Friday, August 14

Adeus

"Agora a pergunta era tão clara, que eu não achei uma sombra de verdade para me esconder. De outras vezes, outra gente me perguntara o mesmo. E nunca soube responder. Falavam-me de fora, de outro mundo, com uma linguagem diferente. E assim, as nossas ideias jogavam à cabra-cega. Eu próprio, quando queria entender-me, espreitando-me donde me não suspeitasse, não tinha razões talhadas à medida do meu sonho. Os princípios do sendo, da justiça, talvez tivessem envelhecido e não pudessem acompanhar o meu anseio. Só metido dentro de mim eu me compreendo todo e sem razões. Hei-de um dia tombar e arrefecer. Talvez então seja possível a outros meter em leis o que gelou do meu esforço. Até lá, é difícil. Qualquer coisa me está sempre forçando os limites, mesmo da regra que julgo dar-me. Um vento largo ergueu-se não sei donde e arrebatou-me."

P.11 de Contos, de Vergílio Ferreira

3 comments:

whyme said...

Também ando a ler esse Sr., mas o Até ao Fim ;-)

R.Joanna said...

Curioso. Mais ainda porque este exemplar veio da biblioteca do ECB :) Descoberta estas férias, tem um ambiente muito bom.

whyme said...

É óptima, e os contos também eheh