Sempre fui adepta da franqueza absoluta. Daquela que dói e fere algumas vezes, daquela que faz rir também, quando nos perguntam o que achamos do cachecol e respondemos simplesmente que é horrível. Nunca percebi porque é que algumas pessoas preferem falar do ausente, do que acabou de sair ou está mesmo a apenas alguns metros de distância (factor que adiciona o seu quê de adrenalina). Precisei mesmo de ajuda para entender o gozo; afinal é mais fácil falar de outrem e por favor que ele não esteja presente!, já imaginaram se por acaso tem razão e eu não, que chatice se estiver logo ali para me corrigir, assim ao menos temos o tempo que demoram as notícias a chegar (que nunca é muito, então agora com o evento da globalização), e a adulteração destas pelo volútel ouvido humano.
Para quê fazermos barulho, cenas públicas e outras vergonhas quando podemos conversar tranquilamente sobre vidas que desconhecemos mas onde estamos doidos por meter o bedelho, que é a única coisa que estamos sempre prontos a meter em todo o lado? ("Bedelho: s.m:tranqueta ou ferrolho de porta que se levanta por meio da aldrava; rapazelho; criançola; fedelho;pequeno trunfo, no jogo de cartas; Fig:meter o -: intrometer-se sem ser chamado." in Dicionário Priberam)
Para deixarmos de fingir que somos os guardiões da pureza dos outros.
Eu sou pela liberdade de se dizer uma palavra feia quando alguém se mete na nossa vida. E de a dizer à frente de quem lá se meteu.
Detesto mesquinhice.
(Com um beijo à Mad que definiu o conceito)
http://unifr.ch/ddp1/derechopenal/legislacion/pt/CPPortugal.pdf
Sunday, December 16
Monday, November 26
Ode à eternidade
"Si nous habitons un éclair, il est le coeur de l'éternel" René Char
Lado lunar de uma estrela ardida, sento-me nas arcadas.
Falo para as paredes para o tecto para o céu
Aquele que tu vês invertido numa lógica que escapa
Aos alcances humanos, prova irrefutável da tua divindade.
Como tudo o que não sou e que gostava de ser
Te falo e te imploro, responde, cala
E a medida do meu amor é não se medir
Por tempo, espaço ou outra convenção qualquer
Daquelas que eles inventaram para ser relativas.
Vejo-te usar a luz ao pulso, o meu coração à banda,
Ficam-te bem.
Quem me dera não ser este pensamento, esta idade,
Presa por candeias de fumo que mais não fazem
Senão perder-nos em nevoeiro.
Quando afinal.
Tu eu qual é a diferença
Se do teu peito ao meu a distância é nula,
Se os teus reflexos iluminam ou obscurem os meus sentidos
E o braço que levas ao chão é para me amparar a queda.
Maneira de Ser/Estar, Hora Momento,
Ensina-me!
Faz-me ver por onde errei até ti.
(Caminhos de que não me lembro.)
Porque os meus passos não foram certos como
Os teus nem o almejam ser,
Na palma da tua mão repousam todos os sonhos do mundo
E neles constróis esta mulher-criança.
Perdi muitas oportunidades, de ser quem era e de ser quem sou,
Fui muito o que esqueci e que talvez nunca tenha sido.
Ajuda-me a voltar a não ser o que não queira
E a encontrar o que afinal serei um dia, este ou outro qualquer
Em que me encontre contigo como agora.
Lado lunar de uma estrela ardida, sento-me nas arcadas.
Falo para as paredes para o tecto para o céu
Aquele que tu vês invertido numa lógica que escapa
Aos alcances humanos, prova irrefutável da tua divindade.
Como tudo o que não sou e que gostava de ser
Te falo e te imploro, responde, cala
E a medida do meu amor é não se medir
Por tempo, espaço ou outra convenção qualquer
Daquelas que eles inventaram para ser relativas.
Vejo-te usar a luz ao pulso, o meu coração à banda,
Ficam-te bem.
Quem me dera não ser este pensamento, esta idade,
Presa por candeias de fumo que mais não fazem
Senão perder-nos em nevoeiro.
Quando afinal.
Tu eu qual é a diferença
Se do teu peito ao meu a distância é nula,
Se os teus reflexos iluminam ou obscurem os meus sentidos
E o braço que levas ao chão é para me amparar a queda.
Maneira de Ser/Estar, Hora Momento,
Ensina-me!
Faz-me ver por onde errei até ti.
(Caminhos de que não me lembro.)
Porque os meus passos não foram certos como
Os teus nem o almejam ser,
Na palma da tua mão repousam todos os sonhos do mundo
E neles constróis esta mulher-criança.
