Wednesday, May 6

Pertencer

Ganhei tempo para fazer a tese. Ou seja, o rush da escrita e de tudo, em 14 dias. A I., que é muito perfeccionista, diz que fez a dela em 10 dias, por isso há esperança (mas ela pode ter dado um colorido de exagero às coisas, por isso não há certezas). Estou a tentar, por isso, escrever sobre nada, para ver se pego o jeito de escrever outra vez. Porque tenho de ultrapassar este bloqueio "criativo", ou lá o que este medo absurdo e paralisante é. Sinto que já estou a sair dele, desde que levei o livro da S. no metro e voltei a ler e escrever poesia. O medo do falhanço continua a pairar, agoirento, mas cada vez menos importante, porque e daí que faça uma merda? E daí se a professora não gostar, tenho alguma obrigação  natural de lhe agradar? Quem sobra então? O P. não é de certeza, que já há algum tempo que ultrapassei o complexo de Electra. A minha família é mais pequena, mais estranha, e com certeza preocupa-se mais com carinho e croquetes do que com o meu sucesso (Quin, penso sempre em ti). Aquela história de que nos vamos parecendo cada vez mais com quem partilhamos a vida é tão verdadeira, que para lá da linguagem informal que me vai escapando (demasiadas vezes demasiado forte) sinto que, mesmo que leve levemente, me vou desprendendo da ideia de que tenho de agradar a todos, às minhas custas. Vou-me desprendendo dos sentimentos de culpa, dos pesadelos simbólicos, dos pensamentos obsessivos. Mesmo se isso não é evidente no dia-a-dia, mesmo se continuo a ser eu - a sensível, a lotus orb de todos os efeitos. A supersticiosa, a que prefere a indirecta não por cobardia mas para não ferir, não estragar. A que teima com o valor dos sentimentos antigos, mesmo quando deles só sobra uma sombra com manchas escuras do tempo passado. Acho que não tem problema mantê-lo, querendo ou não, porque é tudo o que trago e a mudança pode não ser possível ou melhor.

Viva, outro texto sobre nada, para o nada, para as vozes que me habitam. Para treinar (mas o meu problema sempre foi o escrever jurídico, não o escrever...) Enfim.  

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