Wednesday, October 15

Vícios

São difíceis de admitir. Porque dizer "sou viciado em" significa que admitimos existir qualquer coisa que é superior à nossa vontade. E porém isso não existe, a nossa vontade é o mais forte que há, comprovadamente, por isso se não paramos o vício é porque uma parte de nós não quer, na verdade, ter vontade de parar. Deve ser esse o maior desafio: confessarmos que não temos vontade de que a nossa vontade seja maior do que aquele elemento exterior, porque preferimos o conforto de vivermos nele, mesmo com as suas desvantagens. Sendo a maior parte dos vícios mais subtil do que o evidente café e cigarro, habituamo-nos a considerar que só os outros têm vícios, porque nós não nos drogamos nem coleccionamos obcessivamente restos de unhas. Mas e a sede de poder, o desleixo com a arrumação, o jogo informático que "só jogamos um bocadinho todos os dias porque queremos" e nos faz escorrer o dia entre os dedos? O vício de dormir sempre mais dez minutos, ou de comer aquele chocolate à noite para tirar o sabor do jantar.

É duro ser viciado, até em amor.

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