar settings interessantes, onde temos espaço para deixar a nossa imaginação voar. Já foi ao Havai, à China, a França, a ilhas de índios, à Irlanda, ao fundo do mar, agora ao Norte frio, até ao espaço, com o Wall.e.! Gosto de imaginar o que será a próxima coisa.

Termino esta excursão crítica com um aviso: é legítimo pensar quão lamentável é que eu escolha perder palavras com um tema tão irrelevante como os filmes de animação. É até legítimo presumir no seguimento que não me interessam os temas sérios, que sou um caso perdido. Mas sobre o verdadeiramente importante estou cansada de discutir, de lutar, de pensar, e vamos lá ser sinceros: tem de se arranjar forma de passar as aulas da Ordem... :)

Termino com uma remissão para as razões pelas quais a Mulan é a maior:
http://blogs.disney.com/oh-my-disney/2013/12/16/mulan-is-super-fierce-and-heres-why/ :)

Wednesday, January 15



Sunday, January 12

Las nubes

Talvez os antigos pensassem que as nuvens se podiam mesmo tocar, consistência de algodão. Porque não podiam voar, como nós, e descobrir que se atravessam, são ar, apenas, impressões intocáveis no céu.

Talvez fossem mais felizes do que nós por causa disso.

15 de Agosto de 2013

L'écume


Sunday, January 5

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade in Amar se Aprende Amando
Novos capítulos




E perdas, também. Descansa, Jade, voltaremos a ver-nos.