"Uma outra razão pela qual as ciências sobre o homem e a sociedade parecem ser mais "moles" - ou seja, menos rigorosas - é que, aparentemente, os que se dedicam a estas ciências estão mais habituados a pensar o seu saber de uma forma mais rica e colorida, menos a "preto e branco". Ou seja, estão habituados - pela própria natureza do seu trabalho intelectual - à ideia de que o que é verdade aqui "pode não o ser para lá dos Pirinéus" (parafraseado Montaigne (...)). Felizmente que assim é. Se as ciências humanas deixarem de se assumir como moles, o risco que se correria era o da arrogância "científica": o de se pretender que o justo, o belo, o útil, o bom, podiam ser objecto de uma prova universal, com régua e esquadro, cruzando as fronteiras das culturas e das sensibilidades (...)"
António M. Hespanha, in O Caleidoscópio do Direito
Thursday, May 28
Tuesday, May 26
Hoje ouvi a conversa de duas senhoras no balneário do ginásio. Não costumo prestar atenção, não o fiz intencionalmente, mas valeu a pena ouvir, pensei no final. Contava a mais velha o acidente que o marido tinha tido na Praça de Espanha, "uma coisa horrível", atravessado na faixa oposta por culpa de outro veículo, que fugiu e nunca foi identificado. O carro ficou desfeito, e desde então o marido tem receio de conduzir. "Tenho uma amiga que nunca mais foi capaz de conduzir depois de se ter despistado sozinha", disse a senhora mais nova. E mais velha retorquiu: "E sabe o que é mais engraçado? O lugar ao lado do condutor ficou completamente destruído. Um polícia disse-me depois no hospital que se eu lá tivesse estado teria morrido de certeza." A senhora mais nova ficou brevemente silenciosa. Eu já não conseguia deixar de ouvir, queria intervir, dar a minha opinião, e não sabia como. "-Curiosamente nesse dia eu não tinha querido ir porque me sentia cansada."
"-Há coisas..."
"-Pois há. Ainda dizem que não há Deus.
Há Deus, há."
"-Há coisas..."
"-Pois há. Ainda dizem que não há Deus.
Há Deus, há."
Monday, May 25
Balduin
Balduin passava os dias escondido debaixo da cama. Se alguém lhe pedia explicações pelo seu estranho comportamento, a criança limitava-se a esboçar um fraco sorriso. Balduin dormia debaixo da cama. Balduin lia debaixo da cama. Balduin vivia debaixo da cama.
Um dia, quando a cama caiu, Balduin morreu, como se fosse um gafanhoto debaixo de um sapato.
Paulo Rodrigues Ferreira, in A Prisão do Ético, 2009
Achado no Bibliotecário de Babel
Um dia, quando a cama caiu, Balduin morreu, como se fosse um gafanhoto debaixo de um sapato.
Paulo Rodrigues Ferreira, in A Prisão do Ético, 2009
Achado no Bibliotecário de Babel
Jeux d'enfants
Invento-te de algodão doce
e de contas coloridas como
o arco-irís para não ter
de te aceitar como és
(bom e mau também para
balançar senão caías)
porque estou habituada a
ouvir que as coisas perfeitas
são efeméras
- e não aceito que possas
ser uma borboleta porque
quero que vivas para
sempre no meu peito.
04-05-2009
e de contas coloridas como
o arco-irís para não ter
de te aceitar como és
(bom e mau também para
balançar senão caías)
porque estou habituada a
ouvir que as coisas perfeitas
são efeméras
- e não aceito que possas
ser uma borboleta porque
quero que vivas para
sempre no meu peito.
04-05-2009
Thursday, May 21
Wednesday, May 20
Sunday, May 17
Não sou paciente
Não sou paciente eu só finjo
que tenho paciência.
Aprendi a abrandar marés contando lentas
inspirações expirações alternadas completas,
aprendi a dormir com a chuva a lavar os telhados.
Mas em dias
como o de hoje era capaz
de te arrancar os olhos e fazer com eles dois anéis
para usar como punhais
entalados no cinto da saia.
Soledade Santos, Nocturno com Gatos
que tenho paciência.
Aprendi a abrandar marés contando lentas
inspirações expirações alternadas completas,
aprendi a dormir com a chuva a lavar os telhados.
Mas em dias
como o de hoje era capaz
de te arrancar os olhos e fazer com eles dois anéis
para usar como punhais
entalados no cinto da saia.
Soledade Santos, Nocturno com Gatos
Wednesday, May 13
Saturday, May 2
24
O sonho - Sebastião da Gama
Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos,
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e do que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos,
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e do que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.
Friday, May 1
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