Thursday, February 7

Na verdade, a poesia

"Todas as vezes que mergulhei em livros de estética tive a sensação desconfortável de ter estado a ler livros de astrónomos que nunca olharam para as estrelas. O que quero dizer é que escrevem sobre poesia como se a poesia fosse uma tarefa e não o que realmente é: uma paixão e uma alegria. Por exemplo, li com grande respeito o livro de Benedetto Croce sobre estética e foi-me dada a definição de que a poesia e a linguagem são uma "expressão". Ora, se pensarmos na expressão de alguma coisa, vamos cair no velho problema da forma e da matéria; e se pensarmos expressão de nenhuma coisa em particular, não dá realmente nada. Portanto, recebermos essa definição com todo o respeito e a seguir voltamo-nos para outra coisa. Voltamos à poesia; voltamos à vida. E a vida é, tenho a certeza, feita de poesia."

Este Ofício de Poeta, Jorge Luis Borges, Teorema, p. 8 e 9

La vie, quoi

Muitos dias assim, a manhã entrando mansa com os sons da rua, antes da voragem do trabalho. Tempo. Respirar. E uma lua pálida que demora a pôr-se, enquanto alastra a luz amarela do fim de verão e o choupo, “mestre dos ventos”, se perfila nesse tom de manteiga doce, cheio de aves da manhã.

Aroma a café, a pão cozido, sons de criança nos seus estrénuos e passageiros desgostos matinais. Rotinas que nos seguram - até a dor no ombro, a experimentação penosa da amplitude dos movimentos do braço. Que nos seguram, porque achamos um sentido, um propósito, entre o amargo dos desastres pessoais e a quota-parte de alegria a que todos aspiramos.

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We always find each other again.