
Monday, October 4
viii
somewhere i have never travelled,gladly beyond
any experience,your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near
your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully,mysteriously)her first rose
or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully ,suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;
nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility:whose texture
compels me with the color of its countries,
rendering death and forever with each breathing
(i do not know what it is about you that closes
and opens;only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody,not even the rain,has such small hands
e. e. cummings
any experience,your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near
your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully,mysteriously)her first rose
or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully ,suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;
nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility:whose texture
compels me with the color of its countries,
rendering death and forever with each breathing
(i do not know what it is about you that closes
and opens;only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody,not even the rain,has such small hands
e. e. cummings
Portrait ou o martírio da leitura

O pioneiro do stream of consciousness, grande utilizador de técnicas narrativas modernas, o que quiserem. Mas se a biblioteca de babel só contivesse exemplares de Joyce, estávamos bem tramados.
Saturday, September 25
Sunday, September 19
Sunday, September 12
Duas cidades, Paris
(…)
há uma altura, creio
um dia em que se acorda
e se percebe tudo:
a traição do acaso
que dispersa a folhagem do jardim,
a solidão inacessível dos desertos,
a ferocidade da natureza
em certas estações,
essa espécie de errância
que pertence ao silêncio
mais que a qualquer palavra
Baldios, José Tolentino Mendonça na Assírio e Alvim
há uma altura, creio
um dia em que se acorda
e se percebe tudo:
a traição do acaso
que dispersa a folhagem do jardim,
a solidão inacessível dos desertos,
a ferocidade da natureza
em certas estações,
essa espécie de errância
que pertence ao silêncio
mais que a qualquer palavra
Baldios, José Tolentino Mendonça na Assírio e Alvim
Wednesday, September 8
Uma ideia da Índia, de Alberto Moravia

Uma ideia da Índia é um livro acre, de sabor picante e odor a caril e a sândalo, que nos chega quente e envolvente como o clima indiano. Como objecto em si mesmo, tem um valor irrefutável: é fruto de uma das belíssimas edições da Tinta da China, editora que faz questão de adoptar uma política diferente da de muitas outras, assumindo frontalmente que um livro também deve ser esteticamente agradável por fora. Este livro, como os outros da colecção, conta por isso com mapas na contracapa, escolha de cores e de caracteres irrepreensível e até um marcador — preto e sedoso — incorporado.
Moravia, por sua vez, é o descritor objectivo e indiferente, que fala das cidades e dos seus habitantes como se estes não tivessem tido contacto directo com ele, mas antes os visse através de um ecrã de vidro transparente, que o isola e o torna incorruptível. Não chego a perceber se gostou ou se, pelo contrário, não gostou, da Índia. Percebe-se que não está arrependido da viagem, mas não é possível saber se tal se deve a uma procura inata de saber e é uma mais-valia para a sua actividade profissional e enquanto homem ocidental, ou se se deve antes a uma verdadeira descoberta de um mundo exótico que o conquista. Esta forma de não revelar liminarmente as suas inclinações é ajudada pelo tom sóbrio que usa para descrever tudo o que o rodeia, ausente de considerações mais mundanas ou infundadas, e pela ausência, por vezes demasiado notória, de referências aos seus companheiros de viagens - Elsa Morante e Pier Paolo Pasolini - ou a peripécias mais triviais que em princípio lhes devem, de facto, ter acontecido. Como se, propositadamente, Moravia omitisse todos os pormenores que pudessem fazer o leitor suspeitar de qualquer parcialidade ou influência — ele esteve na Índia, mas não esteve, ele viu-a com os olhos da Europa (é impossível, mesmo que tente evitá-lo, não o fazer) mas não a viu com os olhos de europeu. Se a Índia é tal como ele a escreveu, não é possível dizer, até porque o fez em 1961 e quarenta e um anos depois é de esperar que as paisagens que atravessou já não sejam as mesmas. Mas a sua escrita é, sem sombra de dúvida, bela o suficiente para valer por si só, é densa e clara como poucas, e sozinha justifica, sem mais, que se leia este livro.
As opiniões que o autor julga mais ponderadas e objectivas, essas ele deixa transparecer ao longo de toda a narrativa: a maneira como os indianos encaram a religião (retratando “a natureza imediata e nua” na forma dos seus deuses que, ao envolver-se sexualmente, querem “encobrir o divino, cósmico e inefável desejo que (...) está na origem de todas as coisas"), a arte indiana (“o ódio ao vazio, a proliferação delirante dos ornamentos”), a figura do próprio primeiro ministro Nehru, a quem chama “o intelectual”. Na vertente mais sócio-política e económica da sua análise imperam as razões que Moravia aponta para a pobreza em que a Índia vive mergulhada — a rigidez ainda viva do sistema das castas, por exemplo — e a influência que os diversos povos colonizadores nela exerceram, especialmente os ingleses, que segundo Moravia estão intimamente ligados à história indiana, não tanto por um processo de colonização, mas principalmente por um de simbiose parcial. No final, ainda assim, o que nos irá impressionar mais neste livro será mesmo a beleza das palavras, cuidadosamente escolhidas, e uma curiosidade insaciável por um povo que nos é tão próximo e que, ao mesmo tempo, não podia estar mais distante de nós.
Camilo Pessanha (1867-1926)
além do suco
da papoila
a quem pedir contas
pelo atear da escrita?
Miguel-Manso, Santo Subito, p.27
Monday, September 6
Sunday, September 5
Raiz de Orvalho
Sou agora menos eu
e os sonhos
que sonhara ter
em outros leitos despertaram
Quem me dera acontecer
essa morte
de que não se morre
e para um outro fruto
me tentar seiva ascendendo
porque perdi a audácia
do meu próprio destino
soltei ânsia
do meu próprio delírio
e agora sinto
tudo o que os outros sentem
sofro do que eles não sofrem
anoiteço na sua lonjura
e vivendo na vida
que deles desertou
ofereço o mar
que em mim se abre
à viagem mil vezes adiada
De quando em quando
me perco
na procura a raiz do orvalho
e se de mim me desencontro
foi porque de todos os homens
se tornaram todas as coisas
como se todas elas fossem
o eco as mãos
a casa dos gestos
como se todas as coisas
me olhassem
com os olhos de todos os homens
Assim me debruço
na janela do poema
escolho a minha própria neblina
e permito-me ouvir
o leve respirar dos objectos
sepultados em silêncio
e eu invento o que escrevo
escrevendo para me inventar
e tudo me adormece
porque tudo desperta
a secreta voz da infância
Amam-me demasiado
as cosias de que me lembro
e eu entrego-me
como se me furtasse
à sonolenta carícia
desse corpo que faço nascer
dos versos
a que livremente me condeno
e os sonhos
que sonhara ter
em outros leitos despertaram
Quem me dera acontecer
essa morte
de que não se morre
e para um outro fruto
me tentar seiva ascendendo
porque perdi a audácia
do meu próprio destino
soltei ânsia
do meu próprio delírio
e agora sinto
tudo o que os outros sentem
sofro do que eles não sofrem
anoiteço na sua lonjura
e vivendo na vida
que deles desertou
ofereço o mar
que em mim se abre
à viagem mil vezes adiada
De quando em quando
me perco
na procura a raiz do orvalho
e se de mim me desencontro
foi porque de todos os homens
se tornaram todas as coisas
como se todas elas fossem
o eco as mãos
a casa dos gestos
como se todas as coisas
me olhassem
com os olhos de todos os homens
Assim me debruço
na janela do poema
escolho a minha própria neblina
e permito-me ouvir
o leve respirar dos objectos
sepultados em silêncio
e eu invento o que escrevo
escrevendo para me inventar
e tudo me adormece
porque tudo desperta
a secreta voz da infância
Amam-me demasiado
as cosias de que me lembro
e eu entrego-me
como se me furtasse
à sonolenta carícia
desse corpo que faço nascer
dos versos
a que livremente me condeno
Mia Couto, Raiz de orvalho e outros poemas
Friday, August 27
Consoantes átonas
Emudecer o afe (c)to português?
Amputar a consoante que anima
a vibração exa (c) ta
do abraço, a urgência
tá (c) til do beijo ? eu não nasci
nos Trópicos; preciso desta interna
consoante para iluminar a névoa
do meu di (c)to norte.
Inês Lourenço em Coisas que Nunca, &etc (2010)
Amputar a consoante que anima
a vibração exa (c) ta
do abraço, a urgência
tá (c) til do beijo ? eu não nasci
nos Trópicos; preciso desta interna
consoante para iluminar a névoa
do meu di (c)to norte.
Inês Lourenço em Coisas que Nunca, &etc (2010)
Enviado pelo Ao longe os barcos de flores
Marianne e o que se aprende no Quem quer ser milionário

