Tuesday, December 30


Abaelard Und Seine Schülerin Heloisa, por Edmund Blair Leighton

Heloíse et Abelard

Romeu e Julieta não foram os únicos a amar-se, Pedro e Inês não foram o único amor proibido.  "A linguagem, forjada em cartas, concede-lhes a oportunidade de se contemplarem, de se tentarem, de regressarem um ao outro"

(...) How happy is the blameless vestal's lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd

Alexander Pope's poem "Eloisa to Abelard" (1717)


Joel: I can't see anything that I don't like about you. 
Clementine: But you will! But you will. You know, you will think of things. And I'll get bored with you and feel trapped because that's what happens with me. 
Joel: Okay. 

Can't help it

Epicurismo é o sistema filosófico ensinado por Epicuro de Samos, filósofo ateniense do século IV a.C., e seguído depois por outros filósofos, chamados epicuristas.

Epicuro propunha uma vida de contínuo prazer como chave para a felicidade, esse era o objetivo de seus ensinamentos morais. Para Epicuro, a presença do prazer era sinónimo de ausência de dor, ou de qualquer tipo de aflição: a fome, a abstenção sexual, o aborrecimento, etc.

A finalidade da filosofia de Epicuro não era teórica, mas sim bastante prática. Buscava sobretudo encontrar o sossego necessário para uma vida feliz e aprazível, na qual os temores perante o destino, os deuses ou a morte estavam definitivamente eliminados. Para isso fundamentava-se em uma teoria do conhecimento empirista, em uma física atomista e em uma ética hedonista.

Thursday, December 25

Monday, December 22

"Os professores são os inúteis mais bem pagos deste país" , disse Miguel Sousa Tavares.

"Ora como "os inúteis mais bem pagos deste país" já  lhe deram alguns milhares de euros a ganhar, resolveram fazer uso da sua inutilidade e dar este presentinho de Natal a todos os outros inúteis que o queiram ler...
  
Aqui o tens, não compres..."

1,5 d'eternité ensemble


Da maneira mais simples

É apenas o começo. Só depois dói,
e se lhe dá nome.
Às vezes chamam-lhe paixão. Que pode
acontecer da maneira mais simples:
umas gotas de chuva no cabelo.
Aproximas a mão, os dedos
desatam a arder inesperadamente,
recuas de medo. Aqueles cabelos,
as suas gotas de água são o começo,
apenas o começo. Antes do fim terás de pegar no fogo
e fazeres do inverno
a mais ardente das estações.

Eugénio de Andrade, Sulcos da Sede

Sunday, December 14


Virtude vegetal viver a sós
e entretanto dar flores.

António Gedeão

聖闘士星矢


"desenha com a ponta dos teus dedos
as fronteiras exactas do meu rosto
as rugas    os sinais     a cicatriz que ficou da infância
o lento sulco das lâminas onde no peito
se enterra o mistério do amor

e diz-me
o que de mim amaste noutros corpos
noutras camas   noutra pele"

Alice Vieira

The Logical Song

Thursday, December 11

"Dizendo-o por palavras mais próximas de uma imagem muito utilizada por Levinas - o Outro está aí, sempre, como um parceiro de diálogo, ou mesmo apenas uma esperança (um temor) de diálogo, como alguém que tem coisas que nos podem ser ditas e que, se o forem, modificam a nossa compreensão, de nós mesmos, provavelmente mais do que a nossa compreensão do Outro, a qual permanecerá sempre aberta e inacabada.
A tragédia está em que, (...) a compreensão há-de ser sempre incompleta, dela resultando sempre um resíduo irredutível. Ou seja, o Outro permanece como uma totalidade ou infinito, inapropriável pelo nosso pensamento, mas despertando sempre uma vertigem de conhecer mais (para nós mesmos no conhecermos mais)."

P.402/403 de O Caleidoscópio do Direito, António M. Hespanha

Friday, December 5

"Os astros não se explicam: arrefecem"


" (...) Mas este íntimo secreto
que no silêncio concentro,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se e desflorar-se,
é nosso, de mais ninguém."

Sunday, November 23

Coisas de miúda

"Plus tard, je veux faire des études pour devenir héroine de roman. C'est un bon métier, et cela permet de vivre au passé simple. Tu ne trouves pas que c'est plus joli?"

Djinn, de Robbe Grillet
Quando voltei encontrei os meus passos
Ainda frescos sobre a húmida areia,
A fugitiva hora, reevoqueia,
—Tão redíviva! nos meus olhos baços...

Olhos turvos de lágrimas contidas.
—Mesquinhos passos, porque doidejastes
Assim transviados, e depois tornastes
Ao ponto das primeiras despedidas?

Onde fostes sem tino, ao vento vário,
Em redor, como as aves n'um aviário,
Até que a asita fofa lhe faleça...

Toda essa extensa pista—para quê?
Se há-de vir apagar-vos a maré,
Como as do novo rasto que começa...

