Friday, December 27

Quem foi que à tua pele conferiu esse papel

de mais que tua pele ser a pele da minha pele?

Cintilação de luas

assim que te desnudas

às escuras

Diante do teu ventre

como não dizer “sempre”

novamente.

Ó lâmina e bainha

de outra espada ainda

Tua língua

Ruge. Reprende. Arrasa

Desde que sempre o faças

com as asas

Vem dos arcanos de outro tempo

ou dos anéis de outra galáxia
esta espessura transparente

que só na cama as almas ganham


David Mourão-Ferreira 
Lido: http://www.estudioraposa.com/index.php/14/02/2012/david-mourao-ferreira-pequenos-poemas/

ca·bal

adjectivo de dois géneros

1. A que não falta nada.

2. Que é ou está como deve ser.

"cabal", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/cabal [consultado em 27-12-2013].




"Weird is nice."


"Cause were living in a world of fools
Breaking us down
When they all should let us be
We belong to you and me"

And I do, I do, I do!


Monday, December 23

6-6



Não é preciso muito para se ser feliz. 

Mas as voltas que o mundo dá continuam a surpreender-me, pior que as aquabolas. Querer tanto viver ali, nunca pensei. Contigo, já é mais natural.

Sunday, December 22

Seios

Sei os teus seios.
Sei-os de cor.
Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.
Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.
Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!
Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!
Por que não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p´la manhã?
Quantas vezes
Interrogaste, ao espelho, os seios?
Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!
Quantos seios ficaram por amar?
Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!
Seios decrépitos e no entanto belos
Como o que já viveu e fez viver!
Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em desesperadas, quarentonas lágrimas...
Seios fortes como os da Liberdade
- Delacroix - guiando o povo.
Seios que vão à escola p´ra de lá saírem
Direitinhos p´ra casa...
Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes folhos alheios!
Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...
O amor excessivo dum poeta:
«E hei-de mandar fazer um almanaque
Na pele encadernado do teu seio!» (Gomes Leal)
Retirar-me para uns seios que me esperam
Há tantos anos, fielmente, na província!
Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.
Botas, botifarras
Pisando tudo, até os seios
Em que o amor se exalta e robustece!
Seios adivinhados, entrevistos,
Jamais possuídos, sempre desejados!
«Oculta, pois, oculta esses objectos,
Altares onde fazem sacrifícios
Quantos os vêem com olhos indiscretos» (Abade de Jazente)
Raparigas dos limões a oferecerem
Fruta mais atrevida: inesperados seios...
Uma roda de velhos seios despeitados,
Rabujando,
A pretexto de chá...
Engolfo-me num seio até perder
Memória de quem sou...
Quantos seios devorou a guerra, quantos,
Depressa ou devagar, roubou à vida,
À alegria, ao amor e às gulosas
Bocas dos miúdos!
Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne
Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser.


Alexandre O'Neill

Saturday, December 21

tudo começou com o amor

Ontem no metro escrevi uma mensagem que não cheguei a enviar. Havia duas razões: a primeira, porque me parecia ingénuo partilhar tão depressa uma ideia forte, mas banal. A segunda, porque é preciso que uma pessoa aprenda a fazer uso dos seus pensamentos, sem precisar do outro para lhes garantir a carne. Às vezes uma pessoa tem medo de perder o que pensa, e por isso fala. Acontece que eu escrevo muitas mensagens pensando numa pessoa e depois decido enviar para outra ou não envio para nenhuma. 

Tudo começou com o amor mas quando dei por mim já era a vida toda. Pensava no que pode significar um homem numa jangada - um homem que não sabe nadar. Da terra, o mar está sempre flat. Não há globo em quarto de criança onde as ondas se levantem, não caem tempestades nos mapas. Então: um homem atira-se ao mar e sente tudo, cada onda, cada brisa, cada pingo de sal, cada mudança ligeira. Não há nada no mar que não seja provisório. Lá, a vista é sempre curta. Por detrás do horizonte há um novo horizonte, ao qual se segue ainda o horizonte. O sol, no Oriente, nasce a Oriente do Oriente? 

