Thursday, December 8

L'absurde

"Aujourd'hui, maman est morte. Ou peut-être hier, je ne sais pas. J'ai reçu un télégramme de l'asile : « Mère décédée. Enterrement demain. Sentiments distingués. » Cela ne veut rien dire. C'était peut-être hier."

L'étranger, Albert Camus

Thursday, November 24

Monday, October 31

Corazón coraza

Porque te tengo y no
porque te pienso
porque la noche está de ojos abiertos
porque la noche pasa y digo amor
porque has venido a recoger tu imagen
y eres mejor que todas tus imágenes
porque eres linda desde el pie hasta el alma
porque eres buena desde el alma a mí
porque te escondes dulce en el orgullo
pequeña y dulce
corazón coraza

porque eres mía
porque no eres mía
porque te miro y muero
y peor que muero
si no te miro amor
si no te miro

porque tú siempre existes dondequiera
pero existes mejor donde te quiero
porque tu boca es sangre
y tienes frío
tengo que amarte amor
tengo que amarte
aunque esta herida duela como dos
aunque te busque y no te encuentre
y aunque
la noche pase y yo te tenga
y no.

Mario Benedetti

Termópilas


Ler aqui

Wednesday, October 26

Monday, October 24

Sulcos


Onde acoitar-me que não
sinta as carnes retalhadas,
se os meus sentidos me são
chicotes e chicotadas?...

Sebastião da Gama, Itinerário Paralelo

Monday, October 3


"mas as palavras escavaram outras janelas
na casa em ruínas foram por entre ervas daninhas
sinal débil da minha insolência e raiz de outra coisa
mais terrível do que esta a acomodada resignação
que guardamos para aquilo com que não nos podemos bater"

Tatiana Faia, Lugano (Artefacto)

Wednesday, September 21

Algarve


1.
A luz mais que pura
Sobre a terra seca

2.
Eu quero o canto o ar a anémona a medusa
O recorte das pedras sobre o mar

3.
Um homem sobe o monte desenhando
A tarde transparente das aranhas

4.
A luz mais que pura
Quebra a sua lança

Sophia de Mello Breyner Andersen

Thursday, September 15

Eu te saúdo outono punitivo
sinal desse silêncio que me não permite
desistir de cantar enquanto vivo
Que o vento a névoa a folha e sobretudo o chão
caibam dentro do espaço da minha canção

Transporte no tempo, Ruy Belo


Tuesday, September 13


"Atravessar o Alentejo por este braseiro, debaixo de um céu mais branco do que azul, entre um restolho que refulge, com raras azinheiras na terra nua e fardos de palho por recolher, sob o incessante reco das cigarras, seria logo uma história completa, acaso mais rigorosa do que outra em tempos contada."

A jangada de pedra, de José Saramago

Wednesday, July 27

Becoming vegan

"Os nossos conhecimentos e crenças decidem o que nos parece conveniente desejar e sabemos que nem tudo o que, em primeira instância, pode apetecer-nos é compatível com o que somos e como somos"

Fernando Savater, in A coragem de escolher

Thursday, July 21

The Kama Sutra of Reading

É assim

Não interessa o que se diz, o que se escreve
não interessa. Não interessa como se diz
seja embora o como não de todo isento
de interesse. Não interessa a hora, o dia
o lugar. Não interessa onde nem a quem
nem para quando nem para quê
Não interessa porque se diz o que se diz
Muita coisa há que não interessa, aliás
quase nada interessa tratando-se de dizer
Não interessa quando se diz, mas interessa
menos ainda, isto é, nada mesmo
o que se diz ou o que tal queira dizer
Interessa o quê, então? Interessa o mar, o mar
em si mesmo e aquilo que acontece quando o mar
nos cai em cima, prevenida ou desprevenidamente
O mar, o mar sim interessa, mas
convenhamos, o que é que há a dizer
quando o mar nos afaga ou nos cai todo em cima
e nos submerge e afoga? Toda a água
todo o frio, todo o azul, todo o verde que há no mar
Como soi agora dizer-se ao iniciar uma qualquer
explanação, é assim: não há nada a dizer
e quando então alguma coisa se diz, o que é que isso
pode querer dizer ou que raio de interesse poderá ter?
Estão a ver a situação: o mar, toda a monstruosa
porção de água que o mar é, todas as cores
todo o frio e toda a espuma, toda a luz também
e escuridão que há no mar, tudo em cima
de nós. Assim de repente. Que interesse
tem dizer? E dizer o quê? E como?

Rui Caeiro in Resumo - a poesia em 2010 (Assírio & Alvim, 2011).

