Monday, February 15

O Crepúsculo passou na tv...

E eu vi.
Queria perceber o fenómeno que arrastou adolescentes histéricas por todo o lado, e que aparentemente era melhor do que o livro — porque não foi este mas a passagem cinematográfica que despoletou as assinaturas "Bella" por todo o lado e os suspiros por uma mordidela no pescoço. Percebi que esta preferência pelo filme só se explica pelo fraco gosto pela leitura (afinal, é tão mais fácil sentarmo-nos e esperar que a imagem nos entre para dentro dos olhos, como dizia um amigo meu). Vi quinze minutos de filme — mais ou menos o equivalente às páginas que li do livro (do primeiro tomo, atenção! Porque se a Myers não parar em breve publicará mais do que qualquer Jorge Miranda ou Marcel Proust!) — e bastou para uma vida inteira.

Momento de sinceridade absoluta: não pensei que fosse tão mau. Quer dizer, não é assim tão difícil fazer um filme de amor minimamente razoável, ainda mais sendo uma das personagens um vampiro, que sempre foi a imagem de um mundo oculto que mais me atraiu (o Drácula deve estar a dar voltas na tumba, até o Lestat deve estar furioso). Além das duas personagens serem obscenamente encarnadas por actores desinteressantes e pouco atraentes esteticamente falando, a pobre rapariguinha parecia constantemente à beira de um ataque epiléptico, tantas eram as tremuras e as hesitações. Será que não conseguiu decorar as falas? É que por acaso até se pode dizer que os diálogos se ausentaram deste filme... Foram substituídos pelas olhadelas fulminantes que eles os dois passam o tempo a trocar, estilo "estou danada para te saltar em cima, ou então tenho uma coisa no olho", "vem para eu te comer toda, ups, não me queria desmascarar, oh não, descobriste-me". O pobre rapaz lá vai tentando não parecer não mal debaixo daquele pó de arroz todo que o torna mais esquálido do que um fantasma - a maquilhagem deve ter-se entusiasmado e esquecido que estava perante um vampiro - mas sem sucesso; começa a espalhar-se à grande e ao comprido, com bocas trágicas do género "Tu não percebes nada" (onde está a Maria e os espectros fatais que os querem tirar dos seus braços, ela tem de ouvir isto!), e uma perseguição constante à moça, que até chateia, onde está ela ele está, sempre com um ar esfomeado até mais não.

No final (para mim, que o filme deve ter-se alongado a restante hora e meia de suplício que lhe competia) não consegui perceber se estava perante um amor à primeira vista muito retorcido e cheio de retoques masoquistas de amor-já-sabido-proibido-sem-que-se-tenha-trocado-uma-palavra, ou pura curiosidade mórbida e anormal pelo próximo. Pena que os óscares não tenham sabido premiar esta riqueza cinematográfica. Talvez o nobel seja mais esperto e ainda vá a tempo.

2 comments:

A. said...

Adorei o post! Adoro a forma como escreves. O teu sarcasmo e ironia fizeram-me sorrir de compreensão, uma vez que, do pouco que li e vi do filme, também me pareceu completamente descabida toda esta vampiro-mania. Mas sabes, acho que muito do sucesso também deve vir do aspecto físico do actor que, como tu bem disseste, é desinteressante e pouco atraente. As adolescentes histéricas acharam realmente muita piada ao rapaz, vá-se lá a saber porquê. :)
Temos de nos ver um dia, já estou com saudades de conversar contigo! Estive com a Marta no outro dia, e até pensámos ir ter contigo à tua faculdade, mas acabou por não haver tempo... Beijinho *
Beatriz

R.Joanna said...

Fico contente por apesar de tudo teres gostado deste extenso exercício de maledicência :) só para que não fiques a pensar que me especializei nesse campo, confesso-te que nunca tinha experimentado escrever um texto do género, mas o filme fez-me tal impressão que tinha mesmo de ser. Não arranjei foi nenhuma foto que ficasse à altura, como podes imaginar :)