Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que tua pele ser a pele da minha pele?
Cintilação de luas
assim que te desnudas
às escuras
Diante do teu ventre
como não dizer “sempre”
novamente.
Ó lâmina e bainha
de outra espada ainda
Tua língua
Ruge. Reprende. Arrasa
Desde que sempre o faças
com as asas
Vem dos arcanos de outro tempo
ou dos anéis de outra galáxia
esta espessura transparente
que só na cama as almas ganham
David Mourão-Ferreira
Lido: http://www.estudioraposa.com/index.php/14/02/2012/david-mourao-ferreira-pequenos-poemas/
Friday, December 27
ca·bal
adjectivo de dois géneros
1. A que não falta nada.
2. Que é ou está como deve ser.
"cabal", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/cabal [consultado em 27-12-2013].
1. A que não falta nada.
2. Que é ou está como deve ser.
"cabal", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/cabal [consultado em 27-12-2013].
Monday, December 23
6-6
Não é preciso muito para se ser feliz.
Mas as voltas que o mundo dá continuam a surpreender-me, pior que as aquabolas. Querer tanto viver ali, nunca pensei. Contigo, já é mais natural.
Sunday, December 22
Seios
Sei os teus seios.
Sei-os de cor.
Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.
Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.
Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!
Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!
Por que não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p´la manhã?
Quantas vezes
Interrogaste, ao espelho, os seios?
Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!
Quantos seios ficaram por amar?
Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!
Seios decrépitos e no entanto belos
Como o que já viveu e fez viver!
Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em desesperadas, quarentonas lágrimas...
Seios fortes como os da Liberdade
- Delacroix - guiando o povo.
Seios que vão à escola p´ra de lá saírem
Direitinhos p´ra casa...
Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes folhos alheios!
Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...
O amor excessivo dum poeta:
«E hei-de mandar fazer um almanaque
Na pele encadernado do teu seio!» (Gomes Leal)
Retirar-me para uns seios que me esperam
Há tantos anos, fielmente, na província!
Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.
Botas, botifarras
Pisando tudo, até os seios
Em que o amor se exalta e robustece!
Seios adivinhados, entrevistos,
Jamais possuídos, sempre desejados!
«Oculta, pois, oculta esses objectos,
Altares onde fazem sacrifícios
Quantos os vêem com olhos indiscretos» (Abade de Jazente)
Raparigas dos limões a oferecerem
Fruta mais atrevida: inesperados seios...
Uma roda de velhos seios despeitados,
Rabujando,
A pretexto de chá...
Engolfo-me num seio até perder
Memória de quem sou...
Quantos seios devorou a guerra, quantos,
Depressa ou devagar, roubou à vida,
À alegria, ao amor e às gulosas
Bocas dos miúdos!
Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne
Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser.
Alexandre O'Neill
Sei-os de cor.
Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.
Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.
Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!
Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!
Por que não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p´la manhã?
Quantas vezes
Interrogaste, ao espelho, os seios?
Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!
Quantos seios ficaram por amar?
Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!
Seios decrépitos e no entanto belos
Como o que já viveu e fez viver!
Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em desesperadas, quarentonas lágrimas...
Seios fortes como os da Liberdade
- Delacroix - guiando o povo.
Seios que vão à escola p´ra de lá saírem
Direitinhos p´ra casa...
Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes folhos alheios!
Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...
O amor excessivo dum poeta:
«E hei-de mandar fazer um almanaque
Na pele encadernado do teu seio!» (Gomes Leal)
Retirar-me para uns seios que me esperam
Há tantos anos, fielmente, na província!
Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.
Botas, botifarras
Pisando tudo, até os seios
Em que o amor se exalta e robustece!
Seios adivinhados, entrevistos,
Jamais possuídos, sempre desejados!
«Oculta, pois, oculta esses objectos,
Altares onde fazem sacrifícios
Quantos os vêem com olhos indiscretos» (Abade de Jazente)
Raparigas dos limões a oferecerem
Fruta mais atrevida: inesperados seios...
Uma roda de velhos seios despeitados,
Rabujando,
A pretexto de chá...
Engolfo-me num seio até perder
Memória de quem sou...
