Antes, ler um livro de 200 ou 300 páginas era uma coisa natural, que se concretizava rápido e a que por isso eu nem sempre dava muito valor. Preocupavam-me os números redondos, a estimativa final do mês e do ano. Agora vejo pela primeira vez as palavras struggling and dragging na leitura, e não é porque esta seja de má qualidade; é que a meia hora diária de transportes públicos não é suficiente, sujeita aos imprevistos do cansaço, das dores de cabeça e dos assuntos urgentes por tratar nos dois telemóveis, mais o tempo de atenção real aos que nos rodeiam.
Agora que um livro de 500 páginas é um empreendimento mal me atrevo a olhar para o Dune, prenda amaldiçoada tão cheia de contradições. E a saudade das leituras calmas, sem significantes profundos nem estudos de tema, aumenta.
Principalmente as saudades da poesia. Ah, a poesia, tão distante do mundo do escritório sem horário.
Mas, como vi escrito no facebook, "(...)
ir visitar o elefante salomão neste dia é, como talvez se venha a dizer
no futuro, um acto poético, Que é um acto poético, perguntou o rei, Não
se sabe, meu senhor, só damos por ele quando aconteceu (...)" - Saramago, in A viagem do elefante. E o Tonino, claro, sempre a voz rouca do velho poeta falando da poesia à chuva.
Gosto de pensar que também há poesia num brilhante passe de DotA.