Wednesday, July 6

Sonnet 18

Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate;
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date;
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance or nature's changing course untrimm'd;
But thy eternal summer shall not fade,
Nor lose possession of that fair thou ow'st;
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow'st:
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee.


William Shakespeare

Wednesday, June 29

Monday, June 27

espelho retrovisor


Quando olho para
trás nem sempre
sei que tempo se
esconde nestes
versos.

José Mário Silva, o Bibliotecário de Babel, em Luz indecisa

Tuesday, June 21

Nous sommes tous les jours

"I know what (...) I love best on earth. I hold myself supremely blest — blest beyond what language can express.

(To be together is for us to be at once as free as in solitude, as gay as in company.)"

Jane Eyre, Charlotte Brontë (extraits)

Verão


O que há de novo na tarde
Verdadeiramente tarde
Verdadeiramente terna
É este gosto novo de cantar
É esta fome absurda de verão

Amélia Pais (Ao Longe os Barcos de Flores)
"(...) em mim rivalizavam o desdém pelos movimentos do contra e o desdém pelo sistema."

Imre Kertész, Um outro — Crónica de uma metamorfose

Tuesday, June 7


"There could have been no two hearts so open, no tastes so similar, no feelings so in unison, no countenances so beloved."

Persuasion, Jane Austen

Sunday, June 5

A pensar em antologias e em invernos


"Impitoyable dictature que celle de l'opinion dans les sociétés démocratiques; n'implorez d'elle ni charité, ni indulgence, ni élasticité quelconque dans l'application de ses lois aux cas multiples et complexes de la vie morale."

Edgar Poe, sa vie, ses oeuvres — Charles Baudelaire

__________________________________________________

Implacável ditadura é a da opinião nas sociedades democráticas; não implores dela nem caridade, nem indulgência, nem qualquer elasticidade na aplicação das suas leis aos múltiplos e complexos casos da vida moral.

Tradução do Outro Lado da Lua

Saturday, June 4


"You give it all, but I want more"

Friday, June 3

a cidade enorme onde

procuro as
castanheiras
debruçadas nos

muros

longínquos

Adair Carvalhais Júnior, Agio 2010

Tuesday, May 31



"I will enjoy watching you die, Mister Andersen."

Vira-nos a alma do avesso e vai-se embora

"And nothing seems to me so wild and bold,
As with one kiss to touch thy blessed cheek."

From the poem Beauty, by Alfred Tennyson

Wednesday, May 25

IV

You came, and I was mad for you
And you cooled my mind that burned with longing…


Sappho, http://www.poetryintranslation.com/PITBR/Greek/Sappho.htm

Wednesday, May 18

Conscientious inconsistency

"Her history with meat was remarkably similar to mine: there were things she believed while lying in bed at night, and there were choices made at the breakfast table the next morning. There was a gnawing (if only occasional and short-lived) dread that she was participating in something deeply wrong, and there was the acceptance of both the confounding complexity of the issue and the forgivable fallibility of being human. (...)
Of course our wedding wasn't vegetarian, because we persuaded ourselves that it was only fair to offer animal protein to our guests (...). And we ate fish on our honeymoon, but we were in Japan, and when in Japan... And back in our new home, we did occasionally eat burgers and chicken soup and smoked salmon and tuna steaks. But only every now and then. Only whenever we felt like it.
And that, I thought, was that. And I thought that was just fine. I assumed we'd maintain a diet of conscientious inconsistency. Why should eating be different from any of the other ethical realms os our lives? We were honest people who occasionally told lies, careful friends who sometimes acted clumsily. We were vegetarians who from time to time ate meat."

Eating animals, Jonathan Safran Foer

Saturday, May 14

Friday, May 13

Farpas

Tanta farpa cravei por acidente
no meu próprio flanco.

As farpas oscilam a cada passo meu,
lacerando sempre um pouco mais
os rasgões que já trago na carne.

Toma para ti - ò touro divino,
verdadeiro destinatário delas! -
algumas dessas farpas.

Que todas sobre mim são muito peso,
muita dor,
muito sangue empastando sobre a pele,
muita mosca cevando-se no sangue.

A. M. Pires Cabral

Saturday, May 7

Thursday, April 28

Jour de fête à l'hospice

Angelo Morbelli

Wednesday, April 27

"La libellule vibre sur l'eau
Le criquet grince sur la pierre
La libellule vibre et ne chante parole
Le criquet grince et ne dit mot
Mais l'aile de la libellule est un libelle
Mais l'aile du criquet est un écrit
Et ce libelle déjoue la ruse de la mort
Et cet écrit dévoile le secret de la vie."