Camilo Pessanha, Clepsydra
Sheba Hart: My father always used to say... You know, on the tube..."Mind the gap".

Wednesday, November 19

Saturday, November 15

"C'est chaque fois triste, mais pas tragique, l'hiver, la vie, l'injustice. L'horreur absolue un certain matin.
C'est seulement ça, triste. Avec le temps on ne s'habitue pas. (...)

Pleurer, il faut que ça ait lieu aussi. Si c'est inutile de pleurer, je crois qu'il faut quand même pleurer. Parce que le désespoir c'est tangible. ça reste. Le souvenir du désespoir, ça reste. Quelquefois ça tue"

Écrire, Marguerite Duras

Monday, November 10

Dissolvo-me lentamente em
remoinhos de névoa que preenchem
os espaços entre os choupos.
Observo as águas escuras
que banham o meu reflexo -
nada sei do que se esconde
além do que posso ver
(rodeiam-me fundas olheiras que
não me deixam desenhar os
contornos do pântano que sou).
Busco identidade;
oscilo.

Saturday, November 8

"mas eu sempre quero mais"

Tão esguia a gata
Não da falta de cevada
mas do amor

Matsuo BashôItálico

Monday, November 3


So baby, what we've got has lately,
not been enough.
I wish I had your scarf still,
that once embraced,
and kept me warm.

Friday, October 31

"Será a fidelidade contra-natura"

Contra-natura: adv., contra as leis da natureza.

Defeito(s)

"(...) Sempre que um assunto é altamente controverso (...), não é de esperar que se diga a verdade. Apenas se pode demonstrar como se atingiu a opinião que se pretende defender. Apenas se pode conferir à audiência a oportunidade de tirar as suas próprias conclusões pessoais, à medida que observar as limitações, os preconceitos e idiosincrasias do orador."

Um quarto que seja seu, Virginia Woolf

Sunday, October 26

Gatos de Lisboa


Os gatos de Lisboa
são altos, esguios
bem falantes.
Sabem quase tudo
de história e
um pouco de geografia.

De noite caçam gatas
e de dia companhia
entre o lixo da cidade.
Não são assim tão pardos 
como dizem as histórias.

Pelo contrário, andam 
engravatadinhos, ar galante e
de quem não parte uma unha.
Se lhes falarem em 
sardinhas levantam 
altivos os bigodes -
não são desses gatos
farruscos aos pés
das varinas. Têm classe!

Mas mostrem-lhes um
banco de jardim ao sol.
E miau. 

1 Outubro 2008

Saturday, October 25

Honey honey


The invisible hand

The invisible hand is a metaphor coined by the economist  Adam Smith. Once in The Wealth of Nations and other writings, Smith demonstrated that, in a free market, an individual pursuing his own self-interest tends to also promote the good of his community as a whole through a principle that he called “the invisible hand”. He argued that each individual maximizing revenue for himself maximizes the total revenue of society as a whole, as this is identical with the sum total of individual revenues.

The end of the law is, not to abolish or restrain, but to preserve and enlarge freedom.”

 John Locke

Saturday, October 18


Friday, October 17

Casa

Houve um tempo
em que a minha única companhia
era o silêncio do mato
crescendo
no lote vago.

Um tempo longo
onde as horas pareciam dias
e esses
anos.

Em que eu chegava à noite
e todas as coisas estavam
como eu as deixara
pela manhã.

Houve um tempo
excessivamente longo
em que eu confundia
isolamento com solidão amor
com perdão.

O tempo passou
e trouxe a novidade
de dormir e acordar
ao seu lado.

De chegar em casa
e encontrar as roupas dobradas
as plantas molhadas
e o aquário limpo.

Agora já não é possível
ver o peixe o lote aquelas fotos
e até a felicidade de Alice e Pedro
sem as cores do seu sorriso.

Adair Carvalhais Júnior, Desencontrados Ventos

Sunday, October 12

O outro lado


Como serão as coisas quando não estamos a olhar para elas? Esta pergunta, que cada dia me vem parecendo menos disparatada, fi-la eu muitas vezes em criança, mas só a fazia a mim próprio, não a pais nem professores porque adivinhava que eles sorririam da minha ingenuidade (ou da minha estupidez, segundo alguma opinião mais radical) e me dariam a única resposta que nunca me poderia convencer: “As coisas, quando não olhamos para elas, são iguais ao que parecem quando não estamos a olhar”. Sempre achei que as coisas, quando estavam sozinhas, eram outras coisas. Mais tarde, quando já havia entrado naquele período da adolescência que se caracteriza pela desdenhosa presunção com que julga a infância donde proveio, acreditei ter a resposta definitiva à inquietação metafísica que atormentara os meus tenros anos: pensei que se regulasse uma máquina fotográfica de modo a que ela disparasse automaticamente numa habitação em que não houvesse quaisquer presenças humanas, conseguiria apanhar as coisas desprevenidas, e desta maneira ficar a conhecer o aspecto real que têm. Esqueci-me de que as coisas são mais espertas do que parecem e não se deixam enganar com essa facilidade: elas sabem muito bem que no interior de cada máquina fotográfica há um olho humano escondido… Além disso, ainda que o aparelho, por astúcia, tivesse podido captar a imagem frontal de uma coisa, sempre o outro lado dela ficaria fora do alcance do sistema óptico, mecânico, químico ou digital do registo fotográfico. Aquele lado oculto para onde, no derradeiro instante, ironicamente, a coisa fotografada teria feito passar a sua face secreta, essa irmã gémea da escuridão. Quando numa habitação imersa em total obscuridade acendemos uma luz, a escuridão desaparece. Então não é raro perguntar-nos: “Para onde foi ela?” E a resposta só pode ser uma: “Não foi para nenhum lugar, a escuridão é simplesmente o outro lado da luz, a sua face secreta”. Foi pena que não mo tivessem dito antes, quando eu era criança. Hoje saberia tudo sobre a escuridão e a luz, sobre a luz e a escuridão.

