Saturday, November 30

Friday, November 29

Estranho seria se eu não me apaixonasse por você

É engraçado, só agora me aperceber disto, tão meu é o hábito de demasiado teorizar as coisas: depois de nos termos conhecido acho que ficámos marcados pela maneira de ser de um e outro, pelos gostos que afinal partilhamos com alguém que, para lá de todas as expectativas, existe. 

E por causa disso — talvez para sempre? — só nos apaixonamos por aquelas pessoas que, além de nós, se parecem a um e a outro, doppelgängers do avesso lógico.

Procuramo-nos mesmo um ao outro em outros corpos, outros lábios. Que avesso lógico inesperadamente surpreendente, e tão aconchegante.

Mas depois há aquilo "que eu só vejo em você".


PS: É tão bom sair do trabalho a horas quase normais!

Verdades demasiado quotidianas


"Pourtant, aucune de ses certitudes ne valait un cheveu de femme."

Albert Camus, L'Étranger


Um dos meus maior segredos é não ser daquele mundo, sentir-me tanto mais viva quanto mais me afasto.

Friday, November 22



I think the truth is we all long for nature.

Thursday, November 21

Das duas uma

Podemos optar olhar para a vida de dois modos diametralmente opostos, concluo eu: ou como uma constante coincidência irónica, a mais das vezes maliciosa ("and isn't it ironic, don't you think?"), ou como o simples caos da não-significação, da naturalidade com que as coisas e as pessoas se sucedem no espaço-tempo.

Ou então o mundo é uma gigantesca casa-de-banho pública, onde tudo e todos se cruzam, mais tarde ou mais cedo.

Wednesday, November 20



Nada bate mesmo a rádio Nostalgia e a Star (ou uma M80).

X

Necesito el silencio igual que los secretos.
A veces, como ellos, necesito la luz,
mientras todas las calles
deciden fondear en las piscinas
y el cielo
de los supermercados solitarios
se parece a tus ojos demasiado.

Pero la noche baja
a sentarse en las plazas por la noche.
Son
las cotizadas sillas del crepúsculo,
según me dijo alguien que buscaba
tener conversación.

Y hablé de ti, hablé de las semanas,
del interés que muestran por no pasar los días.


Luis García Montero, Diario cómplice, Hiperión, p. 75

Tuesday, November 19

Qual é a pior coisa que pode acontecer?

Gosto desta forma de pensar. Por causa da forma simples como nos conduz àquilo que é mais importante.

Porque a pior coisa que pode acontecer, se pedirmos a uma miúda para ir beber café connosco, não é que ela recuse ou que nos julgue, é que isso nos custe a relação mais íntima, mais significativa.
Porque é que eu gosto do David Fonseca? Entre outras coisas, porque no meio de quinhentos posts sobre uma das coisas mais estúpidas do mundo, ele posta poesia.



"I thought of you and how you love this beauty,
And walking up the long beach all alone
I heard the waves breaking in measured thunder
As you and I once heard their monotone.

Around me were the echoing dunes, beyond me
The cold and sparkling silver of the sea --
We two will pass through death and ages lengthen
Before you hear that sound again with me."

"I Thought of You", Sara Teasdale


Como se estivesse negra por dentro, fuligenta, a precisar da frescura do que é ser, somente, para me limpar.
E sentir essa renovação, era do aquário, contigo.


http://www.valedalama.net

IV

Si yo te comentase que la vida es mentira,
háblame del amor o de tu cuerpo,
de la noche contigo.

Y recuérdame luego
los días que son días porque alguien me ama
o acaso
porque tú me prefieres.


Luis García Montero, Diario cómplice, Hipérion, p. 25

:P

Friday, November 15

"He looked about as inconspicuous as a tarantula on a slice of angel food"



 
Hoje é dia de retiro, e de começo das "férias". Faz sentido celebrar com uma música-surpresa, daquelas mesmo giras que nunca esperámos encontrar cantadas por uma menina mimada debaixo da spot-light. Mas ela aqui está, e tem o tom perfeito para esta Sexta, por isso vamos ouvi-la no repeat.
 
Nothing scares me anymore

Tuesday, November 12



A pensar no Sylar do AHS

Sunday, November 10




"son mi perdón, mi redención, mi despertar
(...)
tus ojos lo tienen todo
nada me falta porque son mi bendición
tus ojos son mi equilibrio"


Saturday, November 9

Tentei deixar-te

"Tentei deixar-te. O Cohen tem uma canção chamada «I Tried to Leave You». É sobre uma «vida de casal», ou seja, não é sobre a nossa vida; mas não faz diferença. Eu tentei deixar-te, várias vezes, em pouco tempo. Não deixar-te a ti, talvez deixar uma ideia de ti. Mas como é que eu podia deixar «uma ideia de ti» se, justamente, tu não vives de acordo com «uma ideia de ti», se não mentes, não representas, não te conformas, se vives sempre em ti, e não segundo «uma ideia»? Poderia talvez deixar-te, ou tu a mim, se as coisas acontecessem de outra maneira, mas seríamos sempre eu e tu, não uma «ideia de ti» ou uma tua ideia de mim. Porque tu, com uma espantosa inocência inamovível, preferes o «ridículo» (que, acredita, não mata) ao que os outros pensam (dizias-me: «mas o que é que nos interessa 'toda a gente'?», e eu não ouvia esta frase há tantos anos e comovi-me, às escondidas).