Marianne est la figure allégorique de la République française. Sous l’apparence d’une femme coiffée d’un bonnet phrygien, Marianne incarne la République française et représente par là-même les valeurs républicaines françaises contenues dans la devise : « Liberté, Égalité, Fraternité ».
http://fr.wikipedia.org/wiki/Marianne
Saturday, August 14
Recomendações para as férias

- Leve seis ou sete livros, mesmo sabendo que naquela semana de praia só vai conseguir ler dois ou três;
- Ande, ande muito. Mas comece devagar, porque quando chegar a altura de fazer aqueles 5 kms (mais 5 de regresso) até à cascata mais próxima ou 2 kms carregado com a toalha/chapéu/comida/tralha vai sentir o corpo como nunca sentiu antes;
- Perca-se. Para poder ter uma verdadeira aventura quando regressar. Mas tome o cuidado de se perder em locais com bom sinal telefónico, levando consigo água, comida e telemóvel com saldo (para não estar perdido mais tempo do que o estritamente desejado).
- Coma gelados. Férias de verão sem gelados é o mesmo que o cristiano ronaldo sem futebol (ou seja, são muito pouco interessantes)
- Aproveite para tentar todas aquelas experiências malucas no seu cabelo que sempre quis fazer mas com as quais tem vergonha de surpreender os seus colegas de trabalho (é muito mais fácil chegar mudado dois meses depois da última vez que os viu do que dois dias);
- Perca todos os talões de compras, para não conseguir saber quanto é que realmente gastou nas suas férias "económicas"
- Esteja, em suma, mais activo do que em período escolar/de trabalho; "quem corre por gosto não cansa".
A carência
Eu não sei de pássaros,
não conheço a história do fogo.
Mas creio que a minha solidão deveria ter asas.
Alejandra Pizarnik
Tuesday, August 10
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