Thursday, May 31

O Beijo


"La méthode utilisée par Rodin pour faire ses sculptures de grande taille consistait à employer des sculpteurs qui taillaient à l'échelle un modèle plus petit dans un matériau plus facile à tailler que le marbre et une fois terminées, Rodin donnait la dernière touche lui-même."

Fly me to the moon
Let me sing among those stars
Let me see what spring is like
On jupiter and mars
In other words, hold my hand
In other words, baby kiss me
Fill my heart with song
Let me sing for ever more
You are all I long for
All I worship and adore
In other words, please be true
In other words, I love you

Sinatra

la recta es la expressión del infinito




"Duas linhas paralelas encontram-se no infinito"
Euclides

Wednesday, May 23

Quem de nós dois

Quero poder voar, quero conseguir sonhar com outros caminhos. Outros destinos, ao virar de cada esquina. Porque ficar presa a cadeias que são de fumo? Se as fases da lua dependem do brilho do sol estão erradas, e enganam-se a cada noite de luar que passa. Ser opção não se tolera. Pelo menos não se devia. Estou farta de usos e abusos. E de não passar incolúme, sabendo o que me espera a seguir e dando a volta por outro lado. Que não passe por ti. Porquê que todos os pedaços me levam , me trazem para este beco? Outra e outra vez. Até aprender a esquecer. E a lembrar só o que é bom de lembrar. para que os gestos não sejam rudes, e os olhares desviados. Ou para serem em si mesmos, por si mesmos, somente.

A vida podia ser linear. Perdia a graça, deixava de viver, mas tinhamos as respostas. Não havia sequer perguntas. Linear. Para não haverem áreas cinzentas, e o amigo ser amigo simplesmente. Pra ouvir o que tem de ser ouvido, e nem se perceber o que não faz diferença. -Sou incapaz de arder- Ser os sentimentos à flor da pele. Lágrimas pela paixão defunta. Sem amarguras recalcadas. Como alguns, transparente. -Não és um homem. Nunca serás. Deixa-te de merdas. Não és para mim- Se não são capazes de reconhecer uma falta, ausência condensada que se transforma em saudade, não sentem o momento em que se formam nuvens na atmosfera -"Tirar as papoilas que estão no meio do trigo"- Parte da natureza, é o mesmo que não me reconhecer na inclinação do vento. Não se ama quem não reconhece a mesma canção. O cheiro, o toque, a marca tão profunda do andar, os passos deixados na areia. -É tão mau fechar a alma. Fechá-la, repentinamente insensivel ao calor de uma presença. Sabes que a culpa é tua- A vontade de deixar a onda afastar-se, chorando apenas a ua ausência. Ou quem sabe saudade. A saudade de algo mais antigo, anterior a ti; Um querer viver sem questionar isso. Depois, quem sabe o que virá. Quem derá saber!... Perder a fala num desespero de manhã ansiado. -Suspira. Nem mesmo o teu suspiro quebra a madrugada- The eternal sunshine of the spotless mind. palavras dolorosas mudam o mundo, por isso toma cuidado com o que dizes. para que nunca venha um golpe que não esperas. -Vinga-te. Vinga-te no tempo que perdemos e que nunca vamos ter. Vinga-te na minha imagem. Ela não se pode defender- Se pararmos o curso do rio, seremos a espuma efémera? Porque ela é-o sempre. E o seu amor não dói.

(Março/2007)

Saturday, May 19

Stain Boy


"Of all the super heroes,
the strangest one by far,
doesn't have a special power,
or drive a fancy car.
Next to Superman and batman,
I guess he must seem tame.
But to me he is quite special,
and Stain Boy is his name.
He can't fly around tall buildings,
or outrun a speeding train,
the only talent he seems to have
is to leave a nasty stain.
Sometimes I know it bothers him,
that he can't run or swim or fly,
and because of this one ability,
his dry cleaning bill is sky-high."


Tim Burton

My Interpretation

"We are, with no shadow of doubt reflections of the eyes that look upon us."

Vivemos paralelamente entre dois mundos como estranhos
e só a invenção pode constituir a fábula
de uma unidade que será sempre incerta ou futura ou improvável

António Ramos Rosa

-Que te parece. Se ainda por cima é só uma cena, aquela, deveras nó-na-garganta, aperto-no-peito e arrepio pela espinha!
- Tens a certeza de que te queres ir embora?...

A alma é um vento. Pode cobrir mar e terra. Mas não é da terra nem do mar. A alma é um vento. E nós somos um agitar de folha, nos braços da ventania.
Mia Couto

"Recordam-me os tempos em que estavamos naquelas ameias de castelos nórdicos e esperávamos pelo fim da guerra comemorando ao som de belas melodias... Comemorando o quê? Não sei, mas éramos princesas..." Mi ma bo.

Dói tanto crescer.

Sunday, May 13

"Existir é isso: beber-se a si próprio sem ter sede"

Jean Paul-Sartre in A idade da razão
Perdi-me dentro de mim.
Já não sei o que sinto.
Fujo, escondo meu olhar
E à minha alma minto.

Passo vazia pela madrugada
Vejo pássaros de mil cores
Mas tudo que ouço à minha volta
É o rosário de minhas dores.

Oh, quem me dera ser ave
Que voasse livre e sem destino!
Ou fera selvagem que pudesse
Soltar seu grito felino!

