Monday, December 20

XXVIII

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão.
O seu corpo perfeito, linha a linha,
derramava-se no meu, e eu sentia
nele o pulsar do próprio coração.

Moreno, era a forma das pedras e das luas.
Dentro de mim alguma coisa ardia:
a brancura das palavras maduras
ou o medo de perder quem me perdia.

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão
e longamente bebi os horizontes
E longamente fiquei até sentir
O meu sangue jorrar nas próprias fontes

as mãos e os frutos, Eugénio de Andrade

2 comments:

Mimi said...

magnífico poema *.*

é assim que hoje me sinto

neverland said...

Sinto que esta poesia é ao mesmo tempo fresca e antiga, trazendo em si tão bem as primeiras coisas de há tanto tempo, novas mas conhecidas, e pululantes ainda. As mãos e os frutos. Volta-se a eles e têm sempre algo para dar...