La goutte d'or, Michel Tournier

Tuesday, April 12

Crepúsculo


Cai a tarde, dentro e fora.
E agora, ao cair da tarde,
frio, caminho, por fora,
face estranha à tarde que arde
na hora que cai agora.
Adeus, tarde. Vou-me embora
antes que seja mais tarde.
Não quero ser leão covarde:
quando tem dentes, devora,
quando os não tem, geme e chora,
anjo falso que se inflora
à hora em que cai a tarde.
Oh não quero! Vou-me embora
antes que seja mais tarde.
Para quê sentir agora
se agora é a hora da tarde?
Não há nada que nos guarde,
nem defenda nem resguarde
do que na hora é outrora.
Chora, chora, chora, chora.
Não chores mais. Vai-te embora
antes que seja mais tarde.

António Gedeão

Monday, April 11

Sunday, April 10

Achado algures na internet

Wednesday, March 30

Paris

Em Paris as ruas são mais escuras do que em Lisboa, são cinzentas, mas perladas de cores suaves, como o rosa de uma amendoeira. Os telhados são inclinados num grau agudo, e as fachadas erguem-se, altivas, bem arranjadas. O rio corre pela cidade, como se fosse uma grande via rápida líquida. As suas águas são pardas e têm algo de feminino, na volúpia com que lambem as amuradas que as prendem — La Seine.

Os parisienses não são simpáticos, por regra. Preferem que os deixem, a eles e à sua cidade, em paz. Mas há sempre (quase) um velhote simpático que nos pergunta se precisamos de ajuda, e todos os portugueses com que nos cruzamos, que são mais numerosos do que imaginaríamos, e que ficam sempre tão contentes por nos ver quanto nós a eles. Um amigo meu (francês) disse-me que nem todos os franceses são igualmente maldispostos; que é uma característica tipicamente parisiense. Talvez seja uma coisa de grande cidade; afinal, nunca prestei muita atenção aos lisboetas, tendo vivido sempre entre eles. É mais difícil julgar-nos a nós próprios, principalmente sem termos de comparação (mas até agora, Portugal sai a ganhar).

Não fosse tão difícil viver legalmente aqui — porque a palavra burocracia deve ter sido inventada pelos franceses — e talvez muito mais gente viesse até à cidade das luzes. A vontade de excluir o outro é a resposta mais habitual ao medo; contudo, não sei se será só isso que explica esta vontade feroz que os parisienses têm de guardar a cidade só para si, este mépris pelas outras nacionalidades e a sincera (e ingénua) convicção de que, se nem todos conhecem as suas referências culturais ou falam francês, deviam.

Só que os crepes, os crepes!…, por eles, tudo isto vale a pena.

28 mars 2011

Tuesday, February 15


Ausente, de momento. Deixe mensagem.

Thursday, February 3

Hiroshige

"É preciso partir, é preciso ficar."

Eugénio de Andrade

Monday, January 31

Nunca conhecera ninguém

"Éramos muito parecidos, Sumire e eu. Para nós os dois, devorar livros era tão natural como respirar. Aproveitávamos todos os momentos livres para nos sentarmos sossegados a um canto, a virar interminavelmente as páginas, umas atrás das outras. Romances japoneses, romances estrangeiros, títulos recentes, clássicos, obras de vanguarda ou best-sellers — líamos de tudo um pouco, todos os livros que nos iam parar às mãos, desde que fossem intelectualmente estimulantes. Fazíamos a rondas das bibliotecas, passávamos dias a fio entretidos a vaguear pela Kanda, a meca dos alfarrabistas, que fica em Tóquio. Além de mim, nunca conhecera ninguém que experimentasse tamanha paixão — tão profunda, tão vasta — pela leitura, e tenho a certeza de que o mesmo acontecia com Sumire."

Sputnik, meu amor — Haruki Murakami

Megamind: All men must choose between two paths. Good is the path of honour, friends and family. Evil... well, it's just cooler.

Tuesday, January 25

Sunday, January 23

Immer...


Impressão Digital

Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
Que eu vejo no mundo escolhos
Onde outros com outros olhos,
Não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
Uns outros descobrem cores
Do mais formoso matiz.

Nas ruas ou nas estradas
Onde passa tanta gente,
Uns vêem pedras pisadas,
Mas outros, gnomos e fadas
Num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,
Querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.