Perdi muitas oportunidades, de ser quem era e de ser quem sou,
Fui muito o que esqueci e que talvez nunca tenha sido.
Ajuda-me a voltar a não ser o que não queira
E a encontrar o que afinal serei um dia, este ou outro qualquer
Em que me encontre contigo como agora.
Ambrósio, apetecia-me algo (para a minha mãe)

Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. (...)"
Excerto de Tabacaria, Álvaro de Campos
Monday, November 19
Ícaro
Thursday, November 15
Primeiros Exemplares II
Rua Sésamo
Às vezes
tenho quase a certeza
de que sou o protagonista
e não uma das outras marionetas
Às vezes
rio com a evidência
de que nunca passei de uma marioneta
com a mania do protagonismo.
Paulo Tavares, in Pêndulo
Monday, November 12
Monday, November 5
Definitely no
Do grego Ataraxia: «impassibilidade». Introduzido por Demócrito, e utilizado sobretudo pelos epicuristas e estóicos, o termo significa tranquilidade da alma - ausência de perturbação. Os estóicos identificam a ataraxia com a apatia, isto é, a serenidade intelectual, o domínio de si, o estado da alma que se tornou estranha às desordens das paixões e insensível à dor, rejeitando a procura da felicidade; já que as "coisas" não podem ser de outro modo, o mais sensato é acomodarmo-nos.
Os cépticos e os epicuristas procuram o mesmo através da ataraxia, atitude que, sem renunciar à amizade, à compaixão, ao prazer ou à dor, não permite a perda do equilíbrio espiritual. Epicuro entende que se chega à felicidade pelo prazer, mas, porque alguns prazeres se revelam nefastos, é necessáriofazer uma "triagem", rejeitando aqueles que não são naturais ou não são necessários à nossa paz: o prazer é, então, ausência de perturbações passionais da alma.
Os cépticos e os epicuristas procuram o mesmo através da ataraxia, atitude que, sem renunciar à amizade, à compaixão, ao prazer ou à dor, não permite a perda do equilíbrio espiritual. Epicuro entende que se chega à felicidade pelo prazer, mas, porque alguns prazeres se revelam nefastos, é necessáriofazer uma "triagem", rejeitando aqueles que não são naturais ou não são necessários à nossa paz: o prazer é, então, ausência de perturbações passionais da alma.
Thursday, November 1
Part I - Soirée
Um computador no colo. Uma porta aberta para uma infinidade de janelas manipuláveis. Flash. O som clicante de uma exploração abusiva. Uma tentativa de escrita. Bebedeiras psicológicas -Hoje não sei se estou cá, se estou lá- Sentimentos partilhados numa comunhão de dores corporais. Insultos. Apenas formas de usar as palavras como se usa o olhar para falar coisas que não se dizem. Estados de nebulosidade, de sombra. Leves ronronares, pesados risos. Papéis de chocolate deixados no sofá, nos bolsos do casaco. Velocidade, objectiva, focagem. Pedaços soltos de pedras e prisão de ventre. Hoje não é definitivamente dia para absolutismos, sejamos vagos e poéticos como Caeiro, pensar é não compreender, Tenho demasiado sono Faz frio Não confio em ti Dá-me o que de meu a mim pertence Ai que és sempre a mesma coisa Dá-me Agora fizeste-me lembrar alguém. Baladas sob o sol, sumo vermelho debaixo dos pés que o pisam porque a gente não passa do chão e ainda não aprendeu a voar como os pássaros. Vícios particulares, compreensões inexplicadas por sorrisos oblíquos. Os piratas também têm cemitério, deixa-me respirar do vale para a montanha esta liberdade campestre, água fria uma vela e um pedaço de bôla.
Escreve um livro.
Fontelo, 5 de Outubro de 2007
(Foto tirada a 6/10/07)
Wednesday, October 17
Paroles d'hirondelle et bouvreuil
Ses mains sont des fleurs d'hiver
Qui me survolent jusqu'au printemps.
Je ne savais pas qu'il était possible
D'avoir des doigts comme les siens,
Des bras qui m'embrassent avec tendresse,
Un regard qui me fait brûler
Dans une nuit de tous les sens.
Il est ma fin, ma vie, mon destin,
Son corps entière me fait rêver.
Tout ce que je peux espérer de lui
C'est qu'il ne me laisse pas tomber.
Qui me survolent jusqu'au printemps.
Je ne savais pas qu'il était possible
D'avoir des doigts comme les siens,
Des bras qui m'embrassent avec tendresse,
Un regard qui me fait brûler
Dans une nuit de tous les sens.
Il est ma fin, ma vie, mon destin,
Son corps entière me fait rêver.