Ninguém que morrer nas águas chocas dos fiordes, ou ser sereia em terra, ou marinheiro em Londres. Queremos todos chegar a Banguecoque. É aquela história do navegar é preciso, estás a ver? E, na verdade, ninguém sabe nadar. Era isso que explicávamos ao J. quando ele nos pedia para o ensinarmos a andar de skate: estás a ver esse dedo arranhado? Tens que ter isso muitas vezes para aprender, não há outra forma. E como é que gente tão sábia quanto nós ainda esperneia tanto quando pisa uma agulha, esfola o orgulho ou morde a língua no verbo errado? Dei então por mim a elaborar uma teoria. 

Publicada por Catarina


The pines were roaring on the height,
The winds were moaning in the night.
The fire was red, it flaming spread;
The trees like torches blazed with light.

Ninfas





Thursday, December 19

Wednesday, December 18

I'll tell you in another life



When we are both cats.

Não vale nada mas

E afinal na tal balança tão confusa ela "até podia ser antes um canário", porque o que interessava, o que interessa, não era ela, nem ele, não é ninguém em especial, é esta vontade visceral de algo mais que nos impele.

Somamos isto ao facto de, para magoar, ter de haver alguma semelhança entre a faca e a vítima (o que só se consegue com alguém x% parecido, mas isso resulta nos defeitos amados a surgir em catadupa hiperbólica). 

E está tudo explicado.

http://www.youtube.com/watch?v=GaQ0fNcXrPk

"Porque eu estou com ela
Sou dela, sem ela
Não sou!
Porque eu preciso dela
Só dela, com ela
Eu vou!"



PS: Cê é tão foda, Nandinho.



Tokiwa Gozen e os três filhos fugindo na neve
Utagawa Kuniyoshi, Japão, c. 1844 
Gravura em madeira sobre papel
Coleção Calouste Gulbenkian

Tuesday, December 17

Uma bobagem, uma irrelevância




Ah, mas eu sei que tu és tudo aquilo que faz falta.

Sunday, December 15




Oh fiera independiente 
de la casa, arrogante 
vestigio de la noche, 
perezoso, gimnástico 
y ajeno, 
profundísimo gato, 
policía secreta 
de las habitaciones, 
insignia
de un 
desaparecido terciopelo, 
seguramente no hay 
enigma 
en tu manera, 
tal vez no eres misterio, 
todo el mundo te sabe y perteneces 
al habitante menos misterioso, 
tal vez todos lo creen, 
todos se creen dueños, 
propietarios, tíos 
de gatos, compañeros, 
colegas, 
discípulos o amigos 
de su gato.


Pablo Neruda

Saturday, December 14

Tuesday, December 10


Via Gaturro.

Monday, December 9

"Realpolitik (from German: real "realistic", "practical", or "actual"; and politik "politics"(...) refers to politics or diplomacy based primarily on power and on practical and material factors and considerations, rather than explicit ideological notions or moral or ethical premises."

http://en.wikipedia.org/wiki/Realpolitik

Saturday, December 7




“Se (…) a capacidade de distinguir o bem do mal tiver algo a ver com a capacidade de pensar, então devemos ser capazes de exigir o seu exercício a todas as pessoas sãs, seja qual for o seu grau de erudição ou ignorância, sejam inteligentes ou estúpidas”.

"(...) he knew better than to suppose he had a grasp of even a tiny fraction of the infinite subtleties of galactic societies"

Isaac Asimov, Prelude to foundation


Friday, December 6

Até já, Madiba.


INVICTUS

Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

William Hernest Henley (1849-1903)


Advogado, lutador, político, foste homem e erraste. Admiro-te muito por nunca teres deixado de tentar ser melhor.

Thursday, December 5

É preciso lutar, lutar, lutar. Contra a indiferença, contra a ignorância, contra o egoísmo. Lutar todos os dias, ingloriamente.