Saturday, June 30

Sway


Dançar é partilhar o espaço pessoal com alguém. Não é de todo fácil, mas acontece melhor quanto melhor se conhece a pessoa com quem o estamos a partilhar, ou quanta mais intimidade temos, ou quanto mais hábito e experiência, ou tudo junto. Não é preciso música para dançar, nem sequer é preciso conhecer os passos. É preciso ritmo. Querer, desejo, liberdade. Um par. Há quem diga que se dança tanto melhor quanto mais se consegue desenhar em gestos a vontade de estar nos braços da outra pessoa. Certo é que dançamos todos os dias, até com o padeiro. A vida é o estilo de dança mais difícil de todos.

Che


Porque sou jovem, e os jovens pensam que vão mudar o mundo...


"Toda a nossa acção é um grito de guerra (...) Em qualquer lugar que nos surpreenda a morte, bem vinda seja, sempre que esse nosso grito de guerra tenha chegado a um ouvido receptivo e outra mão se estenda para empunhar as nossas armas."

Friday, June 22

"A luta entre o pouco que somos e o muito que quereríamos alcançar, "sonhos de voar" (...) mas a palavra vertigem é a que melhor resume o susto implícito da loucura, embora disfarçado, um medo que se esconde para que os outros não se assustem."
in A Rainha das Neves de Carmen M. Gaite

I surrender, dear

"É como o processo de nascimento de dois corpos celestes que órbitam um com o outro enquanto deambulam pelo universo. A coincidência - ou não - inicial passa a dar lugar a um fenómeno natural. Mesmo acabando as aparentes coincidências o processo perdura nos corpos e na viagem. No tempo e no espaço."

Sunday, June 17

Quem és tu?
Perturbas-me, interferes.
Ainda não estou pronta para me dar.
Provocas-me.
Não te quero magoar, mas sinto-te.
Continuo a olhar para trás
Se me chamarem respondo a outro nome
Provoca-me.
Leva-me contigo.
Vou deixar-me e sigo-te.
Quero encontrar-te.

There's so much about me you don't know yet!
I'm afraid you'll run away.
Stay.
Take me to that place where words aren't necessary.

Saturday, June 16


"Quando chove o meu coração não é meu. Gostaria de não ter coração - que outra pessoa qualquer, que gostasse de mim o tivesse." Miguel Esteves Cardoso

À l'ombre de la lune

À l'ombre de la lune, comble d'infortune, j'ai tissé le fil qui nous défait
dans les langueurs marines des nareés salines, ja'i gâche le grand amour, le vrai
car l'unique inoubliable amour est si friable, il se délit ao vent
rien ne sera jamais plus comme avant, comme avant...

À l'ombre de la lune, je comble mes lacunes, je bats la campagne à grand regret
dans les vapeurs soudaines de ces soireés mondaines, j'ai gachê le grand amour, le vrai,
car l'unique inoubliable amour est si friable, il se délit ao vent
rien se sera jamais plus comme avant...

Françoise Hardy

Sunday, June 10

Roland Garros


As férias começaram e já há tempo para seguir umas partidas de ténis. E para ver os melhores jogadores ganharem.
Este é para todos aqueles que duvidaram.

Tuesday, June 5

Rondel de L'Adieu

Partir, c'est mourir un peu,
C'est mourir à ce qu'on aime:
On laisse un peu de soi-même
En toute heure et dans tout lieu.

C'est toujours le deuil d'un voeu,
Le dernier vers d'un poème:
Partir c'est mourir un peu.

Et l'on part, et c'est un jeu,
Et jusqu'à l'adieu suprême
C'est son âme que l'on sème
Que l'on sème à chaque adieu:
Partir, c'est mourir un peu.

Edmond Haraucourt

Thursday, May 31

O Beijo


"La méthode utilisée par Rodin pour faire ses sculptures de grande taille consistait à employer des sculpteurs qui taillaient à l'échelle un modèle plus petit dans un matériau plus facile à tailler que le marbre et une fois terminées, Rodin donnait la dernière touche lui-même."

Fly me to the moon
Let me sing among those stars
Let me see what spring is like
On jupiter and mars
In other words, hold my hand
In other words, baby kiss me
Fill my heart with song
Let me sing for ever more
You are all I long for
All I worship and adore
In other words, please be true
In other words, I love you

Sinatra

la recta es la expressión del infinito




"Duas linhas paralelas encontram-se no infinito"
Euclides

Wednesday, May 23

Quem de nós dois

Quero poder voar, quero conseguir sonhar com outros caminhos. Outros destinos, ao virar de cada esquina. Porque ficar presa a cadeias que são de fumo? Se as fases da lua dependem do brilho do sol estão erradas, e enganam-se a cada noite de luar que passa. Ser opção não se tolera. Pelo menos não se devia. Estou farta de usos e abusos. E de não passar incolúme, sabendo o que me espera a seguir e dando a volta por outro lado. Que não passe por ti. Porquê que todos os pedaços me levam , me trazem para este beco? Outra e outra vez. Até aprender a esquecer. E a lembrar só o que é bom de lembrar. para que os gestos não sejam rudes, e os olhares desviados. Ou para serem em si mesmos, por si mesmos, somente.