Tout ce que je peux espérer de lui
C'est qu'il ne me laisse pas tomber.
Tuesday, October 9
Parting (the art of saying goodbye)
He. Dear, I must be gone
While night Shuts the eyes
Of the household spies;
That song announces dawn.
She. No, night's bird and love's
Bids all true lovers rest,
While his loud song reproves
The murderous stealth of day.
He. Daylight already flies
From mountain crest to crest
She. That light is from the moon.
He. That bird...
She. Let him sing on,I offer to love's play
My dark declivities
Yeats, in A woman young and old
While night Shuts the eyes
Of the household spies;
That song announces dawn.
She. No, night's bird and love's
Bids all true lovers rest,
While his loud song reproves
The murderous stealth of day.
He. Daylight already flies
From mountain crest to crest
She. That light is from the moon.
He. That bird...
She. Let him sing on,I offer to love's play
My dark declivities
Yeats, in A woman young and old
Wednesday, September 26
Diálogos
"(...) Debalde lhe lembrava que os astros influem no destino de cada um, mas nada decidem, e que tão forte, tão misterioso como eles, regulando a nossa vida, obedecebdo a leis mais complicadas do que as nossas, é essoutro astro vermelho que palpita no mais escuro do corpo, suspenso da sua gaiola feita de ossos e carnes."
Marguerite Yourcenar, A Obra ao Negro
Instinto e amor.
"Homem livre é aquele que quer sem a arrogância da arbitrariedade. Crê na realidade, quer dizer, no elo real que une a dualidade real do eu e do Tu. Crê no Destino e crê que o Destino precisa dele... Porque aquilo que deve acontecer não acontecerá se ele não estiver decidido a querer o que é capaz de querer."
Martin Buber, Eu e Tu
Marguerite Yourcenar, A Obra ao Negro
Instinto e amor.
"Homem livre é aquele que quer sem a arrogância da arbitrariedade. Crê na realidade, quer dizer, no elo real que une a dualidade real do eu e do Tu. Crê no Destino e crê que o Destino precisa dele... Porque aquilo que deve acontecer não acontecerá se ele não estiver decidido a querer o que é capaz de querer."
Martin Buber, Eu e Tu
Monday, September 24
As Palavras Interditas
Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.
Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.
Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela as
primeiras luzes das colinas.
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras.
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
Eugénio de Andrade
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.
Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.
Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela as
primeiras luzes das colinas.
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras.
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
Eugénio de Andrade
Monday, September 3
Gato que brincas na rua
Friday, August 31
De um castelo para a mesa
Amo-te no alto da tua ausência, por
Palavras que não são minhas, mas
Escritas antes de mim para te descrever.
Procuro o teu cheiro por entre as
Páginas que compõem o poema e encontro-o
Na curva das coisas que deixámos, talvez.
Para trás esquecidas de enamoramento.
E será ilusão do anoitecer, aquele
Momento onde tudo parece feito
Ser encontrado outra vez, quando
Ninguém nunca soube o que procurava.
E é nesse momento de revelação numa
Noite cheia de sol e de sussurros
Que vejo a transparência da tua imagem desaparecer
Por detrás dum gesto esboçado no meu corpo.
23 Agosto 2007
Palavras que não são minhas, mas
Escritas antes de mim para te descrever.
Procuro o teu cheiro por entre as
Páginas que compõem o poema e encontro-o
Na curva das coisas que deixámos, talvez.
Para trás esquecidas de enamoramento.
E será ilusão do anoitecer, aquele
Momento onde tudo parece feito
Ser encontrado outra vez, quando
Ninguém nunca soube o que procurava.
E é nesse momento de revelação numa
Noite cheia de sol e de sussurros
Que vejo a transparência da tua imagem desaparecer
Por detrás dum gesto esboçado no meu corpo.
23 Agosto 2007
Friday, August 10
Guantanamera
Ser imigrante é não ser de lá nem de cá. É falar um pouco de duas línguas, misturá-las ao sabor das palavras e esquecer como se costumáva escrever "a minha terra", mas continuar orgulhoso dela. É uma infância de trabalho prematuro, é não saber por que equipa gritar no calor do mundial. Que prendas levar para a família das férias e dos feríados. É formar uma nova família que não queremos deixar no momento de voltar para casa.
Imigrar é uma necessidade involuntária ou prazentosa que dá origem a ainda mais amor ou a desprendimento. Arriscamo-nos a nunca regressar, mesmo que não tenhamos verdadeiramente partido.
21-07
Imigrar é uma necessidade involuntária ou prazentosa que dá origem a ainda mais amor ou a desprendimento. Arriscamo-nos a nunca regressar, mesmo que não tenhamos verdadeiramente partido.
21-07
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