José Saramago

Légende


Deux amants sont devenus des arbres
pour avoir oublié le temps

Leurs pieds ont poussé dans la terre
Leurs bras sont devenus des branches

Toutes ces graines qui s'envolent
Ce sont leurs pensées emmêlées

La pluie ni le vent ni le gel
Ne pourront pas les séparer

Ils ne forment qu'un seul tronc
Dur et vené comme du marbre

Et sur leurs bouches réunies
le chèvrefeuille à fait son nid.

Marcel Béalu

a arte do bom e do justo

"Ut eleganter Celsus definit. Jus est ars boni et aequi"

aprox. séc.III a.C.
em "O Caleidoscópio do Direito", de António M. Hespanha

Saturday, October 4

Sea of Love - Cat Power

El parque de Sceaux - Nicolas de Stael

"Il le faut bien que je crois à l'accident; je ne peux avancer que d'accident en accident. Dès que je sens une logique trop logique, cela m'énerve et je vais naturellement à l'illogisme... Je crois au hasard exactement comme je vois au hasard, avec une obstination constante."

Thursday, October 2

Eis as horas em que a mim me encontro.
Escuros os prados ondeiam ao vento,
brilha a casca de todas as bétulas,
e a noite vem cobri-las.

E eu cresço neste silêncio,
desejaria florir com muitos ramos
para poder alinhar-me com elas
na harmonia concordante...

Rainer Maria Rilke, tradução de Paulo Quintela

Wednesday, September 24

Monday, September 22

Thursday, September 18

Cristal

Não procura nos meus lábios tua boca,
não diante da porta o forasteiro,
não no olho a lágrima.

Sete noites acima caminha o vermelho ao vermelho,
sete corações abaixo bate a mão à porta,
sete rosas mais tarde rumoreja a fonte.

Paul Celan
(trad. Cláudia Cavalcanti)

Freud e a sua verdadeira natureza: a de artista

"Literato por instinto e médico à força, concebi a ideia de transformar um ramo da Medicina - a Psiquiatria - em literatura. Fui e sou poeta e romancista, sob a máscara de homem de ciência. A Psicánalise outra coisa não é senão a transformação de uma vocação literária em termos de psicologia e patologia."

Gog, de Giovanni Papini

Sunday, September 14

The old always new IIII



The america's most wanted blonde.

Saturday, September 13

"Yo no creo que nada sucede por casualidad, sabes? Que, en el fondo, las cosas tienen su plan secreto, aunque nosotros no lo entendemos. (...) Todo forma parte de algo que no podemos entender, pero que nos posee."

La sombra del viento, Carlos Ruiz Zafón
Gosto do ceu porque não creio que elle seja infinito.
Que pode ter comigo o que não começa nem acaba?
Não creio no infinito, não creio na eternidade.
Creio que o espaço começa numa parte e numa parte acaba
E que agora e antes d'isso ha absolutamente nada.
Creio que o tempo tem um principio e tem um fim,
E que antes e depois d'isso não havia tempo.
Porque ha de ser isto falso? Falso é fallar de infinitos
Como se soubessemos o que são de os podermos entender.
Não: tudo é uma quantidade de cousas.
Tudo é definido, tudo é limitado, tudo é cousas.

Caeiro [Poema inédito, sem data, transcrito por Jerónimo Pizarro]

Thursday, September 11

Tuesday, September 9

love |lʌv|noun(...) (in tennis, squash, and some other sports) a score of zero; nil love fifteen he was down two sets to love. [ORIGIN: apparently from the phrase play for love (i.e., the love of the game, not for money); folk etymology has connected the word with French l'oeuf 'egg,' from the resemblance in shape between an egg and a zero.]

Monday, September 8

És a brisa leve que agita
os cortinados deste quarto.
O quarto voa, para trás
da nossa fotografia;
sinto que as páginas
do livro que leio se arrancam
ao som do teu riso,
e o meu peito se preenche
de dias e de verde.
Além de ti, não há
quase nada.