Poderia também ter nascido
Como doce amor-perfeito
Só para que me prendesses
E apertasses em teu peito.
(28-03-2006)

Saturday, May 12

Portas do Sol



Santarém é um livro de pedra em que a mais interessante e mais poética parte das nossas crónicas está escrita.
Almeida Garrett

A Une Terre D'Aube

"Apaisé maintenant, te souviens-tu
D'un temps où nous luttions à grandes armes,
Que restait-il
Dans nos coeurs qu'un désir de nous perdre, infini?"
Yves Bonnefoy

Friday, May 11

Acordar - Álvaro de Campos


"Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras,
Acordar da Rua do Ouro,
Acordar do Rossio, às portas dos cafés,
Acordar
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme,
Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono.
Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar,
Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo.
À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se
Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma,
E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo.

Uma espiritualidade feita com a nossa própria carne,
Um alívio de viver de que o nosso corpo partilha,
Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode acontecer de bom,
São os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada,
Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes,
Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vão leste-oeste,
Seja

A mulher que chora baixinho
Entre o ruído da multidão em vivas...
O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito,
Cheio de individualidade para quem repara...
O arcanjo isolado, escultura numa catedral,
Siringe fugindo aos braços estendidos de Pã,
Tudo isto tende para o mesmo centro,
Busca encontrar-se e fundir-se
Na minha alma.

Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo
Do que as que vi ou verei.
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.

Wednesday, May 9

Pourquoi pas

Porque foi talvez a melhor resposta que já me deram.

"O que é a escrita, o que é a poesia? Escrevemos para nós, claro. Um acto de revelação pessoal. Uma frase que descobri há pouco tempo ao preparar uma aula de inglês (aprende-se muito nestas coisas): "How can I know what I think until I see what I say?".
Mas, ou porque queremos mudar o mundo, ou porque queremos comunicar alguma coisa, escrevemos, tentando aproximar o que dizemos daquilo que queremos e gostaríamos de dizer, e isso explica os blogs. Transmitir uma mensagem implica a escrita e os blogs porque o conteúdo de uma ideia é inseparável da forma."
Luís Lucas

A garfada perfeita


"-São sempre assim quando vem cá alguém ou é só por ser eu?...
- É mesmo por seres tu. Eu não acredito que compraram compota!
- Não sabia que ia lanchar com os meus sogros?!"

Inevitável

Apagar-te seria, na melhor das hipóteses, a salvação possivel. Esquecer-te o crime que minha alma não se permite cometer. Diz-me, achas que vale a pena continuar esta farsa do tu não sentes e eu não sei. Sabes que sinto. Jogos atrás de jogos, a vida num tabuleiro sem regras e com um único tirano. Que não pode. Essa é a maior ironia, que ele tenha nas mãos o coração de resposta e não possa.
Mas eu sim.
Corro para enganar o tempo, abraço pra matar o esquecimento.As saudades teimam em vir para impedir o girar do mundo. O beijo proibido que aflora á superficie do movimento,quando o desejo se torna mais forte que a sensatez. E a resposta que a tua boca recusa. Tudo são luas que alternam as minhas marés. Sou gaivota que odeias, folha que glorificas e maça que não queres provar. Teu anjo na escuridão e companheira dos teus mundos solitários. Sigo o teu caminho porque não conheço outro.
Vou continuar a querer-te nas palavras sombrias, no gosto amargo da eternidade que me recusas, até que saibas que não o posso evitar.

Nada a fazer... Quero-te sem apelo nem agravo.
03-09-2006

Sunday, May 6

Luz (a ideia de um céu)

Eu vi um anjo
Descer de uma trepadeira vinda do céu.
Olhos estrelas brilhantes
Cabelos que de oiro se agitam
Numa promessa de sonho infinito
Alcançado na palma da mão.
Em vez do som de sinos
Esperado por todos os acreditados enganos
Uma harpa de flores tingida
Faz soar o peso dos anos
Perdidos á espera desta aparição.
Há quem diga que luzes
Nesse dia iluminaram o mar
E milhares de vozes se uniram
E num cântigo único surgiram
De anjos, homens e fadas
Disfarçados na quietude embalada
De um desejo e de um bater de asas.
16-11-06

Encore toi

No te quiero sino porque te quiero
y de quererte a no quererte llego
de esperarte cuando no te espero
pasa mi corazón del frío al fuego.

Te quiero sólo porque a ti te quiero,
te odio sin fin, y odiándote te ruego,
y la medida de mi amor viajero
es no verte y amarte como un ciego.

Tal vez consumirá la luz de enero,
su rayo cruel, mi corazón entero,
robándome la llave del sosiego.

En esta historia sólo yo me muero
y moriré de amor porque te quiero,
porque te quiero, amor, a sangre y fuego.

Soneto LXVI, Pablo Neruda

Better Together



"Parece que ando sempre a correr mas não há desculpa... E estou sempre a falar de ti! Gosto muito de ti!"... Sinto a tua falta.

"Talvez por não saber falar de cor, imaginei.
Triste é o virar de costas, o último adeus sabe Deus o que quero dizer.
Obrigado por saberes cuidar de mim, tratar de mim, olhar para mim...
Escutar quem sou e se ao menos tudo fosse igual a ti..."

L'autre côté de la lune, celui, c'est le mien


"Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar.
As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie - nem sequer mental ou de sonho -, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.
Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso."

Bernardo Soares in "Livro do Desassossego"