Wednesday, May 28

Path

Tuesday, May 27

De mar e fogo

Procuras-me quando te procuro e
na madrugada crepúscular dos nossos
sentidos somos astro breve que
flameja, depois explode em rouco
grito. Sol que arde mas não se extingue.

Das ondas de amor que na nossa cama
sulcamos restam traços líquidos de
antecipação, vestígios de maré crescente
que te sobe no meu corpo e te mergulha
em meu ventre de profundas e densas águas.

Foste talhado por Pigmalião em
âmbar puro, amor.
Agarro-me a ti quando
no naufrágio do nosso corpo me
afundo e em voz baixa te peço
para desaguares em mim.

Joana Garcia

Saturday, May 24


"Mutt Williams: You're a *teacher*?
Indiana: Part time."

http://www.indianajones.com/site/index.html

Wednesday, May 21

This be the verse - Philip Larkin

They fuck you up, your mum and dad.
They may not mean to, but they do.
They fill you with the faults they had
And add some extra, just for you.

But they were fucked up in their turn
By fools in old-style hats and coats,
Who half the time were soppy-stern
And half at one another's throats.

Man hands on misery to man.
It deepens like a coastal shelf.
Get out as early as you can,
And don't have any kids yourself.

Tuesday, May 20

Full Moon Mood

Sou feita de ar e de sol. Nuvens que encham o meu céu são apenas chuva, poeira de sonhos e desenganos. Em alturas de tempestade também chovo, arrombo diques e inundo povoações. Só páro quando chego ao mar, onde me encontro - tecida de brumas, num nevoeiro de dúvidas que se dissipam até ao arco-íris.

(Quero-te mais a cada nuvem
que assombra o meu teu olhar
e o nosso céu.
Nada mudou. Sei a eternidade
desde que a disseste
e não temo.)

Monday, May 19

Nada - Vitorino Nemésio

Eu no meu corpo como o tigre no seu bafo.
O mundo leva iguais a jaula e a casa.
Somos a vida que não é,
Fora não ser a morte.
Nem mesmo nada somos:
Estamos no que fomos
À espera do que importe.

Não se pode sair, e entrar já não:
Nada já deu entrada ao só nascido
Que é esse mesmo Nada:
Pelo que Nada não é nada,
Mas é nada
Em que Deus tudo gera.
Eu na minha alma como o bafo no seu tigre.

Sunday, May 18

As facas (nossos nomes)

Quatro letras nos matam quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome.
Quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome.

Este amor é de guerra. (De arma branca).
Amando ataco amando contra atacas
este amor é de sangue que não estanca.
Quatro letras nos matam quatro facas.

Armado estou de amor. E desarmado.
Morro assaltando morro se me assaltas
E em cada assalto sou assassinado.

Quatro letras amor com que me matas.
E as facas ferem mais quando me faltas.
Quatro letras nos matam quatro facas."

Manuel Alegre

Wednesday, May 14

Ensino Peripatético

"Dentre as várias escolas da Antiguidade, porém, existe uma que se destaca não só pela estranheza do nome como pelo tipo de ensino incomum: o método peripatético, utilizado por Aristóteles no Liceu. Isso mesmo: o autor da Metafísica não passava de um peripatético. O exótico adjectivo deve-se ao facto de ele dar as suas aulas caminhando pelo peripatoi, uma alameda situada nos jardins do Liceu. As andanças eram feitas pelas manhãs, e nelas mestre e discípulos discutiam as questões filosóficas mais profundas ligadas à metafísica, à física e à lógica.

Alguns séculos depois, o termo desprendeu-se dos jardins do Liceu e passou a servir de designação a todo aquele que tem o hábito de ensinar andando. Surge assim o mais famoso peripatético de todos os tempos: Jesus Cristo."

in http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/filosofia/filo23.htm (adaptado)

Thursday, May 8

"Não te fies, amigos, nas mulheres, ri-te de tudo quanto elas prometam! O seu bom humor, como o seu mau humor, depende do capricho de sua vulva"
p.11, As Mil e Uma Noites

Wednesday, May 7

"MATILDE: Despertamos a meio da noite, damos com o nosso homem, acordado, com os olhos postos sabe-se lá em quê, queremos dar-lhe a mão, ver o que ele vê, e não sabemos por onde começar..."

Felizmente há luar!, Luís de Sttau Monteiro

Tuesday, May 6

Os croissants do Porto

Os últimos raios de dia iluminavam o passeio e nela surgia já o urgente desejo de atravessar a noite presa em amarras de pele. De manhã sentia o torpor de felicidade antes mesmo de acordar, e abria os olhos para a luz especial da cidade por quem se apaixonara. Paixão que se acendeu com rapidez de rastilho e fragor de fogo de artifício; como todas as paixões, eternamente efémera. Paixão pelos sons e pelos cheiros, pela calma do bulício citadino e pela penumbra na madrugada e nas esquinas das ruas. Parecia que conhecia a cidade como quem revê um amigo antigo, e que voltaria uma e outra vez como a maré. Mas à paixão seguiu-se o desencanto da despedida, e a amargura da vida, longe que seria dos gritos das gaivotas. Foi nessa altura que surgiu, mesmo a tempo, uma esplanada no fim de tarde, e a cidade se desprendeu.
(Os lábios que ela beijou tinham um leve sabor a cerveja, e aí teve a certeza de que nunca mais sentiria vazio o peito, porque traz alguém dentro de si que como ela já não sabe andar só pelos caminhos.)