6 setembro 2008

Wednesday, September 3

ダンス・ダンス・ダンス



"Acordo. Onde estou? (...) Estou aqui, na minha vida de todos os dias."

In Haruki Murakami's Dance dance dance

Sunday, August 31

A fermosura desta fresca serra
E a sombra dos verdes castanheiros,
O manso caminhar destes ribeiros,
Donde toda a tristeza se desterra;

O rouco som do mar, a estranha terra,
O esconder do Sol pelos outeiros,
O recolher dos gados derradeiros,
Das nuvens pelo ar a branda guerra

Enfim, tudo o que a rara natureza
Com tanta variedade nos of'rece,
Me está, se não te vejo, magoando

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
Sem ti, perpetuamente estou passando,
Nas mores alegrias, mor tristeza.

Luís de Camões

Saturday, August 23

Cupido e Psique, de François Gérard

Friday, August 22

Curvas Finais

A ti de cabelos brancos e fundas rugas
afago e sereno abraço com a mente.
Ao coração indago quantas histórias
de gestos partilhados
na extensão do tempo tens esculpidas
no olhar quantos desentendimentos

a caminho da compreensão incógnita
tiveste de submeter ao instinto do bem
para aceitar que os outros viajem ao teu lado
por diferentes caminhos.

A ti que és olhado por vezes
visto e foste deixando de querer 
seguir com os olhos os olhos de quem segue
com as pernas caminhos diferentes:
não descobres os olhos que te cruzam
onde direcções veladas divergem -
talvez tenhas quem te lavasse os pés
no caso de teres as mãos ocupadas 
a  segurar alguém.

Leio nas tuas rugas
que não há uma recta final.

A minha confessa iliteracia
no campo do sentimento humano
vê apenas que se sobrepõem
crenças curvadas e em diversos sentidos
incertezas variadas:

corpo de presentes passados
templos erguidos
a um deus desconhecido, amor
que se nos vai depositando
gerando uma acção.

De l'autre côté (Publicado em http://ossaetcinera.blogdrive.com/)

Wednesday, August 13

All I Want Is You - Barry Louis Polisar


O acrobata das formas


Pavilhão Philips, Charles-Edouard Jeanneret-Gris

Monday, August 11

"It was the summer when a president's penis was on everyone's mind, and life, in all its shameless impurity, once again confounded America."

The Human Stain, by Philip Roth

Marv: This is blood for blood and by the gallon. These are the old days, the bad days, the all-or-nothing days.

Saturday, August 2

The old always new III



They say we're young and we don't know
We won't find out until we grow
Well I don't know if all that's true
'Cause you got me, and baby I got you

Wednesday, July 30

Dar e receber

Quando nos habituamos demasiado à beleza das pequenas coisas estas começam a perseguir-nos, até nos vermos envolvidos numa espiral interminável de insignificâncias significantes - Como o teu cheiro a sono de manhã, ou a tua maneira de sorrir quando estás ausente em parte incerta. - Acabamos inevitavelmente por nos sentirmos sozinhos, uma espécie de solidão de romance ou de cinema (mas menos kitch e com uma banda sonora rasca).

Volta, fica por aqui. Não precisas de sair, temos tudo o que precisamos dans cette chambre. O que não temos podemos inventar, a pluralidade do universo na miríade dos nossos interesses - temos a originalidade do primeiro amante para isso. 
Podemos partilhar o nascer do sol todos os dias, até a tua doçura e a minha rudeza já serem uma canção antiga.

Tuesday, July 22

"Uma questão de hábito, portanto, a felicidade."

Sunday, July 20

O gato e a gata


O gato e a gata na cadeira brincam,
abraçam-se mordendo-se nas orelhas,
rebolam-se revoltos - já de amor em cio,
mas são jovens ainda e não chegou [Janeiro.
Deles pode dizer-se o que Jesus pediu
pondo os olhos em alvo: devem ser [perdoados,
pois não sabem, coitados, o que fazem.

Jorge de Sena

Friday, July 18

Canto Nono - Cantèda Nóv

Terá chovido durante cem dias e a água infiltrada 
pelas raízes das ervas 
chegou à biblioteca banhando as palavras santas 
guardadas no convento. 

Quando tornou o bom tempo, 
Sajat-Novà o frade mais jovem 
levou os livros todos por uma escada até ao telhado 
e abriu-os ao sol para que o ar quente 
enxugasse o papel molhado. 

Um mês de boa estação passou 
e o frade de joelhos no claustro 
esperava dos livros um sinal de vida. 
Uma manhã finalmente as páginas começaram 
a ondular ligeiras no sopro do vento 
parecia que tinha chegado um enxame aos telhados 
e ele chorava porque os livros falavam.

O Mel ( no original - E' Mel ), Tonino Guerra

Tuesday, July 15

Hello, stranger

Dan: Didn't fancy my sandwiches? 
Alice: Don't eat fish. 
Dan: Why not? 
Alice: Fish piss in the sea. 
Dan: So do children. 
Alice: Don't eat children either. 

