Friday, May 15

Damaged

Durante muito tempo pensei que não tinha sido afectada por acontecimentos na minha infância, pelo menos não traumatizada de nenhum modo, como as pessoas que tiveram problemas a sério são. Eu não tinha tido problemas a sério, só coisinhas familiares quando comparadas com os outros, ainda por cima eu sou forte e instruída, pensava, nem penso nisso à noite, é como se nada se tivesse passado. Mas passou. Só porque não foi uma história trágica, ou típica dos manuais de psicologia, não quer dizer que tenha sido saudável. E só me apercebi disso há dias, clarividência súbita como um relâmpago, no momento em que mencionar o passado não é possível sem um choro que eu tentei conter. Estou damaged for life, afinal. À minha maneira, que é a maneira das minhas circunstâncias, mas sim, o R. tinha razão, as nossas experiências subjectivas é que ditam a importância que as coisas têm para nós, e nenhuma amargura é menor do que a do outro só porque é diferente. Perceber isto foi bom, porque me isenta de alguma vez vir a cometer o mesmo erro na vida amorosa, embora nesse departamento eu sempre tenha tido uma melhor noção de até que ponto coração partido é coração remendado, para sempre. 

Mas sou uma pessoa alegre, on top of everything else. E apesar de tudo acho que não fiquei demasiado traumatizada (dá para constituir a minha própria família, um dia, espero que com os meus próprios erros e não reflexos dos erros do passado). Por escrever reflexões sobre o que é ser uma mulher divorciada aos 25 anos. Fica para outra vez. 

PS: Que se fodam os prescritores da língua e dos bons costumes que acham que podem vir impingir-me um acordo sem qualquer base justificativa que não seja a estupidez imoral das politics. Que se fodam porque eu, se quiser, escrevo até com ph, ou meto mil anglicismos por traduzir pelo meio, como o T. da M. 

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