Friday, October 31
Defeito(s)
"(...) Sempre que um assunto é altamente controverso (...), não é de esperar que se diga a verdade. Apenas se pode demonstrar como se atingiu a opinião que se pretende defender. Apenas se pode conferir à audiência a oportunidade de tirar as suas próprias conclusões pessoais, à medida que observar as limitações, os preconceitos e idiosincrasias do orador."
Um quarto que seja seu, Virginia Woolf
Sunday, October 26
Gatos de Lisboa
Os gatos de Lisboa
são altos, esguios
bem falantes.
Sabem quase tudo
de história e
um pouco de geografia.
De noite caçam gatas
e de dia companhia
entre o lixo da cidade.
Não são assim tão pardos
como dizem as histórias.
Pelo contrário, andam
engravatadinhos, ar galante e
de quem não parte uma unha.
Se lhes falarem em
sardinhas levantam
altivos os bigodes -
não são desses gatos
farruscos aos pés
das varinas. Têm classe!
Mas mostrem-lhes um
banco de jardim ao sol.
E miau.
1 Outubro 2008
Saturday, October 25
The invisible hand
The invisible hand is a metaphor coined by the economist Adam Smith. Once in The Wealth of Nations and other writings, Smith demonstrated that, in a free market, an individual pursuing his own self-interest tends to also promote the good of his community as a whole through a principle that he called “the invisible hand”. He argued that each individual maximizing revenue for himself maximizes the total revenue of society as a whole, as this is identical with the sum total of individual revenues.
Saturday, October 18
Friday, October 17
Casa
Houve um tempo
em que a minha única companhia
era o silêncio do mato
crescendo
no lote vago.
Um tempo longo
onde as horas pareciam dias
e esses
anos.
Em que eu chegava à noite
e todas as coisas estavam
como eu as deixara
pela manhã.
Houve um tempo
excessivamente longo
em que eu confundia
isolamento com solidão amor
com perdão.
O tempo passou
e trouxe a novidade
de dormir e acordar
ao seu lado.
De chegar em casa
e encontrar as roupas dobradas
as plantas molhadas
e o aquário limpo.
Agora já não é possível
ver o peixe o lote aquelas fotos
e até a felicidade de Alice e Pedro
sem as cores do seu sorriso.
Adair Carvalhais Júnior, Desencontrados Ventos
em que a minha única companhia
era o silêncio do mato
crescendo
no lote vago.
Um tempo longo
onde as horas pareciam dias
e esses
anos.
Em que eu chegava à noite
e todas as coisas estavam
como eu as deixara
pela manhã.
Houve um tempo
excessivamente longo
em que eu confundia
isolamento com solidão amor
com perdão.
O tempo passou
e trouxe a novidade
de dormir e acordar
ao seu lado.
De chegar em casa
e encontrar as roupas dobradas
as plantas molhadas
e o aquário limpo.
Agora já não é possível
ver o peixe o lote aquelas fotos
e até a felicidade de Alice e Pedro
sem as cores do seu sorriso.
Adair Carvalhais Júnior, Desencontrados Ventos
Sunday, October 12
O outro lado
Como serão as coisas quando não estamos a olhar para elas? Esta pergunta, que cada dia me vem parecendo menos disparatada, fi-la eu muitas vezes em criança, mas só a fazia a mim próprio, não a pais nem professores porque adivinhava que eles sorririam da minha ingenuidade (ou da minha estupidez, segundo alguma opinião mais radical) e me dariam a única resposta que nunca me poderia convencer: “As coisas, quando não olhamos para elas, são iguais ao que parecem quando não estamos a olhar”. Sempre achei que as coisas, quando estavam sozinhas, eram outras coisas. Mais tarde, quando já havia entrado naquele período da adolescência que se caracteriza pela desdenhosa presunção com que julga a infância donde proveio, acreditei ter a resposta definitiva à inquietação metafísica que atormentara os meus tenros anos: pensei que se regulasse uma máquina fotográfica de modo a que ela disparasse automaticamente numa habitação em que não houvesse quaisquer presenças humanas, conseguiria apanhar as coisas desprevenidas, e desta maneira ficar a conhecer o aspecto real que têm. Esqueci-me de que as coisas são mais espertas do que parecem e não se deixam enganar com essa facilidade: elas sabem muito bem que no interior de cada máquina fotográfica há um olho humano escondido… Além disso, ainda que o aparelho, por astúcia, tivesse podido captar a imagem frontal de uma coisa, sempre o outro lado dela ficaria fora do alcance do sistema óptico, mecânico, químico ou digital do registo fotográfico. Aquele lado oculto para onde, no derradeiro instante, ironicamente, a coisa fotografada teria feito passar a sua face secreta, essa irmã gémea da escuridão. Quando numa habitação imersa em total obscuridade acendemos uma luz, a escuridão desaparece. Então não é raro perguntar-nos: “Para onde foi ela?” E a resposta só pode ser uma: “Não foi para nenhum lugar, a escuridão é simplesmente o outro lado da luz, a sua face secreta”. Foi pena que não mo tivessem dito antes, quando eu era criança. Hoje saberia tudo sobre a escuridão e a luz, sobre a luz e a escuridão.
José Saramago
Légende
Deux amants sont devenus des arbres
pour avoir oublié le temps
Leurs pieds ont poussé dans la terre
Leurs bras sont devenus des branches
Toutes ces graines qui s'envolent
Ce sont leurs pensées emmêlées
La pluie ni le vent ni le gel
Ne pourront pas les séparer
Ils ne forment qu'un seul tronc
Dur et vené comme du marbre
Et sur leurs bouches réunies
le chèvrefeuille à fait son nid.
Marcel Béalu
a arte do bom e do justo
"Ut eleganter Celsus definit. Jus est ars boni et aequi"
aprox. séc.III a.C.
em "O Caleidoscópio do Direito", de António M. Hespanha
Saturday, October 4
El parque de Sceaux - Nicolas de Stael
Thursday, October 2
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