Wednesday, July 9

Exercício de estilo em negativo

Estou cansada.
Não como o Álvaro, cansada 
porque sim.
Estou cansada 
porque não,
porque não, porque não.

8-07-2008

Tuesday, July 8

«La nuit n'est jamais complète.
Il y a toujours
puisque je le dis,
Puisque je l'affirme,
Au bout du chagrin, une fenêtre ouverte,
une fenêtre éclairée.»

Paul Éluard

Friday, July 4

"Que eu, por mim, hei-de contar horas, dias e meses, como faço sempre que estais ausente."

A Obra ao Negro, Marguerite Yourcenar

Aquele que amo
Disse-me
Que precisa de mim.

Por isso
Cuido de mim
Olho meu caminho
E receio ser morta
Por uma só gota de chuva.

Bertold Brecht

Tuesday, July 1

Foge Comigo Maria - UHF

They shut me up in Prose -
As when a little Girl
They put me in the Closet-
Because they like me "still" -

Still! Could themself have peeped -
And seen my Brain - go round -
They might as wise have lodged a Bird
For Treason - in the Pound -

Himself has but to will
And easy as a Star
Abolish his - Captivity -
And laugh - No more have I -

Emily Dickinson


Sunday, June 29

Friday, June 27

"A manhã nunca pede
mais que um par de sandálias;
mas a noite da véspera
conserva os seus collants.
Não me espanta o mau gosto
com que a Vida se veste,
se as manhãs e as noites
morrem longe de ti."

David Mourão-Ferreira, Um Amor feliz

Friday, June 20

Pénombre

J'étais dans une de ces forêts où le soleil n'a pas accès mais où, la nuit, les étoiles pénètrent. Ce lieu n'avait le permis d'exister, que parce que l'inquisition des États l'avait négligé. (...)

Dans Furor e Mistério, de René Char

Monday, June 16

Até onde vai o patriotismo

Até ao cimo da montanha de Montserrat, a aproximadamente uma hora de comboio de Barcelona.

Thursday, June 12

Mulheres - Martinho da Vila ao vivo

Tudo foi dito cem vezes

Tudo foi dito cem vezes
E muito melhor que por mim
Portanto quando escrevo versos
É porque isso me diverte
É porque isso me diverte
É porque isso me diverte e cago-vos na tromba

Boris Vian
Poemas e Canções

Tuesday, June 10

The Legends of the Fall


Susannah: "Forever turned out to be too long."
"Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma."


Do poema Liberdade, do nosso grande ortónimo

Sunday, June 8

Roland Garros 2008 II - A Carnificina


"Nadal, âgé de 22 ans, a rejoint dans l'histoire du tennis Bjorn Borg, le seul jusqu'à présent à avoir réussi les quatre à la suite (1978-1981)." Dans Le Monde

Saturday, June 7

Wednesday, June 4

Litania - Eugénio de Andrade

O teu rosto inclinado pelo vento;
a feroz brancura dos teus dentes;
as mãos, de certo modo, irresponsáveis,
e contudo sombrias, e contudo transparentes;

o triunfo cruel das tuas pernas,
colunas em repouso se anoitece;
o peito raso, claro, feito de água;
a boca sossegada onde apetece

navegar ou cantar, ou simplesmente ser
a cor de um fruto, o peso de uma flor;
as palavras mordendo a solidão,
atravessadas de alegria e de terror;

são a grande razão, a única razão.

"Please would you tell me", said Alice, a little timidly, for she was not quite sure whether it was good manners for her to speak first, "why your cat grins like that?"
"It's a Cheshire-Cat," said the Duchess, "and that's why. Pig!"
She said the last word with such sudden violence that Alice quite jumped;
but she saw in another moment that it was addressed to the baby, and not to her, so she took courage, and went on again: -
"I didn't know that Cheshire-Cats always grinned; in fact, I didn't know that cats could grin."
"They all can," said the Duchess, "and most of'em do."

Alice's Adventures in Wonderland, Lewis Carroll

Wednesday, May 28

Path

Tuesday, May 27

De mar e fogo

Procuras-me quando te procuro e
na madrugada crepúscular dos nossos
sentidos somos astro breve que
flameja, depois explode em rouco
grito. Sol que arde mas não se extingue.

Das ondas de amor que na nossa cama
sulcamos restam traços líquidos de
antecipação, vestígios de maré crescente
que te sobe no meu corpo e te mergulha
em meu ventre de profundas e densas águas.

Foste talhado por Pigmalião em
âmbar puro, amor.
Agarro-me a ti quando
no naufrágio do nosso corpo me
afundo e em voz baixa te peço
para desaguares em mim.

Joana Garcia

Saturday, May 24


"Mutt Williams: You're a *teacher*?
Indiana: Part time."

http://www.indianajones.com/site/index.html

Wednesday, May 21

This be the verse - Philip Larkin

They fuck you up, your mum and dad.
They may not mean to, but they do.
They fill you with the faults they had
And add some extra, just for you.

