Friday, January 30

Ciranda

Do Nocturno com gatos chegou-me uma ciranda irresistível, a que me junto em passos de dança.
As regras são:
- Agarrar o livro mais próximo: Venenos de Deus Remédios do Diabo, de Mia Couto.
- Abrir na página 161;
- Transcrever a quinta frase completa.

Não resisto, contudo, a trancrever algumas frases antes desta, e algumas depois.

"A esposa lhe falara, logo pela manhã, do rumor que corria pela Vida: Suacelência tinha sido demitido do cargo. Sem razão, nem motivo nem explicação. A medida fora tomada enquanto o Administrador recebia tratamento na cidade.
- Queria saborear a novidade na rua, festejar os últimos acontecimentos. Vou celebrar esse sacana do Suacelência todo despoleirado."

Passo agora a cinco pessoas. Sem compromisso, para quando quiserem e tiverem por acaso um livro de mais de 161 páginas em cima da mesinha-de-cabeceira: 

Boas cirandas

Thursday, January 29

Friday, January 23


Quando eu morrer, eu sei, tu escreverás
Triste soneto à morte prematura;
Dirás que a vida cansa em amargura
E, pálido e frio, tu me cantarás.

Nas quadras, reflectido se lerá
De como, vã e breve, a vida expira
E como em terra funda, dura e fria,
A vida, má ou boa, acabará.

A seguir, nos tercetos, tu dirás
Que a morte é mistério, tudo fugaz,
Verdadeira, talvez, a vida além.

Por fim porás a data, assinarás.
E, relido o soneto,
ficarás Contente por tê-lo escrito bem.

Alexander Search (tradução desconhecida)

Death Proof

Monday, January 19


Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida avidez vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora

Há tanto tempo sua própria tessitura.

Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E trasitória se tu me repensas.

Hilda Hilst

Tuesday, January 13

XXVI de la Partage Formel

Mourir, ce n'est jamais que contraindre sa conscience, au moment même où elle s'abolit, à prendre congé de quelques quartiers physiques actifs ou somnolents d'un corps qui nous fut passablement étranger puisque sa connaissance ne nous vint qu'au travers d'expédients mesquins et sporadiques.

René Char, Fureur et Mystère

Morrer nunca é mais do que constranger a consciência, no preciso momento em que ela se extingue, do que meter férias de alguns quarteirões físicos activos ou sonolentos de um corpo que nos foi sofrivelmente estrangeiro, visto que o seu conhecimento não nos chegou senão através de expedientes mesquinhos e esporádicos.

(Tradução do Outro Lado da Lua)

Monday, January 12

"Como realizador que na montagem das cenas, revendo as imagens filmadas (captadas), procurando enquadra-las do guião da história ou até quando alguma das cenas não lhe agrada, exclama, peremptório - Corta!"

JB

Friday, January 9


Há coisas que vale a pena rever de vez em quando
"Eu passava muito bem sem Deus e, se utilizava o seu nome, era para designar um vazio que tinha, a meus olhos, o clarão da plenitude"

Simone de Beauvoir

Tuesday, January 6

You're

Clownlike, happiest on your hands,
Feet to the stars, and moon-skulled,
Gilled like a fish. A common-sense
Thumbs-down on the dodo's mode.
Wrapped up in yourself like a spool,
Trawling your dark, as owls do.
Mute as a turnip from the Fourth
Of July to All Fools' Day,
O high-riser, my little loaf.

Vague as fog and looked for like mail.
Farther off than Australia.
Bent-backed Atlas, our traveled prawn.
Snug as a bud and at home
Like a sprat in a pickle jug.
A creel of eels, all ripples.
Jumpy as a Mexican bean.
Right, like a well-done sum.
A clean slate, with your own face on.

Sylvia Plath, Ariel 

Thursday, January 1

Canção de Alterne - Rui Veloso e Nancy



Pára de chorar
E dizer que nunca mais vais ser feliz
Não há ninguém a conspirar
Para fazer destinos
Negros de raiz
Pára de chorar
Não ligues a quem diz
Que há nos astros o poder
De marcar alguém
Só por prazer
Por isso pára de chorar
Carrega no batom
Abusa do verniz
Põe os pontos nos Is
Nem Deus tem o dom 
De escolher quem vai ser feliz

(Para Anouk)

Hat on


Juno MacGuff: It started with a chair.