Wednesday, March 30

Paris

Em Paris as ruas são mais escuras do que em Lisboa, são cinzentas, mas perladas de cores suaves, como o rosa de uma amendoeira. Os telhados são inclinados num grau agudo, e as fachadas erguem-se, altivas, bem arranjadas. O rio corre pela cidade, como se fosse uma grande via rápida líquida. As suas águas são pardas e têm algo de feminino, na volúpia com que lambem as amuradas que as prendem — La Seine.

Os parisienses não são simpáticos, por regra. Preferem que os deixem, a eles e à sua cidade, em paz. Mas há sempre (quase) um velhote simpático que nos pergunta se precisamos de ajuda, e todos os portugueses com que nos cruzamos, que são mais numerosos do que imaginaríamos, e que ficam sempre tão contentes por nos ver quanto nós a eles. Um amigo meu (francês) disse-me que nem todos os franceses são igualmente maldispostos; que é uma característica tipicamente parisiense. Talvez seja uma coisa de grande cidade; afinal, nunca prestei muita atenção aos lisboetas, tendo vivido sempre entre eles. É mais difícil julgar-nos a nós próprios, principalmente sem termos de comparação (mas até agora, Portugal sai a ganhar).

Não fosse tão difícil viver legalmente aqui — porque a palavra burocracia deve ter sido inventada pelos franceses — e talvez muito mais gente viesse até à cidade das luzes. A vontade de excluir o outro é a resposta mais habitual ao medo; contudo, não sei se será só isso que explica esta vontade feroz que os parisienses têm de guardar a cidade só para si, este mépris pelas outras nacionalidades e a sincera (e ingénua) convicção de que, se nem todos conhecem as suas referências culturais ou falam francês, deviam.

Só que os crepes, os crepes!…, por eles, tudo isto vale a pena.

28 mars 2011