But they were fucked up in their turn
By fools in old-style hats and coats,
Who half the time were soppy-stern
And half at one another's throats.

Man hands on misery to man.
It deepens like a coastal shelf.
Get out as early as you can,
And don't have any kids yourself.

Tuesday, May 20

Full Moon Mood

Sou feita de ar e de sol. Nuvens que encham o meu céu são apenas chuva, poeira de sonhos e desenganos. Em alturas de tempestade também chovo, arrombo diques e inundo povoações. Só páro quando chego ao mar, onde me encontro - tecida de brumas, num nevoeiro de dúvidas que se dissipam até ao arco-íris.

(Quero-te mais a cada nuvem
que assombra o meu teu olhar
e o nosso céu.
Nada mudou. Sei a eternidade
desde que a disseste
e não temo.)

Monday, May 19

Nada - Vitorino Nemésio

Eu no meu corpo como o tigre no seu bafo.
O mundo leva iguais a jaula e a casa.
Somos a vida que não é,
Fora não ser a morte.
Nem mesmo nada somos:
Estamos no que fomos
À espera do que importe.

Não se pode sair, e entrar já não:
Nada já deu entrada ao só nascido
Que é esse mesmo Nada:
Pelo que Nada não é nada,
Mas é nada
Em que Deus tudo gera.
Eu na minha alma como o bafo no seu tigre.

Sunday, May 18

As facas (nossos nomes)

Quatro letras nos matam quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome.
Quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome.

Este amor é de guerra. (De arma branca).
Amando ataco amando contra atacas
este amor é de sangue que não estanca.
Quatro letras nos matam quatro facas.

Armado estou de amor. E desarmado.
Morro assaltando morro se me assaltas
E em cada assalto sou assassinado.

Quatro letras amor com que me matas.
E as facas ferem mais quando me faltas.
Quatro letras nos matam quatro facas."

Manuel Alegre

Wednesday, May 14

Ensino Peripatético

"Dentre as várias escolas da Antiguidade, porém, existe uma que se destaca não só pela estranheza do nome como pelo tipo de ensino incomum: o método peripatético, utilizado por Aristóteles no Liceu. Isso mesmo: o autor da Metafísica não passava de um peripatético. O exótico adjectivo deve-se ao facto de ele dar as suas aulas caminhando pelo peripatoi, uma alameda situada nos jardins do Liceu. As andanças eram feitas pelas manhãs, e nelas mestre e discípulos discutiam as questões filosóficas mais profundas ligadas à metafísica, à física e à lógica.

Alguns séculos depois, o termo desprendeu-se dos jardins do Liceu e passou a servir de designação a todo aquele que tem o hábito de ensinar andando. Surge assim o mais famoso peripatético de todos os tempos: Jesus Cristo."

in http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/filosofia/filo23.htm (adaptado)

Thursday, May 8

"Não te fies, amigos, nas mulheres, ri-te de tudo quanto elas prometam! O seu bom humor, como o seu mau humor, depende do capricho de sua vulva"
p.11, As Mil e Uma Noites

Wednesday, May 7

"MATILDE: Despertamos a meio da noite, damos com o nosso homem, acordado, com os olhos postos sabe-se lá em quê, queremos dar-lhe a mão, ver o que ele vê, e não sabemos por onde começar..."

Felizmente há luar!, Luís de Sttau Monteiro

Tuesday, May 6

Os croissants do Porto

Os últimos raios de dia iluminavam o passeio e nela surgia já o urgente desejo de atravessar a noite presa em amarras de pele. De manhã sentia o torpor de felicidade antes mesmo de acordar, e abria os olhos para a luz especial da cidade por quem se apaixonara. Paixão que se acendeu com rapidez de rastilho e fragor de fogo de artifício; como todas as paixões, eternamente efémera. Paixão pelos sons e pelos cheiros, pela calma do bulício citadino e pela penumbra na madrugada e nas esquinas das ruas. Parecia que conhecia a cidade como quem revê um amigo antigo, e que voltaria uma e outra vez como a maré. Mas à paixão seguiu-se o desencanto da despedida, e a amargura da vida, longe que seria dos gritos das gaivotas. Foi nessa altura que surgiu, mesmo a tempo, uma esplanada no fim de tarde, e a cidade se desprendeu.
(Os lábios que ela beijou tinham um leve sabor a cerveja, e aí teve a certeza de que nunca mais sentiria vazio o peito, porque traz alguém dentro de si que como ela já não sabe andar só pelos caminhos.)

Tuesday, April 29

Obsidiana

tudo o que peço é que te acerques
de uma janela, e te vires para o exterior,
como se só visses, e não olhasses.

E que, como de surpresa,
me deixes também acercar por detrás;
não para olhar o mesmo que tu não olhas,
ou para ver através de ti; mas para, tão só,
para a frente projectado, te tocar.

Como se o teu corpo, de costas,
fosse o espelho onde se mostra
o lado invísivel.

Vítor Oliveira Jorge in Pedras Preciosas

Friday, April 25

Efeméride (das que mais importante é recordar)

Trova do vento que passa
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
(...)

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

Monday, April 14

Olhos Abertos - Um ano depois

Um mover de olhos, brando e piadoso,
Sem ver de quê; um riso brando e honesto,
Quase forçado; um doce e humilde gesto,
De qualquer alegria duvidoso;

Um despejo quieto e vergonhoso;
Um repouso gravíssimo e modesto;
Üa pura bondade, manifesto
Indício da alma, limpo e gracioso;

Um escolhido ousar; úa brandura;
Um medo sem ter culpa; um ar sereno;
Um longo e obediente sofrimento

Esta foi a celeste fermosura
Da minha Circe, e o mágico veneno
Que pôde transformar meu pensamento.

Luís V. Camões

Sunday, April 13

Le coquelicot


Parmi
Le blé promis
À la faux
À la farine, au pain,
Le coquelicot
Nous dit: souviens -
Toi, la sève
Est un sang comme le tien,
D'amour, de cri, de rêve.

Frédéric Kiesel

Monday, April 7

Thursday, April 3

Amorosa Anticipación

Ni la intimidad de tu frente clara como una fiesta
ni la costumbre de tu cuerpo, aun misterioso y tacito y de niña,
ni la sucesion de tu vida asumiendo palabras o silencios
seran favor tan misterioso como mirar tu sueño implicado
en la vigilia de mis brazos.
Virgen milagrosamente otra vez por la virtud absolutoria del sueño,
quieta y resplandeciente como una dicha que la memoria elige,
me daras esa orilla de tu vida que tu misma no tienes.
Arrojado a quietud, divisare esa playa ultima de tu ser
y te vere por vez primera, quiza,
como Dios a de verte, desbaratada la ficcion del Tiempo,
sin el amor, sin mi.

Jorge Luís Borges

Thursday, March 27

Descobertas na frutaria



"(...) Ou quem sabe a vontade se nutre de impossíveis?"

Cada Homem é Uma Raça Mia Couto, p.13

Wednesday, March 26

Monday, March 24

"Beijo-o, engano-o, faço-o zangar... Ele compreende que lhe quero, e não me guarda rancor. É tão igual a mim, que cheguei a crer que sonha os meus próprios sonhos.
Platero rendeu-se-me como uma adolescente apaixonada. Não protesta por nada. Sei que sou a sua felicidade. Até foge dos burros e dos homens..."

Platero e Eu, Juan Ramón Jiménez

Friday, March 21

Se se criassem janelas em mim
todas elas dariam sobre uma praia
e a cor do mar dessa praia
(Parece que nos conhecemos há um milhão de anos
e vamos conhecer-nos um milhão mais)
seria cor do meu sangue
e de teu olhar...
E se se criassem portas em mim
todas elas abririam para um vasto jardim,
em que a cor das rosas desse jardim
seria a cor da minha vontade
e do teu ser.

Anónimo

Wednesday, March 19

"Ama os teus pais, se são justos e honestos: caso contrário, suporta-os."

Públio Siro

"Please would you tell me", said Alice, a little timidly, for she was not quite sure whether it was good manners for her to speak first, "why your cat grins like that?"
"It's a Cheshire-Cat," said the Duchess, "and that's why. Pig!"
She said the last word with such sudden violence that Alice quite jumped;
but she saw in another moment that it was addressed to the baby, and not to her, so she took courage, and went on again: -
"I didn't know that Cheshire-Cats always grinned; in fact, I didn't know that cats could grin."
"They all can," said the Duchess, "and most of'em do."

Alice's Adventures in Wonderland, Lewis Carroll

Tuesday, March 18

Sunday, March 16

The old always new II

Quando ainda era a música que importava, e não o clip.



How deep is your love
I really mean to learn
'cause we're living in a world of fools
Breaking us down
When they all should let us be
We belong to you and me
I believe in you
You know the door to my very soul

Thursday, March 13

Gato

Chama-se Luís o gato do terceiro
e é companheiro de um mestre filósofo.
Em madrugadas altas há por vezes sobressalto,
quando o bichano acorda mal disposto.
O professor, sábio também
em jogos de paciência, acalma
o animal e já o mima. Trata-se,
vendo bem, de outra ciência,
tão difícil de conseguir como
um estudo de Pessoa. Chama-se Agostinho
da Silva, o do terceiro, e tem um gato
com quem, à vontade, discreteia.
Luís, discípulo, ronrona baixinho.
Tudo vai bem, assim, no sete desta rua.

Eduardo Guerra Carneiro, Contra a Corrente, 1988

Saturday, March 8

100 mil pessoas é muita gente.

Ignorance

Strange to know nothing, never to be sure
Of what is true or right or real,
But forced to qualify or so I feel,
Or Well, it does seem so:
Someone must know.