António Gedeão

Thursday, January 20

Por causa e para o novo bibliotecário da FD da UNL


The Moses (c. 1513–1515) is a masterpiece of High Renaissance sculpture by the renowned artist Michelangelo Buonarroti, housed in the church of San Pietro in Vincoli in Rome. The sculpture was commissioned in 1505 by Pope Julius II for his tomb. This famous work of art depicts the Biblical figure Moses with horns on his head, symbolic of wisdom and enlightenment.

Wednesday, January 19

The trial that lead to The Trial

"The persuasiveness of Kafka's narratives is almost entirely an effect of his style, which native German-speakers will assure us is well-nigh unique in German literature for its simplicity, control and directness. The polished stuff through which these narratives are conveyed is as resistant and as transparent as glass, and the voice that speaks over it is at once thoroughly jaded and irresistibly compelling. Oneiric though it appears, this is the world not of Kafka's sleeping but of our waking, and the fascinated unease we experience in the face of it springs from the very fact of our recognition of it as impossible and yet wholly real."

Tuesday, January 18

Monday, January 17

Sunday, January 16

"(...) Na tua mão de paz, na tua mão de guerra,
Se já nasceu amor, faz ninho a mágoa."

José Saramago, Os poemas possíveis

Friday, January 14

Anarquismo platónico

"A mim sempre me faltou vocação e coragem para entrar na política. Em termos aristotélicos, essa abstenção é uma imbecilidade, uma vez que dá aos bandidos, corruptos e medíocres todos os incentivos e oportunidades para tomarem o poder. A minha política resume-se a tentar apoiar qualquer ordem social que consiga reduzir, ainda que marginalmente, a soma de ódio e dor na circunstância humana. E que ofereça espaço de crescimento para a privacidade e para a excelência. Considero-me um anarquista platónico o que, bem sei, não é uma posição muito bem vista."

George Steiner, Errata: revisões de uma vida (Relógio d'água 1997), p. 147

Wednesday, January 12

2010 em Lista

O melhor do ano que passou, nas três principais categorias de lazer.

Livros
The animal farm (traduzido por O Triunfo dos Porcos) — George Orwell
Samarcanda — Amin Malouf
Jangada de Pedra — José Saramago
Foudation/Foundation and Empire/The Second Foundation — Isaac Asimov
The catcher in the rye — J. D. Sallinger
Il Disprezzo (O desprezo) — Alberto Moravia
Possession — A. S. Byatt
El valor de educar (O valor de educar) — Fernando Savater
Uma pequena história do mundo (Eine kurze Weltgeschichte für junge Leser) — E. H. Gombrich
Seis propostas para o próximo milénio (Sei proposte per il prossimo millennio) — Italo Calvino
Sob os teus pés a terra — Soledade Santos
Ilíada...

Cinema
El silencio de las palabras
The Road
Doubt
Gran Torino
Ágora
Shutter Island
The Departed
Defendor
José e Pilar
Reservoir dogs
Inception
Edward ScissorHands


Música
All shook up — Elvis
Stuck in the middle with you — Stealers Wheel
VCR — The XX
Siboney — Connie Francis
Walk on the wild side — Lou Reed
Fado Toninho — Deolinda
Burning — The whitest boy alive
Everlasting love — U2
Gran Torino — Jamie Cullum
Tell him — Lauryn Hill
Tell me 'bout it
— Joss Stone
U know who I am — David Fonseca

E este ano, porque algumas escolhas se revelaram muito difíceis, menções honrosas:

Sempre uma criança :)
- As viagens de Gulliver (Gulliver's Travels) — Jonathan Swift
- As aventuras de João sem Medo — José Gomes Ferreira
- The Princess and the Frog, da Disney

Private Hugo Awards
- Rendezvous with Rama — Arthur C. Clarke
- Idlewild / Edenborn / Everfree — Nick Sagan
- Battlestar Galactica, TV Series 2004–2009 (fraking good!)

"Things of beauty"
- O tempo das suaves raparigas e outros poemas de amor — Ruy Belo
- Il postino (O carteiro de Pablo Neruda)

Special Punk
- Daft Punk is playing at my house — LCD Soundsystem
- Os primeiros 17 segundos da música You Know me better — Roisin Murphy

Não podias ser pior, mesmo que quisesses (para os especialmente maus):
- Pedro Páramo — Juan Rulfo em concorrência com Livro da Dança — Gonçalo M. Tavares
- Pulse 2 em concorrência com The Celestine Prophecy

Monday, January 10

Auschwitz / HIroshima

Há palavras que, quando ditas, provocam frio numa certa parte de nós que não tem nome.

Tuesday, January 4

So Franklin said

"All mankind is divided into three classes: those that are immovable, those that are movable, and those that move."

Saturday, January 1