Quantos seios devorou a guerra, quantos,
Depressa ou devagar, roubou à vida,
À alegria, ao amor e às gulosas
Bocas dos miúdos!
Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne
Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser.
Alexandre O'Neill
Saturday, December 21
tudo começou com o amor
Ontem no metro escrevi uma mensagem que não cheguei a enviar. Havia duas razões: a primeira, porque me parecia ingénuo partilhar tão depressa uma ideia forte, mas banal. A segunda, porque é preciso que uma pessoa aprenda a fazer uso dos seus pensamentos, sem precisar do outro para lhes garantir a carne. Às vezes uma pessoa tem medo de perder o que pensa, e por isso fala. Acontece que eu escrevo muitas mensagens pensando numa pessoa e depois decido enviar para outra ou não envio para nenhuma.
Tudo começou com o amor mas quando dei por mim já era a vida toda. Pensava no que pode significar um homem numa jangada - um homem que não sabe nadar. Da terra, o mar está sempre flat. Não há globo em quarto de criança onde as ondas se levantem, não caem tempestades nos mapas. Então: um homem atira-se ao mar e sente tudo, cada onda, cada brisa, cada pingo de sal, cada mudança ligeira. Não há nada no mar que não seja provisório. Lá, a vista é sempre curta. Por detrás do horizonte há um novo horizonte, ao qual se segue ainda o horizonte. O sol, no Oriente, nasce a Oriente do Oriente?
Ninguém que morrer nas águas chocas dos fiordes, ou ser sereia em terra, ou marinheiro em Londres. Queremos todos chegar a Banguecoque. É aquela história do navegar é preciso, estás a ver? E, na verdade, ninguém sabe nadar. Era isso que explicávamos ao J. quando ele nos pedia para o ensinarmos a andar de skate: estás a ver esse dedo arranhado? Tens que ter isso muitas vezes para aprender, não há outra forma. E como é que gente tão sábia quanto nós ainda esperneia tanto quando pisa uma agulha, esfola o orgulho ou morde a língua no verbo errado? Dei então por mim a elaborar uma teoria.
Publicada por Catarina
Wednesday, December 18
Não vale nada mas
E afinal na tal balança tão confusa ela "até podia ser antes um canário", porque o que interessava, o que interessa, não era ela, nem ele, não é ninguém em especial, é esta vontade visceral de algo mais que nos impele.
Somamos isto ao facto de, para magoar, ter de haver alguma semelhança entre a faca e a vítima (o que só se consegue com alguém x% parecido, mas isso resulta nos defeitos amados a surgir em catadupa hiperbólica).
E está tudo explicado.
http://www.youtube.com/watch?v=GaQ0fNcXrPk
"Porque eu estou com ela
Sou dela, sem ela
Não sou!
Porque eu preciso dela
Só dela, com ela
Eu vou!"
PS: Cê é tão foda, Nandinho.
Tuesday, December 17
Sunday, December 15
Oh fiera independiente
de la casa, arrogante
vestigio de la noche,
perezoso, gimnástico
y ajeno,
profundísimo gato,
policía secreta
de las habitaciones,
insignia
de un
desaparecido terciopelo,
seguramente no hay
enigma
en tu manera,
tal vez no eres misterio,
todo el mundo te sabe y perteneces
al habitante menos misterioso,
tal vez todos lo creen,
todos se creen dueños,
propietarios, tíos
de gatos, compañeros,
colegas,
discípulos o amigos
de su gato.
Pablo Neruda
Saturday, December 14
Tuesday, December 10
Monday, December 9
"Realpolitik (from German: real "realistic", "practical", or "actual"; and politik "politics"(...) refers to politics or diplomacy based primarily on power and on practical and material factors and considerations, rather than explicit ideological notions or moral or ethical premises."
http://en.wikipedia.org/wiki/Realpolitik
Saturday, December 7
Friday, December 6
Até já, Madiba.
INVICTUS
Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.
Beyond this place of wrath and tears
Looms but the horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.
It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.
William Hernest Henley (1849-1903)
Advogado, lutador, político, foste homem e erraste. Admiro-te muito por nunca teres deixado de tentar ser melhor.
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