A vida podia ser linear. Perdia a graça, deixava de viver, mas tinhamos as respostas. Não havia sequer perguntas. Linear. Para não haverem áreas cinzentas, e o amigo ser amigo simplesmente. Pra ouvir o que tem de ser ouvido, e nem se perceber o que não faz diferença. -Sou incapaz de arder- Ser os sentimentos à flor da pele. Lágrimas pela paixão defunta. Sem amarguras recalcadas. Como alguns, transparente. -Não és um homem. Nunca serás. Deixa-te de merdas. Não és para mim- Se não são capazes de reconhecer uma falta, ausência condensada que se transforma em saudade, não sentem o momento em que se formam nuvens na atmosfera -"Tirar as papoilas que estão no meio do trigo"- Parte da natureza, é o mesmo que não me reconhecer na inclinação do vento. Não se ama quem não reconhece a mesma canção. O cheiro, o toque, a marca tão profunda do andar, os passos deixados na areia. -É tão mau fechar a alma. Fechá-la, repentinamente insensivel ao calor de uma presença. Sabes que a culpa é tua- A vontade de deixar a onda afastar-se, chorando apenas a ua ausência. Ou quem sabe saudade. A saudade de algo mais antigo, anterior a ti; Um querer viver sem questionar isso. Depois, quem sabe o que virá. Quem derá saber!... Perder a fala num desespero de manhã ansiado. -Suspira. Nem mesmo o teu suspiro quebra a madrugada- The eternal sunshine of the spotless mind. palavras dolorosas mudam o mundo, por isso toma cuidado com o que dizes. para que nunca venha um golpe que não esperas. -Vinga-te. Vinga-te no tempo que perdemos e que nunca vamos ter. Vinga-te na minha imagem. Ela não se pode defender- Se pararmos o curso do rio, seremos a espuma efémera? Porque ela é-o sempre. E o seu amor não dói.

(Março/2007)

Saturday, May 19

Stain Boy


"Of all the super heroes,
the strangest one by far,
doesn't have a special power,
or drive a fancy car.
Next to Superman and batman,
I guess he must seem tame.
But to me he is quite special,
and Stain Boy is his name.
He can't fly around tall buildings,
or outrun a speeding train,
the only talent he seems to have
is to leave a nasty stain.
Sometimes I know it bothers him,
that he can't run or swim or fly,
and because of this one ability,
his dry cleaning bill is sky-high."


Tim Burton

My Interpretation

"We are, with no shadow of doubt reflections of the eyes that look upon us."

Vivemos paralelamente entre dois mundos como estranhos
e só a invenção pode constituir a fábula
de uma unidade que será sempre incerta ou futura ou improvável

António Ramos Rosa

-Que te parece. Se ainda por cima é só uma cena, aquela, deveras nó-na-garganta, aperto-no-peito e arrepio pela espinha!
- Tens a certeza de que te queres ir embora?...

A alma é um vento. Pode cobrir mar e terra. Mas não é da terra nem do mar. A alma é um vento. E nós somos um agitar de folha, nos braços da ventania.
Mia Couto

"Recordam-me os tempos em que estavamos naquelas ameias de castelos nórdicos e esperávamos pelo fim da guerra comemorando ao som de belas melodias... Comemorando o quê? Não sei, mas éramos princesas..." Mi ma bo.

Dói tanto crescer.

Sunday, May 13

"Existir é isso: beber-se a si próprio sem ter sede"

Jean Paul-Sartre in A idade da razão
Perdi-me dentro de mim.
Já não sei o que sinto.
Fujo, escondo meu olhar
E à minha alma minto.

Passo vazia pela madrugada
Vejo pássaros de mil cores
Mas tudo que ouço à minha volta
É o rosário de minhas dores.

Oh, quem me dera ser ave
Que voasse livre e sem destino!
Ou fera selvagem que pudesse
Soltar seu grito felino!

Poderia também ter nascido
Como doce amor-perfeito
Só para que me prendesses
E apertasses em teu peito.
(28-03-2006)

Saturday, May 12

Portas do Sol



Santarém é um livro de pedra em que a mais interessante e mais poética parte das nossas crónicas está escrita.
Almeida Garrett

A Une Terre D'Aube

"Apaisé maintenant, te souviens-tu
D'un temps où nous luttions à grandes armes,
Que restait-il
Dans nos coeurs qu'un désir de nous perdre, infini?"
Yves Bonnefoy

Friday, May 11

Acordar - Álvaro de Campos


"Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras,
Acordar da Rua do Ouro,
Acordar do Rossio, às portas dos cafés,
Acordar
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme,
Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono.
Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar,
Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo.
À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se
Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma,
E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo.

Uma espiritualidade feita com a nossa própria carne,
Um alívio de viver de que o nosso corpo partilha,
Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode acontecer de bom,
São os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada,
Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes,
Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vão leste-oeste,
Seja

A mulher que chora baixinho
Entre o ruído da multidão em vivas...
O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito,
Cheio de individualidade para quem repara...
O arcanjo isolado, escultura numa catedral,
Siringe fugindo aos braços estendidos de Pã,
Tudo isto tende para o mesmo centro,
Busca encontrar-se e fundir-se
Na minha alma.

Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo
Do que as que vi ou verei.
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.