O Cohen canta «I Tried to Leave You» muitas vezes nos encores, quando regressa ao palco depois da «última canção». Volta apesar de «ter tentado» (teatralmente) «deixar» o público. Mas isto não é um jogo, é uma canção de amor, de dificuldade na fidelidade, de fidelidade na dificuldade. Por isso, os sorrisos esvaem-se e a canção continua, mortalmente séria, até acabar com um convite ou uma despedida: «Goodnight, my darling, I hope you're satisfied, / the bed is kind of narrow, but my arms are open wide», verso seguido da puta da rima mais bonita de sempre: «And here's a man still working for your smile»."

PEDRO MEXIA AT 00:33 -  http://omalparado.blogspot.pt



http://www.youtube.com/watch?v=J14XykL0LWs

Amor é bicho instruído
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Carlos Drummond de Andrade

Thursday, November 7


Wednesday, November 6

«L’intelligenza non avrà mai peso, mai
nel giudizio di questa pubblica opinione.
Neppure sul sangue dei lager, tu otterrai

da uno dei milioni d’anime della nostra nazione,
un giudizio netto, interamente indignato:
irreale è ogni idea, irreale ogni passione,

di questo popolo ormai dissociato
da secoli, la cui soave saggezza
gli serve a vivere, non l’ha mai liberato.

Mostrare la mia faccia, la mia magrezza -
alzare la mia sola puerile voce -
non ha più senso: la viltà avvezza

a vedere morire nel modo più atroce
gli altri, nella più strana indifferenza.
Io muoio, ed anche questo mi nuoce»

Pier Paolo Pasolini

You can't have your cake and eat it

« Vouloir le beurre et l’argent du beurre »
"És fervilhante."

Tuesday, November 5



Prendas dos colegas monárquicos que valem a pena :)

"Es un gran necio,
un estúpido engreído,
egoísta y caprichoso,
un payaso vanidoso,
inconsciente y presumido,
falso enano rencoroso
que no tiene corazón."

Sunday, November 3

O prometido é devido


"Liesel was alarmed, to put it mildly. "What do you want to kiss me for? I'm filthy."
"So am I." Rudy clearly saw no reason why a bit of filth should get in the way of things. It had been a while between baths for both of them."


Markus Zusak, The book thief

I

Yo sé
que el tierno amor escoge sus ciudades
y cada pasión toma un domicilio,
un modo diferente de andar por los pasillos
o de apagar las luces.

Y sé
que hay un portal dormido en cada labio,
un ascensor sin números,
una escalera llena de pequeños paréntesis.

Sé que cada ilusión
tiene formas distintas
de inventar corazones o pronunciar los nombres
al coger el teléfono.
Sé que cada esperanza
busca siempre un camino
para tapar su sombra desnuda con las sábanas
cuando va a despertarse.

Y sé
que hay una fecha, un día, detrás de cada calle,
un rencor deseable,
un arrepentimiento, a medias, en el cuerpo.

Yo sé
que el amor tiene letras diferentes
para escribir: me voy, para decir:
regreso de improviso. Cada tiempo de dudas
necesita un paisaje.

Luis García Montero, Diario cómplice, Hiperión, p. 21


Saturday, November 2

Eventualmente vais ter de te calar


Surpreende-me sempre a forma como as substâncias exteriores podem afectar-nos. Seria de esperar que tivéssemos o domínio dos nossos corpos e emoções, mesmo influenciados, por sabermos de antemão que teremos de contar com algo mais, como subir no mesmo poste mas com os pesos da força e disciplina ("Farei de ti um terror/nu e cru"). Só teríamos de contar com esse peso extra, essa tendência extra num sentido ou noutro, e poderíamos encontrar o equilíbrio. Mas não resulta. Inesperadamente, porque é inesperado (convencemo-nos de que, se estivéssemos sobre o domínio de algo, o saberíamos controlar e não o contrário) it hits us. Não há avisos que ajudem, nem ideias disparatadas sobre o que achamos e o que conseguimos. Não somos nós. As circunstâncias, as circunstâncias tão fortes, e conquistá-las tão difícil. Menos difícil quando se trata de café duplo, mais quando é o inexplicável de se gostar tanto de um perfume ou de uma música que lembram o nosso melhor sorriso.

Ou a maneira como gostamos mais de pessoas ácidas. Ou de viver bizarramente.


É mesmo bonitinha, é Caetano.


"Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura"