Tuesday, May 6

Os croissants do Porto

Os últimos raios de dia iluminavam o passeio e nela surgia já o urgente desejo de atravessar a noite presa em amarras de pele. De manhã sentia o torpor de felicidade antes mesmo de acordar, e abria os olhos para a luz especial da cidade por quem se apaixonara. Paixão que se acendeu com rapidez de rastilho e fragor de fogo de artifício; como todas as paixões, eternamente efémera. Paixão pelos sons e pelos cheiros, pela calma do bulício citadino e pela penumbra na madrugada e nas esquinas das ruas. Parecia que conhecia a cidade como quem revê um amigo antigo, e que voltaria uma e outra vez como a maré. Mas à paixão seguiu-se o desencanto da despedida, e a amargura da vida, longe que seria dos gritos das gaivotas. Foi nessa altura que surgiu, mesmo a tempo, uma esplanada no fim de tarde, e a cidade se desprendeu.
(Os lábios que ela beijou tinham um leve sabor a cerveja, e aí teve a certeza de que nunca mais sentiria vazio o peito, porque traz alguém dentro de si que como ela já não sabe andar só pelos caminhos.)

2 comments:

R.Joanna said...

Foto por Sete-Sóis.

Anonymous said...

Nem todas somos Blimunda :-)
Saudades vossas.
Bj