Monday, February 3

C'est un non, mais c'est un non d'amour

Dizer que as coisas estão mal é fácil, mesmo que nos traga dissabores pessoais e profissionais, quando ferimos o status quo e o  pensamento acrítico e acostumado com palavras de ave agoirenta. Mas viver de acordo com os princípios que defendemos não é nada fácil. Porque não há tempo para voluntariado, não há dinheiro sequer para uma ajuda nominal e menos cansativa, já não há força. O que resta? Os pequenos gestos, creio. Et pourtant nem estes vivemos, convencemo-nos de que não fazem diferença, certeza tão conveniente para termos menos trabalho. Porque não é fácil prescindir do carro, do supermercado, da televisão. Nem da livraria gigante com descontos atractivos. Mas sem este reduto de revolta não somos nada, somos mais um, caminhando para o mesmo destino oblivious e instalado. Não é exigível que sejamos todos tão empenhados como o S., vivendo só para o que queremos, consumindo-nos no processo, de uma forma absoluta e quase impossível de nos manter à tona. Não é exigível, é compreensível, tudo isso: mas e agora? Ficamos então por aqui, confortáveis, porque não nos é exigido mais? Os pequenos gestos também cansam. Também é complicado fazer escolhas pouco consensuais nos dias de hoje, que tanto privilegiam a homogeneidade. Sem isso, porém, nada somos. Ser o homem revoltado, de que falava o Camus da J., é querer ser equilíbrio entre o que somos e o que queremos ser, esse balançar constante que nos define.

Já devo ter escrito estas palavras mil vezes, e continuo a não achar demais: viva a revolta, a diferença. Por uma ida ao cinema com quem queremos mesmo, ainda que isso seja motivo de troça, e por todas aquelas vezes que me apetece fazer o inesperado, convidar quem não devia para café, andar na corda bamba dos afectos. Por todos os referendos estúpidos do mundo onde, se forem aprovados, vou estar para votar, uma vez e outra mais, sempre aquela palavra tão discriminada nos nossos dias: não à proibição do outro e do estranho, não, não, não.

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