Strange to be ignorant of the way things work:
Their skill at finding what they need,
Their sense of shape, and punctual spread of seed,
And willingness to change;
Yes, it is strange,

Even to wear such knowledge - for our flesh
Surrounds us with its own decisions -
And yet spend all our life on imprecisions,
That when we start to die
Have no idea why.

Philip Larkin

Friday, March 7

Da desculpabilização

Descobri que sou egoísta. Às vezes não me apetece olhar para mais longe do que alcança o meu humilíssimo umbigo, e tenho problemas de expressão com o meu exemplar autismo consciente e voluntário. Sou injusta quando quero ser ouvida e estou habituada a ser mimada. Sou contra os deveres cívicos de boa disposição permanente e afluência às urnas da tolerância e solidariedade. Enfim, não sinto qualquer espécie de remorsos por levar o coração no bolso, agitá-lo diante dos olhos dos trausentes incomodados e maltratá-lo sempre que me faça doer; sou uma espécie de vendedora ruídosa da roupa da alma na feira do espírito.

Há momentos que quero só para mim, palavras que quero só para mim, e gestos.
"Amor, eu sei, sabemos que do nada
é feita a ferida
e mesmo a espada."

Pedro Tamén, in Tábua das Matérias Poesia-1956/1991

Tuesday, March 4

Questiono luz por entre
os escombros encontro
verdades que não procurei.

Por entre os bosques cerrados
das vontades que já não
são minhas acoita-se a noite.

Sou poeira de estrelas ácidas
de afecto e justificação,
campos minados de insinuações.

Corro a procurar-me,
não me avisto - quem quererá
perder-se comigo?

1 Março 08

Saturday, March 1

Thursday, February 28

À lareira

A casa dos teus braços é
uma casa grande, com um longo
corredor onde dá vontade de correr.

Pelas janelas abertas entra
o luar arrepiado de gatos, e
do tecto vem o som de asas
que colidem. Há leitos pelo chão,
formando pequenos ninhos de ternura,
e corre uma melodia silenciosa
como água pelas paredes
- mas tu estás sempre presente.

Estás presente nos laranjas do fogo que
crepita, numa espécie de
murmúrio surdo e contínuo de beijos.

Amo-te; e o teu sorriso
é minha casa.

24-02-2008 Benedita

Monday, February 25

Oscarizado

XXV

Wild nights! Wild nights!
Were I with thee,
Wild nights should be
Our luxury!

Futile the winds
To a heart in port,—
Done with the compass,
Done with the chart.

Rowing in Eden!
Ah! the sea!
Might I but moor
To-night in thee!

Emily Dickinson

Billy Jean (the old always new)

Tuesday, February 19

Falta de hábito

Guardo com doçura a sombra dos teus passos na calçada. Gosto de pensar na chuva como a passagem entre nós, as palavras que não dizemos porque queremos compreensão sem palavras. É mais fácil perguntar aos olhos do que aos pés que se afastam, porque receio que não percebas a minha falta de hábito em querer irremediavelmente, antes e depois de um aceno.

Contratempo


Hoje, há oceanos em turbilhão
Nas mentes do luchan do meu africano país.

Hoje, as incertezas disparam
O marulhar de séculos conturbados
De utopias em permanente desilusão.

Hoje, não vou afogar na baía
Os percalços de vulcões em ebulição.

Hoje, a tormenta não vai romper meus sonhos
Porque creio ainda na força da esperança
em desesperança.

Alda Espírito Santo

in Façam o favor de ser felizes, João Carlos Silva

Saturday, February 16

"Recolho o mel, guardo a alegria, e digo-te baixinho: Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge."

Al Berto, Lunário pag.135

Thursday, February 14

Camões e a Tença

Irás ao Paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou seu ser inteiramente

E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto

Irás ao Paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência

Este país te mata lentamente

Sophia de Mello Breyner Andresen

Sunday, February 10


Segundo a filosofia ioga, dentro do corpo humano existem canais (nadis) por onde circula a energia vital (prana) que nutre órgãos e sistemas. Existem várias rotas diferentes e independentes por onde circula esta energia. Os chakras são os pontos onde essas rotas energéticas estão mais próximas da superfície do corpo.

A palavra chakra vem do sânscrito e significa roda, disco, centro, plexo. Os chakras são como vórtices (redemoinhos) de energia vital, pontos de interseção entre vários planos, e através deles o nosso corpo "etérico" manifesta-se mais intensamente no corpo físico.

São sete os principais chakras, dispostos desde a base da coluna vertebral até o alto da cabeça e cada um corresponde à uma das sete principais glândulas do corpo humano.

Tuesday, February 5

The Demon Barber of Fleet Street


Perdidamente

Desenhada na curva de vírgulas e aspas
do teu amor, renuncio a qualquer
forma de expressão liricamente forçada
pelo imperativo de te dizer
que me encontro em ti
(mesmo quando me perco
nas curvas de vírgulas e aspas
do teu corpo)

10-01-2008